A Farsa do Amor Perfeito
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Capítulo 1

Nosso casamento de cinco anos era a inveja de todos os nossos amigos, uma união que todos descreviam como perfeita. Pedro me amava profundamente, ou pelo menos era isso que ele demonstrava em cada gesto, em cada palavra. Ele era o marido ideal, atencioso e presente, e eu me sentia a mulher mais sortuda do mundo por tê-lo ao meu lado.

"Ana, você tirou a sorte grande com o Pedro" , minhas amigas sempre diziam, e eu concordava com um sorriso bobo no rosto.

Mas havia uma sombra nesse paraíso, uma pessoa que pairava sobre nosso relacionamento, intocável e inquestionável.

Clara, minha irmã mais velha.

Para o resto do mundo, Pedro tinha uma "queridinha" , uma pessoa por quem ele nutria um carinho especial. Ninguém ousava questionar essa relação, nem mesmo eu. Ele cancelava qualquer compromisso, por mais importante que fosse, para celebrar o aniversário dela. Para Pedro, o aniversário de Clara era um evento sagrado, um dia que ele dedicava inteiramente a ela, sem exceções.

Eu tentava não me importar, afinal, Clara era a irmã que me criou por dez anos depois que nossos pais faleceram. Ela era minha figura materna, minha melhor amiga, meu tudo. Era natural que Pedro, como meu marido, também a tratasse com um carinho especial. Eu racionalizava a situação, dizendo a mim mesma que era uma prova do quanto ele me amava, estendendo esse amor à pessoa mais importante da minha vida.

Além disso, Pedro nunca ficava até tarde no escritório. Ele sempre fazia questão de voltar para casa para jantarmos juntos, para passarmos as noites lado a lado. Ele dizia que o tempo comigo era precioso demais para ser desperdiçado com trabalho extra. Sua dedicação parecia inabalável, e eu me agarrava a essas demonstrações de afeto como se fossem a mais pura verdade. Eu vivia numa bolha de felicidade, uma ilusão cuidadosamente construída que eu não tinha a menor vontade de estourar.

Até que um dia, a bolha estourou.

Eu estava voltando do meu pré-natal, com o coração cheio de alegria e os exames do nosso bebê na bolsa. Estávamos grávidos de três meses, um sonho que se tornava realidade. Liguei para Pedro para contar as novidades, mas ele não atendeu. Tentei de novo, e de novo. Caixa postal. Achei estranho, mas imaginei que ele estivesse em uma reunião importante.

A chuva começou a cair forte, transformando as ruas em rios. A visibilidade era quase nula. Em um cruzamento, um carro desgovernado furou o sinal vermelho e atingiu o meu em cheio. O som do metal se contorcendo, o vidro se estilhaçando e o meu próprio grito foram as últimas coisas de que me lembrei antes de apagar.

Acordei no hospital, com uma dor surda percorrendo todo o meu corpo. Um médico estava ao meu lado, com uma prancheta na mão e uma expressão séria no rosto. Ele me explicou que eu tinha uma hemorragia interna e precisava de uma cirurgia de emergência.

"Precisamos da assinatura do seu marido para o termo de consentimento" , ele disse, com a voz calma, mas firme. "Você consegue contatá-lo?"

Balancei a cabeça, sentindo o pânico começar a subir pela minha garganta. Peguei meu celular com as mãos trêmulas. A tela estava trincada, mas ainda funcionava. Disquei o número de Pedro. Nada. Tentei o de Clara. Nada. O desespero começou a tomar conta de mim. Onde eles estavam? Por que não atendiam?

Enquanto eu esperava, uma enfermeira entrou no quarto, falando animadamente sobre um vídeo que estava viralizando na internet.

"Moça, você não vai acreditar! Um vídeo de um pedido de casamento super romântico, lá no exterior, está bombando. O cara é um gato!"

Ela me mostrou o celular dela, e meu mundo desabou.

A tela mostrava uma captura de tela de um vídeo. A imagem era clara, inconfundível. Pedro estava ajoelhado, com um anel na mão e um sorriso radiante no rosto. E a mulher à sua frente, com as mãos na boca em um gesto de surpresa e felicidade, não era eu.

Era Clara.

Minha irmã. A mulher que me criou. A "queridinha" intocável de Pedro.

O celular da enfermeira caiu no chão, mas eu mal percebi o barulho. Meus olhos estavam fixos na imagem, meu cérebro se recusando a processar a traição que se desenrolava diante de mim. O médico me chamava, sua voz parecendo distante, abafada. A única coisa que eu conseguia ouvir era o som do meu coração se partindo em mil pedaços. A cirurgia, o bebê, a dor física, tudo desapareceu. Só restou o vazio gelado da verdade.

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