Ele andava de um lado para o outro na sala de estar, o telefone queimando em sua mão, a imagem gravada em sua mente. A traição era um veneno se espalhando por suas veias, gelando seu corpo, enquanto uma raiva quente subia por sua garganta. Ele queria gritar, quebrar alguma coisa, fazer a dor parar, mas estava paralisado, preso em um pesadelo do qual não conseguia acordar.
Sua mãe, Laura, entrou na sala e o encontrou naquele estado. Ela olhou para o rosto pálido do filho, para seus olhos cheios de agonia, e soube imediatamente que algo terrível havia acontecido. Ele não precisou dizer uma palavra, apenas estendeu o celular para ela. Laura pegou o aparelho, seus olhos calmos analisando a foto. Miguel esperava uma explosão, um grito de raiva, uma ordem para expulsar Isabela de casa imediatamente. Em vez disso, o que veio foi um silêncio pesado. Laura devolveu o telefone, e seu rosto não mostrava surpresa, apenas uma frieza calculada que Miguel nunca tinha visto antes.
"Mãe, você viu? Você viu o que ela fez?" a voz dele saiu trêmula, quebrada.
"Eu vi", respondeu Laura, sua voz firme, sem emoção.
"E então? Não vamos fazer nada? Vamos deixar essa mulher continuar vivendo debaixo do nosso teto, rindo da nossa cara?"
"Acalme-se, Miguel", disse Laura, e a tranquilidade dela era assustadora. "Agora não é a hora de fazer um escândalo. Você vai engolir essa raiva. Vai fingir que não sabe de nada."
"Fingir? Mãe, como eu posso fingir? Ela me traiu!"
"Eu sei o que ela fez", Laura o interrompeu, seus olhos escuros fixos nos dele. "Mas se você explodir agora, ela vai se fazer de vítima. Vai virar o jogo contra você. Nós precisamos de tempo. Apenas me dê um tempo, e eu vou resolver isso. Por enquanto, silêncio."
Miguel não conseguia entender. A atitude de sua mãe era um mistério, uma parede de gelo contra a qual sua dor e raiva se quebravam. Mas ele confiava nela, sempre confiou. Com o coração pesado, ele concordou, guardando o veneno dentro de si.
Nos dias que se seguiram, a casa se tornou um palco. Miguel se esforçava para agir normalmente, mas o ar estava carregado de uma tensão que podia ser cortada com uma faca. Isabela, sem perceber a tempestade que se formava, continuava sua vida dupla. Miguel a via mandando mensagens de texto às escondidas, o sorriso culpado em seu rosto quando ela pensava que ninguém estava olhando. Ele ouvia suas conversas sussurradas ao telefone, sempre se afastando para um canto, a voz baixa e cheia de segredos. Cada risadinha, cada olhar furtivo era uma nova facada em seu peito já ferido. Ele seguia o conselho de sua mãe, observando em silêncio, a raiva crescendo e se solidificando dentro dele, transformando-se em algo mais frio, mais duro.
Para piorar a situação, a atitude de Laura em relação a Leo, o filho de cinco anos de Miguel e Isabela, tornou-se estranhamente intensa. Laura sempre fora uma avó carinhosa, mas agora sua devoção parecia excessiva, quase desesperada. Ela cobria o menino de presentes, passava horas brincando com ele, ignorando completamente o próprio filho. Ela preparava as comidas favoritas de Leo, lia histórias para ele até ele dormir, e seus olhos brilhavam com um amor que Miguel sentia que não era mais direcionado a ele. Ele observava de longe, sentindo-se como um estranho em sua própria casa. A dor da traição de Isabela agora se misturava com um novo sentimento, um ciúme amargo e uma sensação de abandono por parte de sua mãe. Ele via Laura abraçando Leo e se perguntava se ela o amava mais porque ele era filho de Isabela, a mulher que ela parecia estar protegendo.
A gota d'água veio em um domingo à noite. A família estava jantando, ou pelo menos tentando. O silêncio era interrompido apenas pelo som dos talheres. Miguel não conseguia comer. Ele olhava para Isabela, que comia tranquilamente, e para sua mãe, que cortava a carne de Leo em pedacinhos. A cena era tão normal, tão doméstica, que o encheu de um nojo insuportável. Ele não aguentava mais o teatro.
Ele jogou o garfo no prato com força, o barulho ecoando na sala silenciosa.
"Eu não aguento mais isso", ele disse, a voz baixa e carregada de fúria.
Isabela e Laura olharam para ele, surpresas.
"Miguel, o que foi?" perguntou Isabela, com uma falsa inocência.
"Não fale comigo", ele rosnou para ela. Ele se virou para a mãe. "Mãe, chega. Eu não posso mais viver assim. Ou ela vai embora desta casa hoje, ou quem vai embora sou eu."
A exigência dele ficou suspensa no ar. Laura o encarou, seu rosto uma máscara impenetrável.
"Miguel, nós já conversamos sobre isso", ela disse calmamente.
"Não, eu não quero mais conversar! Eu quero uma decisão! Agora!" Ele se levantou, a cadeira arrastando ruidosamente no chão. "Você vai escolher, mãe. Eu ou ela."
Com um grito de fúria reprimida por semanas, Miguel varreu o braço pela mesa. Pratos, copos e comida voaram pelo ar, espatifando-se no chão em uma explosão de vidro e porcelana. Leo começou a chorar, assustado com a violência repentina.
Instantaneamente, Isabela começou seu próprio show. As lágrimas brotaram em seus olhos, e ela correu para abraçar o filho, olhando para Miguel como se ele fosse um monstro.
"Miguel, como você pode fazer isso? Você está assustando nosso filho! O que deu em você?" ela soluçava, sua voz uma mistura de medo e acusação. Ela se agarrava a Leo, usando a criança como um escudo humano, o retrato perfeito da mãe vítima e protetora.
Miguel olhou para ela com puro desprezo. A performance era tão boa que por um segundo ele quase se sentiu culpado. Mas então ele se lembrou da foto, das mensagens, das mentiras.
"Não use meu filho contra mim, sua vadia mentirosa", ele cuspiu as palavras.
"Do que você está falando?" Isabela gritou, as lágrimas agora fluindo livremente. "Você enlouqueceu? Laura, faça alguma coisa! Ele está fora de si!"
Miguel avançou em direção a ela, a raiva o cegando. Ele não sabia o que ia fazer, só sabia que precisava acabar com aquela farsa. Ele queria arrancar aquela máscara de inocência do rosto dela.
"Eu vou te mostrar quem enlouqueceu!" ele gritou, levantando a mão.
Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Laura se moveu. Rápida como um relâmpago, ela se colocou entre Miguel e Isabela. Ela abriu os braços, protegendo Isabela e o pequeno Leo com seu próprio corpo.
"Pare, Miguel!" ela ordenou.
Cego pela raiva, Miguel não parou. Ele empurrou para frente, tentando alcançar Isabela, e sua mão atingiu o ombro de sua mãe com força. Laura cambaleou para trás, seu rosto se contorcendo de dor ao bater na parede. Ela não gritou, apenas soltou um gemido baixo, mas o som foi o suficiente para quebrar o feitiço da fúria de Miguel.
Ele parou, horrorizado com o que tinha feito. Ele olhou para a mão, depois para o rosto de sua mãe. Dor, decepção e algo mais, algo que ele não conseguia decifrar, estavam estampados nos olhos dela.
"Mãe... eu..."
"Por quê?", a voz de Miguel era um sussurro quebrado, cheio de dor e confusão. "Por que você está protegendo ela? Depois de tudo que ela fez... você fica do lado dela? Contra mim, seu próprio filho?"
Ele olhou para a mãe, que ainda se recuperava do impacto contra a parede. Ele olhou para Isabela, que se encolhia atrás de Laura, ainda chorando, mas com um brilho de triunfo nos olhos. E ele olhou para o pequeno Leo, que soluçava no colo da mãe. O coração de Miguel se partiu em mil pedaços. Ele se sentia traído por todos.
Laura respirou fundo, a dor em seu rosto dando lugar a uma tristeza profunda. Ela se aproximou de Miguel, ignorando Isabela. Ela pegou a mão do filho, a mesma mão que a havia empurrado momentos antes.
"Miguel, meu filho, olhe para mim", ela disse, a voz suave, mas firme. "Eu nunca, jamais, ficaria contra você. Tudo que eu faço é por você. E por ele", ela disse, olhando para Leo. "Você precisa confiar em mim. Eu prometo que a justiça será feita. Mas não assim, não com raiva cega. Isso só vai nos destruir."
Ela apertou a mão dele. "Me dê um mês, Miguel. Apenas um mês. Deixe-me lidar com isso do meu jeito. Se em um mês as coisas não estiverem resolvidas, eu mesma a coloco para fora desta casa. Eu juro. Mas até lá, por favor, pelo amor que você tem por mim, seja paciente."
As palavras dela eram um bálsamo em sua alma ferida. A menção ao amor que ele sentia por ela, o prazo definido, a promessa solene, tudo isso conseguiu acalmar a tempestade dentro dele. Ele olhou nos olhos de sua mãe e, apesar da confusão, viu a sinceridade ali. Ele assentiu lentamente, exausto. A raiva se dissipou, deixando para trás apenas uma dor oca e uma esperança frágil de que sua mãe, de alguma forma, consertaria seu mundo quebrado.