Meu Filho, Minha Força
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Capítulo 2

O médico olhou para mim com uma ponta de hesitação, seus olhos expressando uma mistura de pena e desconforto.

Ele era um homem mais velho, com mãos calejadas e um olhar cansado, como se já tivesse visto muita coisa naquela clínica clandestina.

"Senhor Pedro, tem certeza? A moça está saudável, a gravidez está no início. Interromper agora... é um procedimento arriscado."

Pedro nem sequer olhou para mim.

Seus olhos estavam fixos no médico, frios e duros como pedras de gelo.

"Eu não perguntei a sua opinião. Eu paguei você para fazer um trabalho. Faça."

A voz dele era um chicote, estalando no ar pesado da sala mal iluminada.

Juliana, ao lado dele, sorria. Um sorriso vitorioso e cruel.

Ela se aproximou de mim, que estava deitada na maca, e tocou minha barriga com a ponta dos dedos. Um toque que queimava como ácido.

"Não se preocupe, maninha. Vai ser rápido. Logo você não terá mais esse probleminha atrapalhando a sua vida... e a nossa."

Ela se virou para o médico, o sorriso se alargando.

"Doutor, já que vai tirar o feto, por que não aproveita e tira o útero dela também? Assim a gente evita futuros acidentes. Ela não vai precisar dele mesmo, não é? O destino dela agora é outro."

O médico recuou um passo, chocado.

"O quê? Isso é impossível! É um procedimento muito mais complexo e perigoso, eu não posso fazer isso!"

Pedro se aproximou do médico, sua presença física imponente preenchendo o pequeno espaço.

Ele tirou um maço de notas do bolso e o jogou na mesinha ao lado.

"Você pode e você vai. Ou quer que eu conte para a polícia sobre este seu pequeno negócio? Faça o que eu mandei."

O médico engoliu em seco, seus olhos indo do dinheiro para o rosto ameaçador de Pedro. A hesitação em seu rosto deu lugar à resignação.

Ele sabia que não tinha escolha.

Juliana se inclinou sobre mim, seu hálito quente no meu rosto.

"Sabe, Sofia, você vai ser muito útil para nós. Uma dançarina de boate, talvez até algo mais... Pensa só, todo o dinheiro que você vai ganhar para ajudar o Pedro a pagar as dívidas dele. Para criar o nosso filho. Você vai ser a provedora da nossa família feliz."

O horror me paralisou. Eu queria gritar, lutar, mas meu corpo não obedecia. Era como um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.

O plano deles era mais do que cruel, era diabólico.

Eles não queriam apenas tirar meu filho.

Eles queriam tirar minha feminilidade, minha dignidade, meu futuro.

Eles queriam me transformar em um objeto, uma máquina de fazer dinheiro para o prazer deles.

Senti uma pontada aguda e súbita no meu ventre.

Uma dor que não era só física, era a dor da perda, do desespero, da aniquilação.

Meu corpo estava reagindo ao terror, um prenúncio do que estava por vir.

O médico se aproximou com uma seringa na mão. Seus movimentos eram trêmulos.

Pedro deu um tapinha no ombro dele.

"Seja rápido. Eu e a Juliana vamos dar uma volta, tomar um café. Quando voltarmos, quero que tudo esteja resolvido."

Ele pegou a mão de Juliana e a puxou para fora da sala, sem sequer olhar para trás uma última vez.

A porta se fechou com um clique suave, selando meu destino.

Eu estava sozinha, entregue à crueldade de estranhos, enquanto o homem que eu amei e a minha irmã celebravam a minha destruição.

A pontada no meu ventre se intensificou, uma cólica forte que me fez dobrar de dor.

O pesadelo estava apenas começando.

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