Sua preocupação era real, e doía vê-la assim. Na minha vida passada, a minha desgraça a levou ao túmulo. Desta vez, eu a protegeria com todas as minhas forças, mesmo que isso significasse que ela não me entenderia por um tempo.
"Não, mãe. Eu só... cansei. Não quero mais essa pressão."
A senhora Martins suspirou, parecendo genuinamente triste.
"Maria, seu potencial é imenso. Você é a aluna mais brilhante que eu tive em anos. Desistir agora seria um desperdício terrível."
Eu mantive minha expressão neutra.
"Eu já me decidi."
Eu insisti na minha decisão, apesar dos apelos da minha mãe e da professora. Elas não entendiam que isso era parte de um plano maior. Um plano para expor a verdade.
Dois dias depois, os resultados do simulado foram afixados no mural do corredor principal da escola.
Uma multidão de alunos se aglomerava em volta, procurando seus nomes e notas.
Eu não precisei me aproximar para saber o resultado.
Do outro lado do corredor, ouvi os gritos de admiração.
"Nossa! A Sofia gabaritou! Nota máxima!"
"Ela é incrível! Entregou a prova em menos de uma hora e tirou a nota mais alta!"
Sofia estava no centro de um círculo de admiradores, recebendo os parabéns com um sorriso modesto e bochechas coradas. Ela parecia a personificação da humildade e do talento. Uma mentira completa.
Eu me aproximei do mural, abrindo caminho entre os alunos. Encontrei meu nome no final da lista.
Maria. Nota: 0.
Um silêncio constrangedor se espalhou ao meu redor enquanto as pessoas notavam meu nome e minha nota. Os sussurros começaram.
"Zero? A Maria tirou zero?"
"O que aconteceu com ela? Ela costumava ser a número um."
Lucas se aproximou, sua expressão era uma mistura de pena e superioridade.
"Maria, eu não acredito. Um zero? Você desistiu mesmo?"
Eu o ignorei. Meu foco não estava nele. Estava em Sofia, que agora me olhava do outro lado do corredor, com uma faísca de triunfo em seus olhos doces.
Aquele olhar confirmou tudo.
Mais tarde, a senhora Martins me chamou em sua sala. Ela parecia exausta e desapontada. Sobre sua mesa, estavam duas provas, lado a lado.
Uma tinha um "100" circulado em vermelho no topo. A outra, um grande e vergonhoso "0".
"Maria, eu preciso que você me explique isso", disse ela, apontando para as provas. "Eu não entendo. Você foi de nossa melhor aluna para... isso. Enquanto a Sofia, que sempre esteve um passo atrás de você, de repente se tornou um gênio."
Ela me olhava, esperando uma explicação que eu não podia dar. Não ainda.
"Eu sinto muito, professora. Eu não tenho nada a dizer."
A decepção em seu rosto era palpável, e por um momento, senti uma pontada de culpa. Ela só queria me ajudar. Mas eu sabia que qualquer sacrifício valeria a pena para destruir Sofia e limpar meu nome.
Enquanto eu saía da sala dela, vi Sofia esperando do lado de fora, fingindo estar lendo um livro. Quando passei por ela, ela sussurrou, com a voz baixa o suficiente para que só eu ouvisse:
"É uma pena o que aconteceu com você. Parece que a pressão finalmente te pegou."
Eu parei e a encarei. A máscara de menina doce havia caído por um segundo, revelando a víbora por baixo.
Naquele momento, toda a minha dor e raiva se transformaram em uma determinação fria como o aço.
Eu não estava apenas lutando pelo meu futuro. Estava lutando pela minha vida passada.
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