A Vasectomia e a Traição
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Capítulo 1

Eu fiz uma vasectomia por ela.

Vinte anos atrás, Clara me disse que não queria filhos, nunca, e eu, apaixonado, acreditei nela.

Construímos um império juntos, do zero, mas a empresa sempre esteve no nome dela.

Eu era o marido, o parceiro, o homem que trabalhava dia e noite nos bastidores.

Hoje, ela colocou um acordo de transferência de ações na minha frente.

51% das ações da empresa, que valem bilhões, seriam transferidos para os nomes de Lucas e Luan, seus filhos gêmeos de seis anos.

Filhos que eu nunca soube que existiam.

"O que é isso, Clara?" minha voz saiu trêmula, um som que eu não reconheci como meu.

Ela ajeitou o cabelo, sem me olhar nos olhos, o gesto casual dela me cortando por dentro.

"É o que parece. Estou garantindo o futuro dos meus filhos."

"Seus filhos?" Eu ri, um som oco e sem alegria. "Nós concordamos. Sem filhos. Eu fiz uma cirurgia por causa disso."

"Eu mudei de ideia," ela disse simplesmente, como se estivesse falando do tempo.

Minha cabeça girava. Vinte anos. Vinte anos de sacrifício, de amor, de parceria, tudo se desfazendo em um pedaço de papel.

"Quando?" eu perguntei, a raiva começando a borbulhar sob a minha pele. "Quando você teve esses filhos? E com quem?"

"Isso não importa," ela respondeu, finalmente me olhando, seus olhos frios como gelo. "Eles são meus filhos e eu quero que eles tenham o que é deles por direito."

"O que é deles? E o que é meu, Clara? Eu construí essa empresa com você! Eu dei meu suor, meu sangue, minha vida por isso!"

"Não seja dramático, André. Você sempre foi bem cuidado."

O desprezo na voz dela me atingiu com força.

Eu peguei o telefone. Precisava de ar, precisava de alguém. Liguei para a mãe dela, uma mulher que eu sempre considerei como minha própria mãe.

"Mãe, você sabia disso?"

Houve um silêncio do outro lado da linha, e então a voz dela, cautelosa.

"André, querido, a Clara te explicou. São os filhos dela. É natural que ela queira cuidar deles."

"Natural? Ela me escondeu por seis anos! Nós tínhamos um acordo!"

"Acordos mudam, a vida muda. Pense na empresa, André. Pense em tudo que vocês construíram. Não jogue tudo fora por um capricho."

Capricho. Minha dor, minha traição, era um capricho.

Desliguei o telefone, sentindo um nó na garganta.

Liguei para meu melhor amigo, padrinho do nosso casamento.

"Cara, você não vai acreditar no que a Clara fez."

Contei tudo a ele, esperando por apoio, por indignação.

Em vez disso, ouvi um suspiro cansado.

"André, cara, pensa bem. Vocês estão juntos há tanto tempo. Ela é uma mulher poderosa, rica. Ter um herdeiro é importante. Talvez você devesse tentar aceitar. Pelos velhos tempos."

Ninguém estava do meu lado.

Para eles, eu era o marido da mulher rica. Aquele que deveria ser grato, que deveria aceitar tudo em silêncio.

A porta do escritório se abriu e Clara entrou.

"Já falou com todo mundo?" ela perguntou, com um tom de sarcasmo. "Já terminou seu showzinho?"

"Eu quero saber quem é o pai," eu disse, minha voz baixa e perigosa.

"Isso não é da sua conta."

"É claro que é da minha conta! Você me traiu!"

"Foi só uma vez," ela disse, impaciente. "Um erro. Aconteceu. Supere."

Um erro que resultou em gêmeos. A matemática não batia. A mentira era tão descarada que me deixou sem fôlego.

"Eu não vou assinar isso," eu disse, empurrando o acordo de volta para ela.

"Você vai."

"Não, eu não vou."

"André, não me force a fazer coisas que nós dois vamos nos arrepender."

Eu olhei para ela, a mulher que eu amei por duas décadas, e não vi nada além de uma estranha.

"Eu quero o divórcio," eu disse.

Ela riu.

"Divórcio? E você vai ficar com o quê? Você não tem nada no seu nome. Você mora na minha casa, dirige o carro da empresa e gasta o dinheiro que eu te dou. Você é nada sem mim."

A verdade cruel de suas palavras me atingiu. Eu tinha sido um tolo. Um tolo apaixonado que nunca pensou em se proteger.

"Eu tenho uma condição," eu falei, a última centelha de esperança se acendendo em mim. "Livre-se dessas crianças. Mande-as para longe, com o pai delas. Faça o que for preciso, mas eu não quero vê-las. Nunca. Se você fizer isso, eu posso tentar te perdoar. Podemos tentar recomeçar."

Era meu último blefe, minha última tentativa de salvar o que restava do nosso casamento.

Clara me olhou por um longo momento. Por um segundo, pensei ter visto um vislumbre da mulher com quem me casei.

Mas então ela balançou a cabeça.

"Não. Eles são meus filhos. Eles ficam."

O ar saiu dos meus pulmões. Era o fim.

Lentamente, eu tirei a aliança de casamento do meu dedo. Ela estava apertada, depois de vinte anos.

Coloquei-a sobre o acordo de transferência de ações.

"Acabou, Clara."

Virei as costas e saí do escritório, da casa, da vida que eu pensei que era minha.

            
            

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