Nosso casamento de cinco anos, com Pedro, era a inveja de todos, uma união tida como perfeita.
Até o dia em que um acidente de carro me levou ao hospital, grávida de três meses e precisando de uma cirurgia urgente.
Eu tentava ligar para Pedro para assinar o consentimento, mas só dava caixa postal.
Então, uma enfermeira me mostrou um vídeo que viralizou na internet: Pedro, ajoelhado, pedindo Clara, minha própria irmã, em casamento.
Aquele foi o estopim de uma farsa que se revelaria ainda mais cruel.
A dor física mal se comparava ao vazio gelado que me atingiu; a perfeição era uma ilusão, e eu, a última a saber.
Pedro chegou, encenando preocupação, mas suas mãos frias e sua voz falsa me reviravam o estômago.
Eu estava exausta demais para confrontá-lo, mas uma frieza calculista começou a tomar conta de mim.
Dias depois, aproveitei um momento de descuido dele e imprimi um "Acordo de Divórcio", enganando-o para que assinasse, usando a mesma doçura manipuladora que ele sempre esperou de mim.
Enquanto ele saía, confiante, eu sabia que o primeiro passo da minha vingança estava dado.
Ainda no cartório, recebo uma ligação de Sofia, assistente de Clara, informando que minha irmã havia desmaiado e estava indo para o hospital, com Pedro a acompanhando, claro.
Foi a prova que eu precisava.
De volta em casa, arrombei a porta de seu escritório e, com a data de aniversário de Clara, abri o cofre.
Lá, encontrei o contrato de casamento entre Pedro e Clara, os papéis da minha adoção, fotos e vídeos da obsessão dele por ela, além de áudios onde ele confessava: "Eu me casei com o reflexo, mas eu quero o original. Eu quero você."
Eu não era uma ponte; eu era apenas uma substituta, e meu casamento perfeito, uma peça cruel.
A raiva me impulsionou.
Limpei cada vestígio dele da minha vida, joguei fora presentes e o perfume dele no vaso sanitário, sentindo uma liberdade gélida.
Naquela noite, ele estava com Clara, e no dia seguinte, descobri que ele compraria a joia mais cara dela, o "Coração Eterno", no leilão.
"Você está lindo" , eu disse, enquanto ele se preparava para ir ao leilão.
"Obrigado, amor. É um evento importante, preciso causar uma boa impressão."
"Vá. E boa sorte", as últimas palavras de uma esposa.
Peguei minha mala e chamei um táxi; eu também tinha um evento importante para ir, o mesmo que o dele.