Ana Paula estava de pé na beirada do prédio, a dezenas de andares do chão. Ela usava um vestido de noiva, uma versão mais barata e extravagante do meu, agora amarrotado e sujo. O vento agarrava o véu e o tecido branco, fazendo-a parecer um anjo trágico e desesperado. Seu rosto estava coberto de lágrimas, a maquiagem borrada criando sulcos escuros em sua pele pálida. Era uma performance digna de uma novela barata, e ela era a estrela.
Assim que viu Pedro, ela soltou um soluço dramático.
"Pedro! Você veio!"
Ela deu um passo precário para trás, mais perto da beirada. Os seguranças deram um passo à frente, nervosos.
"Não se aproxime!", ela gritou para eles. "Só o Pedro! Eu só quero falar com o Pedro!"
Pedro correu em sua direção, ignorando os apelos de sua mãe e os olhares furiosos de seu pai.
"Ana, por favor, saia daí. É perigoso."
Ela balançou a cabeça, as lágrimas escorrendo livremente.
"Por que eu deveria? Qual o sentido de viver se você vai se casar com outra? Eu te amo, Pedro! Sempre te amei! Eu só quero ser a única mulher na sua vida! É pedir muito?"
Suas palavras eram direcionadas a ele, mas seu olhar venenoso estava fixo em mim. Ela estava me acusando, me pintando como a vilã que a empurrou para a beira do abismo. Cada soluço, cada lágrima, era uma arma apontada para a minha reputação.
Pedro, completamente manipulado, caiu na armadilha dela.
"Eu também te amo, Ana", ele disse, sua voz embargada. "Eu nunca quis te machucar."
Ele se aproximou dela, estendendo a mão.
"Venha, vamos descer. Eu não vou me casar com ela. Eu juro. Eu vou cancelar tudo. Nós ficaremos juntos."
Ele a abraçou com força, como se ela fosse a vítima inocente de toda a situação. Ele a protegeu com seu corpo, virando-se para nós como se fôssemos os monstros. Seus olhos encontraram os meus, e neles não havia remorso, apenas acusação. Era como se ele estivesse me dizendo: "Veja o que você fez".
Naquele momento, eu não era mais a noiva traída, a parceira de negócios desprezada. Aos olhos de todos, graças à atuação de Ana Paula e à fraqueza de Pedro, eu me tornei a intrusa, a mulher fria e calculista que quase destruiu um "amor verdadeiro". A humilhação era completa, cimentada pela declaração pública de amor dele por outra mulher, enquanto eu ficava parada, como uma espectadora indesejada em meu próprio noivado. Senti o sangue ferver nas minhas veias, mas meu rosto permaneceu uma máscara de gelo. A dor viria mais tarde, agora era hora de guerra.