Eu assistia a tudo da última fileira, com o estômago revirado. A hipocrisia dela era nojenta.
Mais tarde, naquele dia, a senhora Martins me parou no corredor. Ela ainda não tinha desistido de mim.
"Maria, eu sei que você está passando por algo," ela disse, com a voz suave. "Eu peguei a prova da Sofia para você dar uma olhada. Talvez ver o método dela possa te inspirar a voltar a estudar."
Ela me entregou uma cópia da prova de Sofia. Meu coração acelerou. Era exatamente o que eu precisava.
Eu a levei para um canto tranquilo da biblioteca e comecei a analisar. As respostas de múltipla escolha estavam todas corretas, claro. Mas o que me interessava eram as questões discursivas, especialmente a última, um problema complexo de física que valia muitos pontos.
Então, eu vi.
E meu sangue gelou.
A resolução que Sofia escreveu na prova... era bizarra. O caminho que ela usou para chegar à resposta era ilógico, convoluto, com passos que não faziam o menor sentido do ponto de vista da física. Era um método que ninguém em sã consciência usaria.
Mas era, passo a passo, exatamente o método errado que eu tinha formulado na minha cabeça durante a prova.
Naquele dia, eu tinha pensado nesse caminho tortuoso, percebido que estava errado, e o descartado mentalmente antes de decidir deixar a questão em branco. Eu não escrevi uma única palavra. Tudo aconteceu apenas dentro da minha mente.
E ainda assim, ali estava, no papel, com a caligrafia de Sofia. A única diferença era que, no final daquela sequência de passos sem sentido, ela magicamente chegou ao resultado correto.
Era impossível.
Não era apenas cola. Era algo muito mais sinistro. Ela não copiou minha prova.
Ela copiou meus pensamentos.
Corri de volta para a sala da senhora Martins, com a prova na mão, o coração batendo descontroladamente.
"Professora, olhe isso! Olhe a resolução da questão 28!" Eu disse, minha voz tremendo. "Isso não faz sentido! Esse método está completamente errado!"
A senhora Martins pegou a prova e a analisou com uma expressão confusa.
"Bem, é um pouco... heterodoxo", ela admitiu. "Mas o resultado final está correto. Talvez ela tenha aprendido uma técnica alternativa. Existem muitos caminhos para chegar à mesma resposta, Maria."
"Não! Não para essa questão! Esse caminho é logicamente falho! É como dizer que dois mais dois são cinco, mas por algum milagre, o resultado final deu quatro!"
Ela me olhou com pena, como se eu estivesse procurando desculpas para o meu próprio fracasso.
"Maria, eu acho que você está se exaltando. A Sofia conseguiu a resposta certa. Isso é o que importa. Talvez você devesse se preocupar menos com o método dela e mais com o fato de que sua prova está em branco."
A frustração queimou dentro de mim. Ninguém via. Ninguém acreditaria em mim.
Na saída da escola, Sofia me esperava perto do portão, cercada por suas novas amigas. Quando me viu, ela abriu um sorriso radiante.
"Maria! Que bom te ver", ela disse, com a voz alta o suficiente para que todos ouvissem. "Eu soube que você viu minha prova. Espero que tenha te ajudado. Se quiser, eu posso te dar umas aulas. De graça, claro."
A humilhação era intencional. Ela estava se deliciando com a minha queda, esfregando seu sucesso roubado na minha cara.
Eu respirei fundo, forçando a calma. Eu não podia perder o controle. Não ainda.
Decidi testá-la.
"Parabéns, Sofia. Sua resolução da questão 28 foi... única", eu disse, com um sorriso falso. "Eu só fiquei com uma pequena dúvida. No terceiro passo, você usou a constante de Planck de uma forma que eu nunca vi. Você poderia me explicar a lógica por trás daquilo?"
Era uma armadilha. Aquele passo era o mais absurdo de todos, uma invenção completa da minha mente que ela havia copiado. Não havia lógica.
Um pânico sutil brilhou em seus olhos por uma fração de segundo antes de ser substituído por sua máscara de confiança.
"Ah, isso?" ela riu, um pouco nervosa. "É um método avançado que aprendi em um livro. É um pouco complicado de explicar assim, no meio do corredor."
Ela estava se esquivando. Ela não sabia a resposta.
Eu tinha minha confirmação.
Ela estava roubando meus pensamentos, mas não entendia nada do que roubava. Ela era uma farsa. E eu ia provar isso para todo mundo.
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