O Preço da Traição e o Renascer
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Capítulo 2

Os anos que se seguiram foram uma mentira bem decorada. Para o mundo, Pedro Mendes era um gênio da tecnologia, um bilionário solteiro e cobiçado. Sua parceira oficial nos eventos e nas revistas era Sofia Albuquerque, uma socialite de sorriso afiado e olhos calculistas.

Eu era a esposa secreta, a mãe do filho bastardo, escondida para não manchar sua imagem pública. A casa era enorme, mas as paredes pareciam se fechar sobre mim a cada dia. João cresceu nesse ambiente de silêncio e segredos. Ele era um menino quieto, a sombra do trauma sempre presente em seus olhos.

A empresa de Pedro, a "Mendes Tech" , era sua verdadeira família, seu verdadeiro amor. A segurança era rigorosa, paranoia em forma de concreto e arame farpado. Foi essa segurança que tirou meu filho de mim.

João tinha sete anos. Ele estava brincando no jardim e a bola rolou para uma área restrita do complexo onde morávamos, perto de um dos laboratórios de pesquisa. Era uma área proibida. Ele, na sua inocência, foi atrás dela.

Eu ouvi os gritos. Depois, um som seco. Um tiro.

Corri para fora, o coração martelando no peito. Encontrei meu filho caído no chão, perto da cerca eletrificada. Um segurança estava parado ao lado dele, a arma ainda fumegando.

"Ele invadiu o perímetro, senhora. Procedimento padrão."

A voz do homem era robótica, desprovida de qualquer emoção. João não se mexia. Seu peito pequeno tinha uma mancha vermelha que se espalhava rapidamente por sua camiseta.

Naquele exato momento, Pedro estava ao vivo na televisão, em uma conferência de imprensa anunciando um novo produto revolucionário. Um assessor se aproximou e sussurrou algo em seu ouvido. Eu assisti, paralisada, pela TV da sala de segurança para onde me levaram.

Vi o rosto de Pedro. Por um segundo, apenas um, uma sombra passou por seus olhos. Mas foi só isso. Ele piscou, ajeitou o microfone e continuou seu discurso como se nada tivesse acontecido. Ele não vacilou. Ele não demonstrou dor. Ele simplesmente ignorou a morte do nosso filho.

Aquele foi o momento em que o amor que eu ainda nutria por ele, aquela brasa teimosa que se recusava a apagar, virou cinzas.

A dor era uma coisa física, uma pressão esmagadora no meu peito. Fiquei sentada em um sofá de couro frio, em um dos escritórios de Pedro, esperando por ele. As horas se arrastaram. A noite caiu. Finalmente, ele entrou, tirando o paletó.

Ele não me olhou. Ele foi até o bar e se serviu de um uísque.

"Foi um acidente trágico" , ele disse, de costas para mim.

Sofia Albuquerque entrou logo depois. Ela colocou a mão no ombro dele, um gesto de posse.

"Querido, não se culpe" , ela disse, a voz suave como veneno. "O menino sempre foi... um risco. Um elo fraco. Agora, você está livre para focar no que realmente importa."

Eu gelei. Eles não sabiam que eu estava ali, no cômodo adjacente, separado por uma porta entreaberta.

Pedro virou-se para ela e seu rosto se suavizou. "Eu sei. Foi a única maneira de cortar os últimos laços com aquele passado. Foi preciso."

Aquelas palavras.

"Foi preciso."

O ar saiu dos meus pulmões. O chão pareceu desaparecer sob meus pés. Não foi um acidente. Não foi um procedimento padrão. Foi um plano. Ele mandou matar o próprio filho. O nosso João. Porque ele era um "elo fraco" .

Saí do meu torpor. Levantei-me e caminhei até a porta que dava para o necrotério improvisado da empresa, onde o corpo do meu filho estava. Dois seguranças bloquearam meu caminho.

"Senhora, não pode entrar. Ordens do Sr. Mendes."

"Ele é meu filho" , eu disse, a voz rouca.

"O corpo é propriedade da empresa até a investigação ser concluída" , respondeu o outro, sem piscar.

Meu filho. Meu João. Reduzido a uma propriedade da empresa. Eles me empurraram para trás, e eu caí de joelhos no chão frio do corredor. A dor era tão grande, tão avassaladora, que eu não conseguia nem chorar. Eu só conseguia sentir o vazio onde meu coração costumava estar.

            
            

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