Entre o Amor e a Fuga
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Capítulo 2

Tudo começou há muitos anos. Eu era apenas uma adolescente quando minha família biológica, afundada em dívidas e desespero, recebeu a ajuda da família de João Pedro. Eles não apenas nos salvaram da ruína, como também me adotaram, me dando um sobrenome influente e uma vida que eu nunca poderia sonhar. Pedro e sua esposa me trataram como uma filha, mas eu sempre me senti uma estranha, uma peça emprestada naquele palácio de riqueza.

João Pedro era o filho deles, quieto, focado e com uma ambição que queimava em seus olhos. Ele era lindo de uma forma séria, com cabelos escuros e um olhar que parecia ver através das pessoas. Eu me apaixonei por ele quase que instantaneamente, com toda a intensidade desesperada de uma jovem que se sentia em dívida e queria pertencer.

Lembro-me do dia em que criei coragem para me declarar. Estávamos no jardim da mansão, o sol do Rio de Janeiro aquecendo minha pele. Ele estava lendo um livro sobre programação, totalmente absorto.

"João Pedro..."

Eu comecei, a voz trêmula.

Ele levantou os olhos, surpreso pela interrupção.

"Eu gosto de você. Gosto de verdade."

As palavras saíram apressadas.

Ele fechou o livro lentamente, sua expressão suavizando para algo que parecia pena.

"Duda, eu também gosto muito de você."

Meu coração deu um salto.

"Mas como uma irmã. Você é minha irmã."

Aquela palavra, "irmã", foi como um balde de água fria. Ele me colocou em uma caixa, uma categoria da qual eu não queria fazer parte. A rejeição, em vez de me fazer desistir, acendeu uma chama de teimosia dentro de mim. Eu não seria sua irmã. Eu seria sua namorada.

Eu sabia que ele se sentia responsável por mim, pela forma como sua família me acolheu. E eu usei isso. Comecei a me envolver nos negócios da família dele, usando a influência dos meus pais adotivos para abrir portas, para ajudar a empresa do pai dele a fechar negócios importantes. Eu me tornei indispensável, não apenas como "irmã", mas como um ativo. Eu forcei a minha entrada na vida dele, usando a gratidão e a obrigação como minhas ferramentas.

Ele cedeu. Começamos a namorar, mas era um relacionamento vazio. Ele estava presente fisicamente, mas sua mente e seu coração estavam sempre em outro lugar. E eu logo descobri onde.

Um dia, ele me levou para sua cidade natal, um lugar pequeno e charmoso no interior. Foi lá que eu a vi pela primeira vez. Sofia. Ela era a garota da casa ao lado, a amiga de infância dele, a pessoa com quem ele compartilhava todas as suas memórias. Eles se conheciam desde sempre. Todos na cidade falavam deles como se fossem uma coisa só.

"Eles são almas gêmeas, sabe?", uma senhora me disse na padaria. "Desde pequenos, não se desgrudam."

Naquela noite, a insegurança me corroeu. Eu o confrontei.

"Você ama a Sofia?"

Perguntei diretamente, enquanto estávamos sentados na varanda da casa antiga de seus avós.

Ele demorou a responder, olhando para as estrelas.

"Sofia é... importante para mim. Ela me entende."

A resposta não era um "sim", mas também não era um "não". Era uma evasão, uma confissão velada de que seu coração pertencia a ela. Mas eu estava cega pela minha obsessão. Eu me agarrei à possibilidade de que, com o tempo, eu poderia apagar a imagem dela e tomar seu lugar. Eu me enganei, escolhendo acreditar que minha persistência poderia, de alguma forma, criar um amor que não existia. Eu forcei um beijo, e ele não me afastou, mas também não correspondeu com a mesma paixão. Naquele momento, eu deveria ter entendido, mas não quis. Eu continuei forçando, empurrando nós dois para um caminho sem volta.

            
            

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