Entre o Amor e a Fuga
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Capítulo 3

Os anos seguintes foram uma sucessão de brigas silenciosas e momentos de tensão. O nome de Sofia era um fantasma constante em nosso relacionamento. Qualquer menção a ela, qualquer ligação ou mensagem, era motivo para uma nova discussão.

"Por que você ainda fala com ela, João Pedro?"

Eu perguntava, a voz carregada de ciúmes.

"Duda, ela é minha amiga. Só isso."

Ele sempre respondia, cansado, esfregando os olhos como se quisesse apagar a minha presença. Mas eu sabia que era mais do que amizade. Eu via nos olhos dele quando falava dela.

Um dia, depois de uma briga particularmente feia sobre Sofia ter conseguido um papel em uma peça de teatro, eu saí de casa desnorteada. Acabei em uma igreja antiga no centro da cidade, um lugar que eu nunca tinha visitado antes. Sentei-me em um dos bancos de madeira, o cheiro de incenso e velas enchendo o ar, e adormeci.

E então eu sonhei.

Foi um sonho longo e assustadoramente vívido. Nele, eu via o futuro. Eu via João Pedro se tornando um empresário poderoso, mas infeliz. Eu via a mim mesma, mais velha, amarga e cruel, usando um filho para prendê-lo a mim para sempre. No sonho, eu era a vilã da história dele, a mulher que o destruiu. E eu via Sofia, bem-sucedida, uma atriz famosa, sempre pairando como um anjo inalcançável, a felicidade que ele nunca teria por minha causa. O sonho terminava em tragédia, com João Pedro sofrendo um acidente terrível, e a culpa era toda minha.

Acordei com um sobressalto, o coração martelando no peito. O sonho parecia tão real que me deixou tremendo. Eu tentei ignorar, dizer a mim mesma que era apenas um pesadelo causado pelo estresse.

Mas então, as coisas do sonho começaram a acontecer.

Duas semanas depois, descobri que estava grávida. O teste positivo na minha mão parecia uma sentença. O filho que eu vi no sonho, a ferramenta da minha chantagem emocional, estava se tornando real. No mesmo dia, li no jornal que Sofia tinha sido contratada para o papel principal em uma novela de grande sucesso. Exatamente como no meu sonho.

O pânico começou a se instalar. A coincidência era grande demais para ser ignorada. O sonho não era um sonho, era uma premonição. Eu estava no caminho para me tornar a mulher horrível que vi, a pessoa que arruinaria a vida do homem que eu amava.

Desesperada, liguei para minha melhor amiga, Luiza.

"Lu, você acha que eu sou uma pessoa má?"

Perguntei, a voz embargada.

"O que é isso, Duda? Claro que não! Por que você está dizendo isso?"

"Eu o forcei a ficar comigo, Luiza. Eu sabia que ele amava outra, mas eu não o deixei ir. E agora... agora eu estou grávida."

Houve um silêncio do outro lado da linha. A resposta de Luiza foi cuidadosa, cheia de hesitação.

"Duda, relacionamentos são complicados. Você o ama. Talvez... talvez com um filho, as coisas se ajeitem."

As palavras dela, que deveriam me confortar, soaram vazias. Ela não entendia o terror que o sonho tinha plantado em minha alma. A frase "talvez as coisas se ajeitem" ecoava a lógica da vilã do meu sonho.

Naquela noite, eu desabei. Chorei por horas, olhando para o meu reflexo no espelho e vendo o monstro do meu pesadelo começar a tomar forma. Eu o amava tanto que estava disposta a destruí-lo. E a consciência disso, a percepção de que meu amor era tóxico e egoísta, me quebrou por dentro. Eu não podia deixar aquele futuro se concretizar. Eu tinha que fazer alguma coisa, qualquer coisa, para mudar o curso do destino.

            
            

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