Entre o Amor e a Fuga
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Capítulo 1

O salão de eventos estava lotado, o ar vibrava com o zumbido de conversas e o tilintar de taças de champanhe. Eu me sentia deslocada, uma peça que não se encaixava naquele quebra-cabeça de luxo e poder. Meu chefe, o Sr. Almeida, me arrastou para cá, insistindo que era uma oportunidade de networking que eu, como a mais nova advogada sênior do escritório, não podia perder. Eu odiava esses eventos, mas precisava manter meu emprego, por mim e por minha filha.

Ajeitei meu vestido preto, simples e profissional, sentindo os olhares curiosos sobre mim. Eu sabia que não pertencia àquele mundo, mesmo que minha família adotiva fizesse parte dele. Então, a porta principal se abriu e um silêncio momentâneo caiu sobre o local.

Era ele.

João Pedro.

Meu coração parou por uma batida, depois acelerou de uma forma dolorosa e familiar. Anos se passaram, mas o efeito que ele tinha sobre mim continuava o mesmo. Ele estava mais maduro, o rosto mais anguloso, o terno caro moldando um corpo que exalava sucesso e confiança. Ele se tornara um gigante no setor de tecnologia, um nome que todos pronunciavam com uma mistura de admiração e inveja.

E ao seu lado, como sempre, estava Sofia. Linda, radiante em um vestido que parecia feito de luz. Ela sorria para ele, e ele sorria de volta, um sorriso que eu nunca recebi, um que alcançava seus olhos e os iluminava. A mídia os chamava de "almas gêmeas", o casal perfeito do Rio de Janeiro. Vê-los juntos era uma tortura silenciosa.

Eles caminharam pelo salão, cumprimentando pessoas, e eu tentei me encolher, me tornar invisível. Mas o destino tem um senso de humor cruel.

De repente, Sofia tropeçou levemente no tapete grosso. Antes que qualquer um pudesse reagir, João Pedro já a segurava firmemente pela cintura. Sua expressão preocupada era palpável.

"Você está bem?"

Ele perguntou, a voz baixa e cheia de cuidado.

"Estou, meu amor, só um pequeno descuido."

Sofia respondeu, a voz doce como mel.

Ele tirou o próprio paletó e o colocou sobre os ombros dela, mesmo que o ar-condicionado não estivesse tão forte.

"Para você não sentir frio."

Ele disse, ajeitando o tecido com uma delicadeza que me fez sentir um nó na garganta. Ele nunca tinha feito isso por mim. Nos anos em que estivemos juntos, eu sempre sentia frio, mas ele nunca pareceu notar. Aquele gesto, tão pequeno e tão público, era a prova visual do abismo que existia entre o que ele sentia por ela e o que nunca sentiu por mim. A saudade de algo que nunca tive de verdade me atingiu com força.

Eu me virei, incapaz de continuar assistindo àquela cena. Fui até o bar e pedi um copo de água, tentando controlar a tremedeira em minhas mãos. Foi quando o Sr. Almeida se aproximou, o rosto iluminado de excitação.

"Duda, notícias fantásticas!"

Ele exclamou.

"A empresa do João Pedro, a Tech Solutions, quer contratar nosso escritório para uma grande fusão. E o melhor de tudo, ele fez um pedido específico."

Eu senti um calafrio.

"Que pedido?"

"Ele quer que você seja a advogada principal do caso. Ele mesmo te indicou!"

Meu sangue gelou. Eu olhei por cima do ombro do meu chefe e vi João Pedro me encarando do outro lado do salão. Seu rosto estava inexpressivo, mas seus olhos... seus olhos escuros pareciam me perfurar.

"Não."

A palavra saiu da minha boca antes que eu pudesse pensar.

"O quê?"

O sorriso do Sr. Almeida vacilou.

"Eu disse não. Eu recuso o caso."

Disse com firmeza, colocando o copo de água de volta no balcão com um baque surdo.

"Maria Eduarda, você ficou louca?"

Meu chefe sibilou, o tom de voz baixo e irritado.

"Este é o maior cliente que poderíamos conseguir! Recusar isso é suicídio profissional! Por que você faria uma coisa dessas?"

Eu mantive minha postura.

"Razões pessoais, Sr. Almeida. Eu não posso trabalhar com ele."

Minha recusa abrupta pairou no ar entre nós. O Sr. Almeida me olhava como se eu tivesse acabado de confessar um crime. Ele não entendia, ninguém entendia a história complicada que me ligava àquele homem. Para todos, ele era apenas um empresário de sucesso, e eu, uma advogada ingrata.

Ele respirou fundo, tentando se controlar.

"Vou ter que informar a ele sobre sua... decisão."

Ele se afastou, claramente furioso, e foi em direção a João Pedro. Eu não consegui desviar o olhar. Vi o Sr. Almeida falar, gesticular, e vi o rosto de João Pedro permanecer uma máscara de indiferença. Ele apenas assentiu uma vez, um movimento curto e frio, e depois se virou de volta para Sofia, como se eu não fosse nada, como se minha recusa não significasse absolutamente nada para ele.

Aquela frieza doeu mais do que qualquer palavra de raiva poderia ter doído. Era a confirmação de que, para ele, eu era apenas uma nota de rodapé em sua história, uma lembrança inconveniente que ele preferia ignorar. E eu, por outro lado, ainda estava presa nas páginas daquele capítulo terrível da minha vida.

            
            

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