A luz do sol da manhã me arrastou de volta para uma cama de solteiro familiar, um cheiro de livros velhos e café amanhecido. Não era meu apartamento sofisticado, mas o dormitório empoeirado da universidade, um lugar que não via há dez anos.
Então, o calendário: 2 de março de 2000. O dia em que Pedro e eu decidimos que nosso projeto viraria uma startup de verdade.
Não era um sonho. O pânico gelado que subia pelas minhas veias era real. Eu tinha voltado.
A memória da minha outra vida me atingiu como um trem de carga: a traição de Pedro, ele roubando nossas ideias e entregando-as a Sofia, a filha do investidor. As calúnias, a perda de tudo: carreira, economias. Os anos lutando para me reerguer, a raiva silenciosa me corroendo.
Eu tinha vencido naquela outra vida, superei a empresa dele. Mas a que custo? As cicatrizes nunca sumiram.
Agora, aqui estava eu, de volta ao começo. O rosto no espelho era de uma jovem cheia de idealismo, que amava Pedro de todo o coração.
Um sorriso frio e duro se formou nos meus lábios. Aquela garota estava morta. A mulher que a substituiu conhecia o fim da história.
Na minha vida passada, eu esperei por ele naquele café, com nosso plano de negócios. Ele nunca apareceu. Disse que era emergência familiar. Anos depois, descobri que ele estava com o pai de Sofia. A traição não começou no final; começou desde o princípio.
Desta vez, eu não esperaria.
Ele podia ser ambicioso, mas não era burro. Sua mudança de comportamento antes me intrigara. E se ele... e se ele também tivesse voltado?
A ideia não me assustou. Pelo contrário, me encheu de uma determinação feroz. Se ele também se lembrava, então ele estava escolhendo a traição desde o primeiro dia. Isso tornava tudo mais simples. Não era sobre salvar um relacionamento ou um homem de sua ganância.
Era uma guerra. E desta vez, eu estava armada.