Desejo de Amar, Vontade de Partir
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Capítulo 2

Uma hora antes do meu discurso desastroso, eu estava sentada em uma mesa afastada, observando Lucas ser o centro das atenções. Ele ria, abraçava as pessoas, sempre com Rafaela ao seu lado, como um acessório brilhante.

Ela usava um vestido branco justo que a fazia parecer um anjo inocente, um contraste gritante com a forma como seus olhos brilhavam de satisfação sempre que Lucas a apresentava como "minha estagiária prodígio".

Ele finalmente se lembrou de mim quando um fotógrafo perguntou pela noiva. Lucas veio até minha mesa, puxou uma cadeira e se sentou, já impaciente.

"Aqui, comprei pra você."

Ele me entregou uma pequena caixa de uma loja de departamento. Dentro, um perfume genérico com cheiro doce demais. Era o tipo de presente que se compra por obrigação, cinco minutos antes de chegar à festa.

"Obrigada", eu disse, a voz saindo mais baixa do que eu pretendia.

"Duda, eu já te pedi desculpas por não ter tido tempo de comprar algo melhor", ele disse, já na defensiva. "O projeto da Rafaela consumiu todo o meu tempo esta semana."

O projeto de Rafaela. Sempre o projeto de Rafaela.

Foi nesse momento que decidi que não podia mais engolir aquilo. Levantei-me, fui até o pequeno palco, peguei o microfone e fiz meu desejo em voz alta.

Agora, encarando seu rosto furioso, eu mantive a calma.

"Eu não bebi, Lucas. E eu não vou te ligar amanhã."

Ele apertou meu braço, a força em seus dedos me fazendo recuar.

"Você é tão difícil de agradar, sabia? Eu organizo essa festa toda pra você, gasto uma fortuna, e é assim que você me agradece? Fazendo uma cena na frente de todo mundo?"

Sua voz era um sussurro baixo e irritado, mas carregado de uma acusação que me atingiu em cheio. Ele estava se fazendo de vítima.

A calma que eu sentia se quebrou.

"Essa festa?", eu ri, um som amargo que chamou a atenção das pessoas mais próximas. "Você chama isso de festa pra mim? Lucas, olhe em volta!"

Minha voz se elevou, cheia de uma dor que eu guardava há meses.

"Os balões, a música, até a porra do bolo! Nada aqui é pra mim! Essa festa é uma celebração para a Rafaela, pela vitória dela no projeto. Você só usou meu aniversário como desculpa!"

O rosto de Lucas ficou vermelho de raiva. Seu charme desapareceu, dando lugar a uma fúria fria e cruel.

"Não ouse colocar a Rafaela no meio disso!", ele rosnou. "Ela não tem nada a ver com as suas neuroses! Ela é só uma garota que se esforçou e mereceu o reconhecimento!"

"Reconhecimento? Você transformou meu aniversário de trinta anos em um evento corporativo para ela! Você sequer percebeu que a cor favorita dela está em todo lugar e a minha não está em lugar nenhum?"

Foi a vez de Rafaela intervir. Ela se aproximou, os olhos cheios de lágrimas falsas, o rosto contorcido em uma máscara de tristeza.

"Duda, por favor, não fica assim", ela disse com a voz trêmula, alta o suficiente para que todos ouvissem. "A culpa é minha. Se eu soubesse que ia causar tanto problema, eu nem teria vindo. Lucas, talvez seja melhor a gente ir embora."

A performance foi perfeita. Imediatamente, os olhares dos convidados se voltaram para mim com reprovação. Eu era a noiva ciumenta e irracional estragando a noite da pobre estagiária inocente.

Lucas a abraçou protetoramente, olhando para mim com uma decepção cortante.

"Eu não acredito que você se rebaixou a esse nível, Maria Eduarda. Estou profundamente decepcionado com você."

Ele se virou, pegou Rafaela pela mão e a guiou para fora do salão.

Deixando-me para trás. Sozinha. No centro da minha própria festa de aniversário.

            
            

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