Sangue por Vingança
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Capítulo 1

Eu já estava morta há cinco anos, mas minha alma continuava presa a este mundo, flutuando como uma névoa fria sobre a floresta onde meu corpo foi abandonado, meu espírito acorrentado pela dor e pelo ódio, forçado a testemunhar a vida que continuava sem mim.

Meu nome é Sofia, e o homem que me matou, meu ex-marido Gustavo, agora queria meu sangue.

Não para me salvar, mas para salvar outra pessoa, seu amor de infância, a mulher por quem ele me destruiu, Clara.

Do meu lugar etéreo, eu o observei chegar. Ele saiu de um carro caro, preto e brilhante, que parecia deslocado na estrada de terra esburacada que levava à pequena aldeia na orla da floresta, seus sapatos de couro italiano afundando na lama, e seu rosto se contorceu em uma careta de nojo.

Ele não mudara nada, a mesma arrogância, a mesma impaciência gravada em cada linha de seu rosto bonito e cruel.

Clara estava doente de novo, suas enxaquecas, as mesmas que a atormentavam anos atrás, haviam retornado com força, e os médicos, incapazes de encontrar uma cura, disseram a Gustavo que apenas o meu sangue, o sangue da minha linhagem, poderia aliviar sua dor.

Uma ironia amarga, pois foi por causa de um simples chá calmante para Clara, preparado com um pequeno atraso, que Gustavo me sentenciou à morte.

Ele me baniu para esta floresta, grávida de nosso filho, e aqui eu fui encontrada pelos homens de Clara, torturada até que a última gota de vida, e de sangue, se esvaísse de mim.

Ele nunca soube da verdade, ele pensava que eu apenas tinha fugido, uma esposa ingrata que o abandonou.

Agora, cinco anos depois, ele estava aqui, procurando por mim, não por amor ou arrependimento, mas por necessidade egoísta.

Sua chegada causou um alvoroço na pequena aldeia. Os moradores, pessoas simples e gentis que me acolheram em meus últimos dias, olhavam para ele com uma mistura de medo e desprezo, suas portas e janelas se fechando uma a uma.

Apenas uma figura permaneceu firme diante dele, Dona Rosa, a matriarca da aldeia, a mulher que encontrou meu corpo e resgatou meu filho recém-nascido.

"Onde ela está?"

A voz de Gustavo era dura, cortante, sem qualquer traço de cordialidade.

Dona Rosa, com seus cabelos brancos e rosto enrugado pelo tempo e pela dor, o encarou com olhos que continham a sabedoria de gerações, seu corpo frágil abrigando uma força inabalável.

"Quem o senhor procura?"

"Não se faça de idiota, velha."

Ele cuspiu as palavras.

"Estou procurando por Sofia, minha esposa, sei que ela se escondeu aqui."

Enquanto eles se confrontavam, uma pequena figura saiu de trás da saia de Dona Rosa, um menino de cinco anos, com grandes olhos castanhos e cachos escuros que emolduravam um rosto que era uma cópia em miniatura do meu.

Leo. Meu filho.

O olhar de Gustavo caiu sobre o menino, e eu vi a confusão se transformar em suspeita e, em seguida, em uma raiva fria. Ele não reconheceu seus próprios traços no rosto da criança, apenas a semelhança inegável comigo.

Para ele, Leo não era a prova do nosso amor, mas a prova da minha traição.

"Quem é este menino?" ele perguntou, sua voz baixando para um rosnado perigoso.

Dona Rosa colocou uma mão protetora no ombro de Leo, seu corpo se interpondo entre a criança e a fúria de Gustavo.

"Ele não é da sua conta."

"Tudo que acontece nesta terra miserável é da minha conta enquanto eu estiver procurando por minha esposa" , ele retrucou, dando um passo à frente, sua presença imponente e ameaçadora. "Eu preciso do sangue dela, Clara está morrendo."

A menção do nome de Clara fez meu espírito se contorcer em uma agonia silenciosa, o ódio queimando frio como gelo.

Dona Rosa balançou a cabeça lentamente, seus olhos cheios de uma tristeza profunda.

"O senhor chegou tarde demais, Gustavo."

Ela tentou lhe dizer a verdade, a verdade que ele se recusava a ver, a verdade que o destruiria.

Mas Gustavo era um homem que só ouvia o que queria, um homem cego pela obsessão e pela culpa que ele se recusava a admitir.

"Chega de mentiras!" ele gritou, sua paciência se esgotando. Ele gesticulou para os seguranças que o acompanhavam, homens grandes e sem rosto, tão brutais quanto seu mestre. "Vasculhem este lugar, cada cabana, cada buraco, eu quero Sofia encontrada agora."

Ele se virou para Dona Rosa, seu rosto uma máscara de fúria.

"E se eu descobrir que você a escondeu de mim, velha, eu juro que vou queimar esta aldeia miserável até o chão."

Meu coração de fantasma se partiu ao ver o terror nos olhos do meu filho, que se agarrava à perna de Dona Rosa, tremendo.

Eu queria gritar, queria rasgar o ar com a minha dor e meu ódio, queria envolvê-los com meus braços inexistentes e protegê-los daquele monstro.

Mas eu era apenas um eco, uma memória, uma alma penada condenada a assistir, impotente, enquanto o homem que eu um dia amei se preparava para destruir tudo o que restava de mim.

            
            

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