A Farsa do Amor Perfeito
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Capítulo 3

Recebi alta alguns dias depois. Pedro me levou para casa, tratando-me como se eu fosse feita de porcelana. Ele arrumou a casa, preparou minhas comidas favoritas e não me deixava levantar para nada. Por fora, ele era o retrato do marido devoto, cuidando da esposa grávida que acabara de sofrer um acidente.

Mas a casa, que antes era meu refúgio, agora parecia uma prisão. Cada objeto, cada canto, me lembrava da mentira que eu estava vivendo. O sofá onde assistíamos a filmes juntos, a cozinha onde ele preparava o café da manhã, a cama que compartilhávamos. Tudo estava contaminado.

Enquanto eu me recuperava fisicamente, minha mente trabalhava sem parar. A dor inicial deu lugar a uma frieza calculista. Eu não chorei mais. Eu não gritei. Eu apenas observei, planejei.

Pedro voltou ao trabalho depois de uma semana. Ele me ligava de hora em hora para saber se eu estava bem, se precisava de alguma coisa.

"Amor, tenho uma reunião importante hoje, talvez chegue um pouco mais tarde" , ele dizia, com a voz carregada de uma falsa preocupação.

"Tudo bem, querido. Bom trabalho" , eu respondia, com uma doçura que me dava nojo.

Naquela manhã, enquanto ele estava no banho, eu entrei em seu escritório. Era uma área da casa que eu raramente frequentava. Sobre a mesa, em uma pasta de couro, ele guardava documentos da empresa. Fui até o meu próprio computador e, com as mãos firmes, imprimi duas cópias de um documento que eu havia preparado na noite anterior.

Acordo de Divórcio.

Dobrei os papéis com cuidado e os coloquei dentro de um envelope pardo. Quando Pedro saiu do escritório, pronto para ir trabalhar, eu o interceptei no corredor, com meu melhor sorriso no rosto.

"Pedro, querido, antes de você ir..."

Ele se virou para mim, já com a chave do carro na mão.

"Sim, meu amor?"

Eu estendi o envelope para ele.

"O contador me ligou. Disse que precisamos assinar uns papéis para a declaração de imposto de renda, algo sobre nossos investimentos conjuntos. Você pode assinar para mim? Estou me sentindo um pouco tonta para sair."

Usei um tom manhoso, quase infantil, o mesmo tom que eu usava quando queria convencê-lo a fazer algo. Era uma arma que eu havia aprendido a usar ao longo dos anos, e agora eu a usava contra ele.

Ele pegou o envelope sem nem hesitar. A arrogância dele era sua maior fraqueza. Ele nunca imaginaria que eu, a Ana ingênua e apaixonada, seria capaz de tal coisa.

"Claro, meu bem. Onde eu assino?"

Abri o envelope e apontei para a linha pontilhada na última página, cobrindo o título do documento com minha mão. Ele pegou a caneta da minha mão, deu um beijo rápido na minha testa e rabiscou sua assinatura sem sequer olhar o conteúdo.

"Pronto. Agora preciso ir. Me liga se precisar de qualquer coisa."

Ele me deu as costas e saiu, deixando para trás um rastro de seu perfume caro e uma assinatura que selava o fim do nosso casamento.

Observei-o sair pela porta, o sorriso ainda no meu rosto. Mas por dentro, eu estava vazia. Não senti triunfo, nem vingança. Apenas um alívio gelado. O primeiro passo estava dado. Agora, eu só precisava encontrar a verdade completa. E eu sabia exatamente onde procurar.

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