Com Ana Paula segura em seus braços, soluçando dramaticamente, Pedro se sentiu corajoso. Ele se virou para seu pai e para o meu, com um ar de desafio.
"Agora vocês veem? Eu não posso fazer isso. O casamento está cancelado. Eu escolho a Ana."
Ele falou como se estivesse fazendo uma grande declaração de honra, e não admitindo sua própria traição e falta de caráter.
Meu pai deu uma risada curta e sem humor.
"Você não escolhe nada, garoto. Você é uma decepção. Você não cancela um acordo desta magnitude como se estivesse cancelando um jantar."
Ricardo Almeida avançou, seu rosto vermelho de fúria. Ele apontou um dedo trêmulo para o filho.
"Você é uma vergonha! Uma vergonha para o nome Almeida! Você acha que a Tecnologias Alpha é um playground para seus dramas românticos? Este contrato será assinado, com ou sem a sua cooperação!"
"Pai, você não pode me forçar!", Pedro retrucou.
"Ah, eu não posso?", Ricardo rosnou. "Observe-me."
Foi nesse momento de tensão máxima que meus olhos vagaram para o grupo de executivos da Alpha. A maioria parecia chocada ou constrangida. Mas um deles estava diferente. Ele estava parado um pouco afastado, observando a cena não com surpresa, mas com uma calma analítica. Era Lucas Mendes. Eu o conhecia de nome, um sócio minoritário que ascendeu rapidamente na empresa por puro talento. Ele era alto, com uma postura ereta, vestindo um terno que, embora de qualidade, não era tão caro quanto os dos Almeidas. Seu rosto era sério, com traços marcantes e olhos inteligentes que pareciam ver através de toda aquela farsa. Ele não demonstrava emoção, apenas uma observação silenciosa e intensa, o que o destacava no meio do caos.
Pedro, no entanto, estava irredutível, cego para tudo exceto seu próprio drama.
"Eu não vou assinar! Eu amo a Ana! Eu não vou sacrificá-la por um negócio!", ele declarou, como um mártir.
Ana Paula, percebendo que precisava reforçar sua posição, começou a chorar ainda mais alto, um lamento calculado para gerar o máximo de pena.
"Oh, Pedro... eles nunca vão nos aceitar. Talvez seja melhor eu apenas..." ela começou, olhando para a beirada do prédio novamente.
Mas Ricardo Almeida já tinha se cansado do teatro. Ele se virou para Pedro com um olhar de desprezo final.
"Você não é mais o herdeiro da Tecnologias Alpha", disse ele, cada palavra caindo como uma sentença. "A partir de hoje, você não tem mais poder nesta empresa. Você não tem mais direito a nada. Você me decepcionou pela última vez."
O queixo de Pedro caiu. A realidade de suas ações começou a penetrar em sua bolha de falso romance. Ele tinha jogado tudo fora. E eu estava ali para assistir.