Laura estava jogando um jogo perigoso e complexo, mantendo o inimigo perto, estudando cada movimento.
A relação entre Miguel e Isabela, no entanto, estava morta. Eles viviam na mesma casa como dois fantasmas, evitando o olhar um do outro, trocando apenas as palavras estritamente necessárias. A cama que antes compartilhavam agora era um deserto gelado, com um abismo invisível entre eles. Miguel dormia virado para a parede, cada respiração de Isabela ao seu lado era um lembrete torturante de sua traição. Ele cumpria sua promessa à mãe, mantendo a fachada de normalidade, mas por dentro, ele estava se desintegrando.
Numa tarde, enquanto Isabela estava no banho, Laura entrou no quarto do casal com a desculpa de pegar uma roupa para lavar. Seus olhos se moveram rapidamente, examinando cada canto. Dentro da bolsa de grife de Isabela, semiaberta sobre a poltrona, ela viu. Não era uma carta de amor ou uma mensagem comprometedora. Era algo muito mais prático e, por isso mesmo, mais insultoso: a fatura de um cartão de crédito. Laura a pegou. Seus olhos percorreram a lista de despesas: um jantar caro para duas pessoas em um restaurante que Miguel detestava, uma noite em um hotel de luxo na cidade vizinha, a compra de um relógio masculino caríssimo. A data das transações coincidia com o dia em que Isabela disse que ia visitar uma tia doente. A prova estava ali, fria e inegável, em papel timbrado.
Qualquer outra mãe teria corrido para mostrar a prova ao filho, para justificar sua raiva. Mas Laura não. Com as mãos firmes, ela dobrou a fatura e a colocou de volta exatamente onde a encontrou. Ela saiu do quarto silenciosamente, seu rosto uma máscara de calma. Ninguém que a visse poderia adivinhar a tempestade de desprezo e a determinação gélida que se agitavam em seu coração. Ela não precisava de mais provas para si mesma, já sabia da verdade há muito tempo. Aquela fatura era apenas mais uma peça no quebra-cabeça que ela estava montando, uma arma que ela guardaria para usar no momento certo. Sua paciência era uma virtude e uma arma.
Alguns dias depois, Miguel procurou sua mãe. Ele parecia mais abatido do que nunca.
"Mãe, eu preciso da sua ajuda", ele disse, a voz baixa, hesitante. "Surgiu uma oportunidade de negócio, uma chance de expandir minha empresa. Mas eu preciso de um investimento inicial grande. O banco não vai me emprestar tudo. Eu... eu estava pensando se você poderia me ajudar."
Ele odiava ter que pedir, odiava se sentir vulnerável, mas era sua chance de focar em algo produtivo, de construir algo para si mesmo e para Leo, longe da bagunça de sua vida pessoal. Laura olhou para o filho, seu coração se apertando ao ver a esperança misturada com desespero em seus olhos.
"Claro, meu filho. Quanto você precisa?", ela perguntou.
Antes que Miguel pudesse responder, Isabela entrou na sala. Seus ouvidos de radar devem ter captado a palavra "dinheiro". Seu rosto, que estava sorridente, se fechou instantaneamente ao ver a cena.
"Dinheiro? Miguel está te pedindo dinheiro?", ela perguntou, a voz afiada. Ela se aproximou, interrompendo a conversa dos dois. "Laura, eu também preciso falar com você. É urgente."
Ela começou a chorar, as lágrimas de crocodilo que ela sabia produzir tão bem. "Meu pai está doente, muito doente. E meu irmão se meteu em uma dívida terrível. Eles vão perder a casa. Eu preciso ajudá-los! É a minha família!" Ela soluçava dramaticamente. "Eu preciso de muito mais do que Miguel está pedindo. Se eu não conseguir esse dinheiro, a desonra vai cair sobre a nossa família. Pense no que as pessoas vão dizer! Pense no nome da nossa família, no futuro de Leo!"
Ela usou a arma mais suja de todas: a chantagem emocional, a ameaça de um escândalo público. Miguel a encarava, enojado e incrédulo com sua audácia.
Miguel explodiu. "Você não tem vergonha? Inventando histórias, usando sua família? Minha mãe não vai te dar um centavo!"
Isabela chorou ainda mais alto. "Você vê, Laura? Ele não se importa comigo, com a minha dor!"
Então, para o choque absoluto de Miguel, Laura tomou sua decisão. Ela olhou para o filho com uma expressão que ele interpretou como pena, e depois se virou para Isabela.
"Silêncio, Miguel", disse Laura, sua voz cortante. "Isabela é sua esposa, a mãe do seu filho. A família dela é a nossa família. A honra dela é a nossa honra." Ela se virou para a nora, que agora a olhava com expectativa. "Quanto você precisa, Isabela?"
Isabela, entre soluços, disse um valor que era o dobro do que Miguel ia pedir. Laura nem piscou.
"Você terá o dinheiro", disse Laura.
"Mãe!", Miguel gritou, sentindo uma onda de traição tão forte que o deixou tonto. Era pior do que ver a foto. Era sua própria mãe, escolhendo a mentirosa, a traidora, em vez dele. "Você não pode estar falando sério! Você sabe que ela está mentindo! É o meu futuro! Meu negócio!"
"Seu negócio pode esperar, Miguel. A família não pode", Laura respondeu friamente, sem olhar para ele. A decisão dela foi como uma sentença, final e irrevogável.
A dor no rosto de Miguel era palpável. Ele se sentia como uma criança novamente, desamparada e traída pela pessoa que mais amava no mundo. Ele olhou para a mãe, buscando qualquer sinal de que aquilo era um teste, uma piada cruel, mas encontrou apenas uma determinação fria. Ele se sentiu duplamente traído, primeiro pela esposa, agora pela mãe. A dor era tão intensa que ele mal conseguia respirar. Ele deu as costas e saiu da sala, batendo a porta com uma força que fez as paredes tremerem.
Laura suspirou, uma expressão de dor genuína cruzando seu rosto por um breve segundo, mas ela a escondeu rapidamente. Ela se virou para Isabela. "Vou fazer a transferência agora mesmo", disse ela, com uma eficiência assustadora. Ela pegou seu tablet, e em poucos minutos, o dinheiro estava na conta de Isabela. A gratidão no rosto de Isabela era oleosa e falsa. Ela abraçou Laura, que a suportou com uma rigidez de estátua.
"Obrigada, Laura! Eu sabia que podia contar com você! Você é a melhor sogra do mundo!", Isabela disse, radiante.
"Vá", disse Laura, com uma voz neutra. "Resolva os problemas da sua família."
Isabela pegou sua bolsa e saiu quase dançando, o celular já na mão, provavelmente para ligar para seu amante e contar as boas novas. Laura a observou sair. Quando a porta se fechou, a máscara de frieza de Laura caiu por um instante. Ela caminhou até a janela e observou Isabela entrar em um táxi e se afastar. E então, um sorriso lento, quase imperceptível, se formou em seus lábios. Era um sorriso que não alcançava seus olhos. Era um sorriso assustador, cheio de segredos e promessas de uma vingança que estava apenas começando a ser servida.