Meu Filho, Minha Força
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Capítulo 3

A agulha se aproximava do meu braço, a mão do médico tremia visivelmente.

Eu fechei os olhos, esperando a picada, a inconsciência, o fim.

Mas, em vez disso, ouvi uma nova voz na sala. Uma voz firme, de uma mulher mais velha.

"Doutor, pode deixar que eu assumo daqui."

Abri os olhos.

Uma senhora de cabelos brancos e rosto marcado por rugas gentis estava parada ao lado da maca. Ela colocou uma mão tranquilizadora sobre o ombro do médico.

Ele soltou um suspiro de alívio, como se um peso enorme tivesse sido tirado de suas costas.

"Dona Rosa... obrigado."

Ele largou a seringa e saiu da sala apressado, sem olhar para trás.

A senhora, Dona Rosa, virou-se para mim. Seus olhos eram bondosos, mas cheios de uma tristeza profunda.

"Eu sou a parteira que eles contrataram para... ajudar. Mas eu não vou fazer o que eles mandaram, minha filha. Eu não tiro vidas, eu as trago ao mundo."

As palavras dela foram como um raio de luz na minha escuridão.

Uma esperança frágil começou a brotar no meu peito.

"Você... você vai me ajudar?" , minha voz saiu como um sussurro rouco.

Dona Rosa assentiu, pegando minha mão. A mão dela era quente e forte.

"Vou. Mas você precisa ser forte. Muito forte. O que vou propor vai doer mais do que qualquer agulha."

Eu a encarei, sem entender.

"Eles querem o seu dinheiro, não é? Eles querem você destruída. A única maneira de escapar é se você deixar de existir para eles."

Ela fez uma pausa, seu olhar fixo no meu.

"Vamos fingir. Vamos fingir que o aborto aconteceu. Vamos fingir que o bebê... não sobreviveu. Eu tenho um jeito de conseguir um atestado de óbito. E depois, vamos fingir a sua morte também. Só assim você e seu filho estarão seguros."

Fingir a morte do meu bebê.

A ideia era monstruosa. Uma dor lancinante atravessou meu coração. Ter que me separar do meu filho, mesmo que por um tempo, mesmo que para salvá-lo.

Mas ela estava certa. Era a única saída.

Era um sacrifício terrível, mas necessário.

Com lágrimas escorrendo pelo rosto, eu assenti. "Faça. Faça o que for preciso."

Dona Rosa agiu rápido. Ela me deu um sedativo leve, apenas o suficiente para me deixar grogue. Ela preparou tudo para que a cena parecesse real.

Horas depois, ouvi a porta se abrir novamente.

Era Pedro.

Ele entrou no quarto e seu rosto se contorceu em uma máscara de dor e preocupação. Era uma atuação digna de um prêmio.

Ele se ajoelhou ao lado da maca, pegando minha mão.

"Sofia, meu amor... me perdoe. Eu não devia ter te deixado sozinha. Aconteceu um acidente... o médico disse que houve complicações... Nós perdemos o nosso bebê."

A voz dele era embargada, como se estivesse segurando as lágrimas.

Ele olhou para mim, esperando uma reação, uma palavra de consolo, talvez.

Eu o encarei, meus olhos frios e vazios.

A dor era real, mas não pelo motivo que ele pensava. A dor era pela traição, pela mentira descarada que ele contava com tanta facilidade.

Ele era um monstro, um ator talentoso no palco da minha vida.

"Como... como isso pôde acontecer?" , ele continuou, o rosto enterrado nas minhas mãos, seus ombros tremendo em soluços falsos. "Era nosso filho, Sofia. Nosso futuro."

A ironia era tão cruel que quase me fez rir.

Nosso filho.

O mesmo filho que ele chamou de bastardo e mandou matar.

Eu apenas o observei, sentindo o ódio crescer dentro de mim, uma chama fria e constante.

Ele levantou a cabeça, os olhos vermelhos e úmidos.

"Não se preocupe, meu amor. Eu vou cuidar de você. Nós vamos superar isso juntos. Eu nunca vou te abandonar."

Ele esperava minha resposta, minha gratidão, minha dependência.

Mas tudo que ele recebeu foi o silêncio.

Depois de um longo momento, com a voz completamente desprovida de emoção, eu disse apenas uma palavra.

"Oh."

A palavra pairou no ar, pequena, fria e cortante.

Não havia dor, não havia amor, não havia nada.

Apenas um vazio.

E naquele vazio, Pedro viu, talvez pela primeira vez, que algo havia se quebrado para sempre.

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