O Colar e o Coração Partido
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Capítulo 3

Na manhã seguinte, Júlia acordou com o som insistente da campainha. Ela mal tinha dormido, passando a noite no sofá, vestida com as mesmas roupas da festa.

Arrastando-se até a porta, ela olhou pelo olho mágico. Dois homens de uniforme de uma empresa de mudanças estavam do lado de fora.

Ela abriu a porta.

"Pois não?"

"Senhorita Silva? Temos ordens do Sr. Mendes para encaixotar tudo e esvaziar o apartamento."

A crueldade de Ricardo era infinita. Ele não lhe deu nem 24 horas.

Júlia sentiu uma onda de raiva.

"Podem esperar lá fora. Eu vou fazer minhas malas."

Ela fechou a porta na cara deles e se virou para o apartamento. Era verdade, quase tudo ali pertencia a ele ou foi comprado com o dinheiro dele. Mas suas roupas, seus livros, seus poucos pertences pessoais... eram dela.

Enquanto ela começava a jogar suas coisas em uma mala, a porta se abriu. Ricardo entrou, seguido por Clara, que olhava para o chão.

"Eu disse para eles esperarem" , disse Júlia, a voz dura.

"Eu sou o dono do apartamento, eu entro quando eu quiser" , disse Ricardo, displicente. Ele olhou para a mala dela. "Levando só isso? Pensei que você ia tentar pegar algumas das minhas coisas."

"Eu não quero nada que tenha sido tocado por você" , ela cuspiu.

Clara finalmente levantou o olhar.

"Júlia, sinto muito que as coisas tenham acontecido assim..."

"Não sinta" , Júlia a cortou. "Você conseguiu o que queria. Aproveite o prêmio."

Clara se encolheu e se aproximou de Ricardo, que a abraçou de forma protetora.

"Não fale assim com ela. Clara é sensível."

"E eu era o quê? Um saco de pancadas?" , Júlia riu sem humor. "Por cinco anos eu fui seu bibelô, sua boneca. Você me vestia, me alimentava, me exibia. Eu não tinha vontade própria. Eu era um animal de estimação bem treinado. E agora você encontrou um novo bicho de estimação, um que é ainda mais 'dócil' ."

A verdade daquelas palavras doeu, mas dizê-las em voz alta era libertador.

O telefone de Ricardo tocou. Ele atendeu, ainda abraçando Clara, e se afastou para falar de negócios, ignorando completamente o drama que ele mesmo havia criado.

Júlia olhou para Clara, que a observava com uma expressão que era uma mistura de triunfo e falsa piedade. Naquele momento, Júlia entendeu. Clara não era uma vítima. Ela era uma jogadora, e tinha vencido.

O celular de Júlia apitou. Uma mensagem de Ricardo, mesmo ele estando na mesma sala.

`Texto: Pense na minha oferta. Um apartamento menor. Uma mesada generosa. Não jogue tudo fora por orgulho.`

Ela olhou para ele, do outro lado da sala, rindo ao telefone. Ele queria mantê-la na coleira, mesmo que fosse uma coleira mais longa.

Júlia sentiu um impulso. Ela foi até o closet, um cômodo enorme cheio de roupas e sapatos que ele havia comprado. Ela começou a pegar os vestidos de grife, um por um, e a jogá-los no chão.

"O que você está fazendo?" , Ricardo desligou o telefone, a voz irritada.

"Limpando. Isso tudo é seu, não é? Estou juntando para o lixo."

Ela pegou uma tesoura de costura de sua caixa de pertences e, sem hesitar, começou a cortar um vestido de seda que valia mais do que um carro popular. O som do tecido rasgando foi imensamente satisfatório.

"Você ficou louca?" , ele gritou, correndo até ela e arrancando a tesoura de sua mão.

"Não. Eu fiquei sã" , disse ela, olhando nos olhos dele. "Eu finalmente entendi. Você não me ama. Você nunca amou. Você ama o poder. O controle. E eu não serei mais controlada."

Ele a segurou pelo braço, a raiva distorcendo seu rosto bonito.

"Você vai se arrepender disso, Júlia."

"O único arrependimento que eu tenho é ter perdido cinco anos da minha vida com um homem vazio como você."

Ela se soltou dele com um puxão violento. Pegou sua mala e foi em direção à porta.

"Eu sei que você está fazendo isso porque me ama. Você está ferida" , disse ele, a arrogância voltando. Ele achava que a reação dela era apenas um drama para chamar sua atenção. Ele realmente acreditava que ela não conseguiria viver sem ele.

"Amor? Você não sabe o que é isso" , disse Júlia, parando na porta. "Você confunde posse com amor. Eu não preciso de você. Eu não preciso do seu dinheiro. Eu não preciso de nada que venha de você."

Ela olhou para o apartamento uma última vez, para a bagunça de vestidos caros no chão, para o rosto furioso dele e o sorriso mal disfarçado de Clara.

"A partir de hoje, eu sou dona de mim mesma. E isso, Ricardo, é algo que seu dinheiro nunca poderá comprar."

Ela saiu e bateu a porta, o som ecoando pelo corredor como uma declaração de independência.

            
            

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