O Colar e o Coração Partido
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Capítulo 4

Duas semanas depois, Júlia estava em uma boate barulhenta e lotada. A música pulsava, as luzes de néon piscavam, e o cheiro de suor e perfume pairava no ar.

Sofia Almeida, sua melhor amiga, gritava por cima da música.

"Você precisava disso! Sair, dançar, ver gente!"

Júlia sorriu, um sorriso genuíno pela primeira vez em muito tempo.

"Você tem razão. Ficar trancada no seu apartamento de hóspedes sentindo pena de mim mesma não estava ajudando."

Desde que saiu do apartamento de Ricardo, Júlia estava morando com Sofia. Sofia não fez perguntas. Ela apenas a abraçou, lhe deu um quarto e a encheu de sorvete e filmes ruins. Ela era a irmã que Júlia nunca teve.

"Olha só quem está aqui" , disse Sofia, com um tom de desgosto na voz.

Júlia seguiu o olhar dela e seu estômago gelou. Do outro lado da pista de dança, Ricardo e Clara estavam entrando. Ele a segurava pela cintura, rindo de algo que ela disse. Pareciam o casal perfeito.

"Vamos embora" , disse Júlia, virando-se.

"Não! De jeito nenhum! Nós não vamos fugir. Você não fez nada de errado. Levante a cabeça e finja que eles não existem" , disse Sofia, segurando seu braço.

Júlia respirou fundo. Sofia estava certa. Ela não ia se esconder.

Ela se virou para o bar para pedir outra bebida, tentando ignorar a presença deles. Enquanto esperava, um homem se encostou no balcão ao lado dela.

Ele era alto, com ombros largos e um ar de perigo contido. Usava uma jaqueta de couro preta sobre uma camiseta simples. O cabelo escuro estava um pouco bagunçado, e uma barba por fazer emoldurava um queixo forte. Seus olhos, de um azul surpreendentemente claro, a avaliaram com uma intensidade que a fez se sentir nua.

"Sozinha?" , ele perguntou, a voz grave e um pouco rouca.

"Com uma amiga" , respondeu ela, na defensiva.

Ele sorriu, um sorriso pequeno, quase imperceptível.

"Ele não te merece."

Júlia franziu a testa. "Ele quem?"

O homem fez um gesto discreto com a cabeça na direção de Ricardo.

"O idiota que não para de te encarar como se você fosse propriedade dele."

Júlia olhou por cima do ombro. Ricardo estava fuzilando o homem ao lado dela com o olhar. Clara, ao seu lado, parecia nervosa.

"Ele não é nada meu" , disse Júlia, com mais firmeza do que sentia.

"Bom saber" , disse o estranho. Ele se inclinou um pouco mais perto. "Meu nome é Gabriel."

"Júlia."

Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, Ricardo estava na frente deles.

"O que você está fazendo, Júlia?"

A voz dele era baixa e cheia de raiva.

"Estou conversando. É proibido?" , ela rebateu, cruzando os braços.

Ricardo ignorou Gabriel e focou em Júlia. "Conversando com esse tipo? Olha pra ele. Você está se rebaixando."

Gabriel não se moveu, apenas observou a cena com uma calma desconcertante.

"Meu 'tipo' é o tipo que não humilha mulheres em público" , disse Gabriel, a voz tranquila, mas carregada de ameaça.

Ricardo finalmente se virou para ele. "Fique fora disso. É um assunto de família."

"Ela disse que você não é nada dela. Eu acredito nela" , disse Gabriel.

Clara se aproximou, agarrando o braço de Ricardo.

"Ricardo, querido, vamos embora. Não vale a pena."

Ela olhou para Júlia com os olhos cheios de lágrimas falsas.

"Júlia, por favor, não cause uma cena. O Ricardo está tentando ser feliz. Nós estamos tentando ser felizes."

A atuação era digna de um Oscar. Ela se colocava como a vítima, a mulher sensata tentando acalmar os ânimos, enquanto pintava Júlia como a ex-namorada louca e ciumenta.

Júlia riu.

"Causar uma cena? Clara, querida, o mestre das cenas é o seu noivo. Eu só estou tentando tomar uma bebida em paz."

Ricardo, irritado por estar perdendo o controle da situação, agarrou o braço de Júlia.

"Nós vamos conversar lá fora."

No instante em que ele a tocou, Gabriel se moveu. Ele não foi rápido, mas deliberado. Colocou a mão no pulso de Ricardo e apertou.

"Tire a mão dela" , disse Gabriel, a voz agora perigosamente baixa.

Ricardo tentou se soltar, mas o aperto de Gabriel era como aço. O rosto de Ricardo ficou vermelho de dor e fúria.

"Você não sabe com quem está se metendo."

"E nem você" , respondeu Gabriel, soltando o pulso de Ricardo com um empurrão.

Ricardo tropeçou para trás, massageando o pulso. Ele olhou de Gabriel para Júlia, o ódio em seus olhos. A humilhação de ser desafiado na frente de todos, especialmente por alguém que ele considerava inferior, era demais para ele.

Ele puxou Clara e saiu da boate, lançando um último olhar ameaçador para Júlia.

Júlia ficou ali, o coração batendo forte. Sofia correu para o seu lado.

"Você está bem? Que idiota!"

Júlia olhou para Gabriel, que agora a observava com uma expressão indecifrável.

"Obrigada" , disse ela.

"Não precisa agradecer. Homens como ele precisam aprender a não tocar no que não é deles."

A forma como ele disse aquilo, com uma convicção tão simples e poderosa, mexeu com algo dentro dela. Por um momento, naquele caos de luz e som, ela se sentiu segura.

                         

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