O Colar e o Coração Partido
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Capítulo 1

A música alta do evento de caridade vibrava no peito de Júlia Silva, mas não conseguia abafar a ansiedade. Ricardo Mendes, seu namorado há cinco anos, segurava sua cintura com uma possessividade que costumava lhe dar segurança, mas que agora parecia uma gaiola.

Ele se inclinava e sussurrava em seu ouvido, a voz um ronronar perigoso.

"Você está linda esta noite, meu bibelô. Exatamente como eu mandei."

Júlia forçou um sorriso. O vestido de seda vermelha, caro e justo demais, era uma escolha dele. A maquiagem, os sapatos, o penteado. Tudo era escolha dele. Sempre foi.

Ricardo era um empresário de sucesso, charmoso para o mundo, mas em particular, ele era um mestre de jogos estranhos. Ele a cobria de luxo, mas o preço era a submissão absoluta. Ela era sua boneca, sua criação. E por cinco anos, cega pelo que acreditava ser amor, ela aceitou o papel.

Ele a guiou pelo salão, parando para cumprimentar sócios e rivais. Em cada aperto de mão, em cada sorriso falso, a mão dele em suas costas a lembrava de quem mandava.

De repente, ele a parou no centro do salão, perto do pequeno palco onde os leilões de caridade aconteceriam em breve.

"Tenho uma surpresa para você. Para todos, na verdade."

O coração de Júlia acelerou, uma mistura de esperança e medo. Uma surpresa de Ricardo podia ser qualquer coisa, de uma viagem extravagante a uma nova regra humilhante em seu jogo particular.

Ele pegou um microfone. As conversas diminuíram. Todos os olhos se voltaram para eles.

"Boa noite a todos. Obrigado pela presença. É um prazer apoiar uma causa tão nobre."

Ele fez uma pausa, o olhar varrendo a multidão antes de pousar em Júlia. O sorriso dele era largo, mas seus olhos estavam frios como gelo.

"Muitos de vocês conhecem a Júlia. Por cinco anos, ela foi uma companhia... divertida. Uma distração adorável."

A palavra "distração" atingiu Júlia como um tapa. O murmúrio na multidão começou, baixo e curioso. O sorriso dela vacilou.

Ricardo continuou, o tom de voz agora cruelmente divertido.

"Mas toda distração tem seu fim. E hoje, eu gostaria de apresentar a mulher que realmente importa. A mulher que não é um passatempo, mas sim minha alma gêmea."

Ele estendeu a mão para o lado do palco. De lá, saiu Clara Santos, sua assistente. A mesma Clara que sempre parecia tão tímida e inofensiva, com seus olhos baixos e voz suave.

Agora, Clara caminhava até Ricardo com uma confiança que Júlia nunca tinha visto. Ela usava um vestido branco que a fazia parecer um anjo, e no seu pescoço, brilhava um colar que Júlia conhecia muito bem.

Era o "Oceano Estrelado" , a joia mais preciosa de sua falecida mãe. Uma peça que Júlia acreditava estar segura em um cofre. Ricardo havia insistido em guardá-la, dizendo que era para "protegê-la" .

"Ricardo, o que significa isso?" , Júlia sussurrou, o choque paralisando seus membros.

Ele a ignorou completamente. Puxou Clara para perto e a beijou na frente de todos. A multidão ofegou. As câmeras dos fotógrafos de colunas sociais dispararam.

Quando se separaram, Ricardo pegou a mão de Clara e a levantou.

"Esta é Clara, minha noiva. E para provar meu amor, eu dei a ela algo que realmente tem valor. Algo que uma mulher como ela merece."

Ele apontou para o colar no pescoço de Clara.

O mundo de Júlia desabou. A humilhação era pública, esmagadora. Não era apenas o fim do relacionamento; era uma execução de sua dignidade. Ele não apenas a descartou, ele a expôs como um objeto sem valor.

Ricardo finalmente se virou para ela, o desprezo evidente em seu rosto.

"O show acabou, Júlia. Você pode ir. O motorista não vai te levar, então pegue um táxi. Ah, e preciso do apartamento de volta até amanhã. Foi bom enquanto durou."

Ele falou como se estivesse dispensando uma empregada. As pessoas ao redor olhavam para Júlia com uma mistura de pena e curiosidade mórbida.

Por um instante, ela sentiu que ia desmaiar. As lágrimas queimavam seus olhos. Mas então, algo dentro dela se partiu e se refez, mais duro, mais afiado. A submissão de cinco anos se desfez em pó, substituída por uma fúria fria.

Ela deu um passo à frente, o queixo erguido. Sua voz, quando saiu, não tremeu.

"Você tem razão, Ricardo."

Ele pareceu surpreso com a calma dela.

"O show acabou. Mas você se engana sobre quem é o palhaço principal."

Ela olhou diretamente para ele, depois para Clara, que se encolheu um pouco sob seu olhar.

"Fique com o colar. Fique com a sua 'alma gêmea' . Vocês se merecem. Pessoas superficiais precisam de objetos superficiais para provar algo que não existe."

Júlia se virou, sem dar a ele a satisfação de uma única lágrima.

Ela caminhou para a saída, as costas retas, cada passo um ato de desafio. Ela podia sentir centenas de olhos nela, mas não se importava.

Ao passar pela porta, ela falou uma última vez, alto o suficiente para que ele ouvisse.

"E não se preocupe com o apartamento, Ricardo. Eu nunca gostei da decoração mesmo. É tão sem alma quanto o dono."

E com isso, ela saiu para a noite, deixando para trás as ruínas de sua antiga vida e, pela primeira vez em cinco anos, respirando o ar da liberdade.

            
            

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