Passei meses ao seu lado, usando meu dom para tecer minha própria energia na dele, remendando seu corpo e sua alma, fio por fio. Foi um processo exaustivo, que me deixou fraca, mas eu o amava. Vi nele uma força de vontade que se recusava a apagar. Quando ele finalmente abriu os olhos, saudável e forte, ele me pediu em casamento.
Eu aceitei.
Ajudei-o a reconstruir seu império a partir do zero. Usei minha intuição para guiá-lo em negócios, para identificar traidores, para prever movimentos do mercado. Ele subiu rápido, mais alto do que jamais esteve. E eu estava lá, a força invisível por trás de seu sucesso. Tivemos um filho, João, a luz das nossas vidas.
Até o dia em que tudo ruiu.
Inimigos de negócios, mais selvagens do que os que ele já tinha enfrentado, nos encurralaram durante uma viagem. Estávamos em um carro, em uma estrada deserta, quando fomos fechados. Homens armados nos cercaram. Eu segurava João, que chorava assustado em meus braços. Pedro olhou para os homens, depois para mim.
Seu rosto estava sem expressão.
"É ela que eles querem" , ele disse, com uma frieza que eu nunca tinha ouvido.
Antes que eu pudesse entender, ele abriu a porta do meu lado e me empurrou para fora, com nosso filho ainda em meu colo.
"Levem-na. Ela e o garoto. Deixem-me ir e eu lhes darei o dobro do que eles estão pagando."
Eu caí no chão de cascalho, com João gritando. Os homens me agarraram. Olhei para trás e vi o carro de Pedro arrancar, cantando pneus, desaparecendo na poeira da estrada. Ele não olhou para trás. Nem uma vez.
Fui mantida em cativeiro por dias. A humilhação foi constante. A tortura não era apenas física, era a agonia de ver o trauma nos olhos do meu filho, de ouvir seu choro abafado noite adentro. Eles queriam informações sobre os segredos de Pedro, segredos que eu guardava. Mas eu não disse nada. Não por lealdade a ele, mas porque sabia que, se eu falasse, eles nos matariam.
Quando finalmente nos libertaram, à beira de uma estrada, eu estava um farrapo. João não falava, apenas se agarrava a mim, tremendo. Voltei para a cidade e descobri que Pedro não era mais apenas um empresário em ascensão. Ele era o novo CEO da empresa que um dia o expulsou. Ele havia usado nossa captura como uma distração para dar o golpe final.
Ele me encontrou no apartamento modesto para onde fui.
"Sara, me perdoe" , ele disse, os olhos cheios de um arrependimento que parecia ensaiado. "Eu não tive escolha. Era a única maneira de garantir nosso futuro. Eu sabia que você era forte. Eu sabia que você sobreviveria."
Eu olhei para ele, para o homem por quem sacrifiquei minha energia, a quem dei uma segunda vida. Olhei para o meu filho, traumatizado e mudo ao meu lado. Eu estava exausta. E, no fundo, uma parte de mim ainda queria acreditar nele.
Eu o perdoei.
Mas nosso mundo mudou. Eu e João fomos escondidos. Passamos a viver em uma casa luxuosa nos arredores da cidade, uma gaiola dourada. Pedro nos visitava, trazia presentes caros, mas era um estranho. A família que éramos tinha morrido naquela estrada de cascalho.