O ponto de ruptura veio em uma noite chuvosa. João Pedro estava se arrumando para sair. Ele usava a camisa que eu lhe dei de presente, mas eu sabia que não era para mim que ele estava se arrumando.
"Onde você vai?"
Perguntei, parada na porta do quarto, sentindo o pânico crescer.
"Vou encontrar a Sofia. A estreia da novela dela é hoje à noite, e a emissora está fazendo uma pequena comemoração. Eu prometi que iria."
O nome dela, como sempre, me atingiu. A cena do meu sonho voltou à minha mente: ele indo encontrá-la, o começo do fim.
"Não vá, por favor."
Eu pedi, a voz soando mais fraca do que eu pretendia.
"Fica aqui comigo."
Tentei colocar a mão em seu braço, um último apelo desesperado.
Ele hesitou, olhando para mim com uma expressão de cansaço e pena.
"Duda, eu já disse que vou. É importante para ela."
Naquele exato momento, o celular dele tocou. O nome "Sofia" brilhou na tela. Ele atendeu imediatamente, e seu tom de voz mudou, tornando-se mais suave e caloroso.
"Oi, Sof. Sim, já estou saindo... Não se preocupe, eu não vou me atrasar... Claro que eu levo... Ok, até daqui a pouco."
Ele desligou e se virou para mim, a máscara de impaciência de volta ao seu rosto. A mudança foi tão rápida, tão clara. Para ela, ele tinha toda a paciência do mundo. Para mim, só restava a obrigação.
"Eu preciso ir. Ela está me esperando."
Ele disse, pegando as chaves do carro.
"Eu sou sua namorada, João Pedro! E estou grávida de um filho seu! Isso não significa nada?"
As palavras saíram com mais raiva do que eu queria.
Ele parou e se virou para mim, a frustração evidente em seu rosto.
"Duda, nós já conversamos sobre isso. É só um evento. Eu volto logo. Não vamos brigar por isso de novo."
Ele tentou me acalmar, mas suas palavras eram vazias. Ele ainda ia, ele ainda a escolheria em vez de mim.
O desespero tomou conta de mim. Eu precisava detê-lo, precisava evitar o futuro do meu sonho. Usei a única arma que me restava.
"Se você sair por aquela porta agora para encontrar com ela..."
Eu fiz uma pausa, a respiração presa na garganta.
"Nós terminamos. Acabou tudo, João Pedro."
Eu joguei a ameaça no ar, esperando que isso o fizesse parar, que o fizesse me escolher, pelo menos uma vez.
Ele me olhou, e por um instante, vi algo vacilar em seus olhos. Mas foi apenas por um instante. Ele interpretou minha ameaça não como um grito de dor, mas como mais uma de minhas manipulações, mais um ultimato.
Ele respirou fundo, e a indecisão em seu rosto se transformou em uma resolução fria.
"Se é isso que você quer."
Ele disse, a voz baixa e sem emoção.
E então, ele se virou e caminhou em direção à porta. Ele não olhou para trás. Nem uma vez.
Eu fiquei parada, ouvindo o som de seus passos no corredor, o clique da porta da frente se fechando, o som do motor do carro ligando e se afastando na noite chuvosa. Cada som era um prego no caixão do nosso relacionamento.
Minha última tentativa de mantê-lo havia falhado espetacularmente. Em vez de prendê-lo, eu o empurrei para longe, diretamente para os braços dela, exatamente como no meu pesadelo. Eu caí de joelhos no chão, o som dos meus soluços se misturando com o som da chuva lá fora. Tinha acabado. E a culpa era toda minha.