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Na mansão do governador, fitas vermelhas e lanternas adornavam cada canto. Convidados importantes chegavam em um fluxo constante para dar os parabéns pelo noivado de Júlia e Pedro.
"Realmente, um governador que ama seu povo! A festa está magnífica!"
"Ele conseguiu convidar o Dr. Mendes, o jurista mais renomado da capital, para orientar seu novo genro. Que sorte tem esse rapaz, o Pedro!"
"É verdade? O Dr. Mendes é uma lenda viva! Se uma pessoa comum pudesse apenas conhecê-lo, já morreria feliz. Se ele o orientar pessoalmente, mesmo que o rapaz seja um tolo, passará no concurso com louvor..."
No meio dos comentários invejosos, Pedro, vestindo um traje de noivo feito sob medida, estava radiante. Seu peito estava estufado de orgulho, como se ele já pudesse ver o título de procurador-chefe em suas mãos.
Eu me misturei à multidão de servos e curiosos do lado de fora dos portões. Minhas roupas eram simples, mas limpas, e um véu discreto cobria meu rosto e os ferimentos na testa. Ninguém me reconheceu.
Eu observei o assistente de Pedro se aproximar e cochichar algo em seu ouvido. A expressão de Pedro mudou de alegria para irritação. Ele se afastou da multidão e foi para um canto mais afastado do jardim, e eu o segui, me escondendo atrás de uma grande moita.
"Já faz dias e ainda não encontraram aquela vadia da Sofia?", Pedro perguntou em voz baixa e furiosa para o assistente. "Não devíamos ter sido tão moles. Era para tê-la matado de uma vez por todas."
O assistente parecia hesitante.
"Senhor, Sofia foi dedicada a você nos últimos três anos. Que tal pedir à Srta. Júlia para retirar a busca e deixá-la em paz? Ela é só uma mulher, não vai causar problemas."
"O que você sabe?", Pedro retrucou com desprezo. "Minha mãe viu que ela usava joias caras quando a encontrou. Foi por isso que ela ateou fogo na casa dela de propósito, a nocauteou e roubou todos os seus objetos de valor. Foi com esse dinheiro que eu tive uma vida de luxo e pude estudar nos últimos anos. Se ela souber a verdade, pode causar um escândalo."
Meu sangue gelou.
O incêndio. Não foi um acidente. Foi proposital. A mãe de Pedro.
"Se eu não tivesse visto que ela era bonita e, convenientemente, tinha amnésia, perfeita para ser minha escrava e empregada, eu a teria vendido para traficantes de pessoas há muito tempo", continuou Pedro.
O assistente ficou chocado. "Então, senhor... quando você disse que a libertaria... foi só para enganá-la?"
"Hmph, libertá-la? Impossível! A simples existência daquela mulher estúpida é uma mancha na minha história. Quando eu a encontrar, vou despedaçá-la com minhas próprias mãos!"
Pedro sacudiu a manga de sua roupa nova, sua maldade estampada no rosto.
O ódio dentro de mim cresceu a um ponto que eu não achei que fosse possível. O incêndio que matou Lúcia, minha amiga, minha irmã de criação. O incêndio que me roubou três anos da minha vida. Não foi um acidente. Foi um crime planejado pela mulher que eu pensei que era uma santa, a mulher que eu chamei de "mãe" por um tempo.
Dona Clara não era bondosa. Era um demônio disfarçado de humana. A família de Pedro não era humilde. Eram ladrões e assassinos.
"Princesa, devo atirar e matar esse homem agora?", meu guarda-costas, disfarçado de jardineiro, sussurrou ao meu lado.
Eu cerrei os punhos com tanta força que minhas unhas cravaram na palma da minha mão. Respirei fundo, controlando a fúria.
"Não tenha pressa", eu disse, a voz baixa e fria. "O espetáculo está apenas começando. A morte seria fácil demais para ele. Acompanhe-me para encontrar meu avô."
A melhor vingança é fazer alguém cair do ponto mais alto do céu para o mais fundo do inferno, sofrendo infinitamente.
Na frente da mansão do governador, todos os convidados esperavam ansiosamente.
Uma carruagem simples, mas elegante, de madeira escura e sem brasões, se aproximou lentamente. Um silêncio tomou conta do lugar. Todos sabiam quem estava chegando.
Quando a figura imponente do Dr. Mendes, meu avô, apareceu na porta da carruagem, os aplausos foram ensurdecedores.
Pedro, o governador e Júlia se apressaram, com sorrisos bajuladores, para convidá-lo a entrar.
Meu avô alisou a barba branca e disse calmamente, com uma voz que impunha respeito: "Esperem. Há outro convidado de honra."
Ele fez uma pausa, olhando para a multidão.
"A Princesa Sofia também está aqui e gostaria de participar da festa. O governador não se importaria, certo?"
Ao ouvir o nome "Princesa Sofia", os três se entreolharam, incapazes de conter a excitação. O governador quase engasgou.
A Princesa Sofia. A única filha do Imperador. Neta do Dr. Mendes. A herdeira do trono. Desaparecida há três anos.
Se a família do governador pudesse ganhar o favor da princesa, sua ascensão social e política seria meteórica.
"A Princesa Sofia se dignar a vir à minha humilde mansão é uma honra que minha família não poderia sequer sonhar em oito gerações!", o governador disse, curvando-se profundamente. "Eu, o governador, estou mais do que feliz em recebê-la!"
Ele se virou para seus homens.
"Rápido! Preparem-se para receber a Princesa!"
Os convidados explodiram em murmúrios de inveja. Pedro, o governador e Júlia caminhavam com a cabeça erguida, o orgulho inflando seus peitos, como se já fossem os donos do país.
Um som de passos ritmados se aproximou. Duas fileiras de guardas imperiais, com suas armaduras reluzentes e imponentes, marchavam em perfeita sincronia. Eles escoltavam uma carruagem magnífica que apareceu na esquina, dourada e adornada com o brasão real.
Com os olhos de todos cheios de expectativa, a carruagem parou bem em frente à entrada.
Uma de minhas assistentes, vestida com o uniforme do palácio, abriu a cortina da janela.
Eu, sentada lá dentro, vestindo um vestido de seda azul que brilhava sob o sol, sorri para Pedro, Júlia e o governador.
Seus rostos mudaram instantaneamente. A alegria se transformou em choque. O choque em descrença. A descrença em fúria.
"Como pode ser você?!"