O salão de eventos da Tecnologias Alpha estava impecável, o ar condicionado mantinha a temperatura agradável, contrastando com o calor lá fora. Cada detalhe gritava poder e riqueza, desde os arranjos de flores brancas importadas até os garçons que se moviam em silêncio com bandejas de champanhe. Hoje era o dia em que a união de duas potências seria selada, a Construtora Silva e a Tecnologias Alpha. Eu, Júlia Silva, seria a noiva.
Meu pai, Roberto Silva, estava ao meu lado, seu rosto normalmente rígido suavizado por um orgulho contido. Ele apertou meu braço de leve, um gesto raro de afeto.
"Você está linda, minha filha. Hoje, a família Silva mostrará a todos o seu valor."
Eu sorri, um sorriso ensaiado em frente ao espelho por semanas. Eu usava um vestido branco, elegante e discreto, desenhado por um estilista renomado. Meu cabelo estava preso em um coque perfeito, e a maquiagem realçava meus traços sem exagero. Eu era a imagem da noiva perfeita para um herdeiro de uma grande corporação.
Pedro Almeida, o herdeiro em questão, estava do outro lado da mesa de mogno polido, conversando com seu pai, Ricardo Almeida. Pedro era bonito, charmoso, e completamente ciente disso. Nossa relação era um acordo de negócios, um casamento de conveniência que beneficiaria ambas as famílias. Eu não o amava, mas esperava respeito.
Ricardo Almeida, o CEO da Tecnologias Alpha, levantou-se, sua voz ressoando pelo salão silencioso.
"Senhoras e senhores, obrigado pela presença. Hoje é um dia histórico. A união de Júlia Silva e meu filho, Pedro, não é apenas a união de dois jovens, mas a fusão de duas visões, a construção e a tecnologia, o futuro."
Um assistente colocou o contrato de casamento sobre a mesa, uma pilha de papéis que valia bilhões. Ao lado, uma caixa de veludo azul continha a caneta de ouro que usariamos para assinar. O simbolismo era claro, cada assinatura, uma promessa de lealdade e prosperidade mútua.
Ricardo entregou a caneta a Pedro.
"Filho, sua vez."
Pedro pegou a caneta, seu sorriso parecia um pouco forçado. Ele olhou para mim, e por um segundo, vi uma sombra de hesitação em seus olhos. Ele se inclinou sobre o contrato, a ponta da caneta pairando sobre a linha pontilhada. O silêncio era total, todos os olhos estavam fixos nele, esperando.
Foi então que o caos irrompeu.
A porta do salão se abriu com um estrondo. Um segurança, com o rosto pálido e a respiração ofegante, entrou correndo.
"Senhor Almeida! Senhor Almeida, é uma emergência!"
Ricardo franziu a testa, irritado com a interrupção.
"O que é tão importante para interromper esta cerimônia?"
O segurança engoliu em seco, olhando de relance para Pedro e depois para mim.
"É a senhorita Ana Paula! Ela... ela está no terraço do prédio. Ela está usando um vestido de noiva e ameaçando pular!"
O nome "Ana Paula" pairou no ar como uma maldição. Prima de Pedro. O salão explodiu em murmúrios. Senti o olhar de todos em mim, uma mistura de pena e curiosidade mórbida. Meu estômago se revirou.
A caneta de ouro escapou dos dedos de Pedro. Ela caiu sobre a mesa com um baque surdo, rolando lentamente até parar ao lado do contrato intocado. A mancha de tinta que vazou da ponta parecia uma lágrima negra no papel branco, borrando o futuro que haviam planejado para mim. A cerimônia estava acabada.