"Você vai sim," a voz dela ficou dura. "Pense na sua imagem. Na imagem da empresa. O que as pessoas vão dizer se você não estiver lá? Vão pensar que nosso casamento está em crise. Isso vai afetar os negócios."
"Nosso casamento ESTÁ em crise, Clara! Acabou!"
"Não até eu dizer que acabou," ela retrucou. "Você vai vir no sábado, vai sorrir, vai fingir que é o padrasto feliz. É o mínimo que você pode fazer depois de tudo que eu fiz por você."
A chantagem era tão vil, tão nojenta. Mas ela estava certa sobre uma coisa. Uma crise no nosso casamento poderia desestabilizar a empresa que eu passei vinte anos construindo.
Contra meu bom senso, eu concordei.
Mas eu não ia entrar cego. Usei o resto da semana e um pouco do dinheiro que me restava para contratar um investigador particular.
Os resultados chegaram na manhã de sábado, horas antes do jantar. Um envelope pardo, cheio de veneno.
Fotos. Dezenas delas.
Clara e um homem bonito, Léo, rindo em um café em Paris. De mãos dadas em um parque em Londres. Beijando-se sob a luz de um pôr do sol em Roma.
As fotos cobriam todo o ano em que ela esteve "estudando" no exterior. Não foi um erro de uma noite. Foi um caso de um ano inteiro.
Havia também cópias de um acordo. Um contrato detalhado entre Clara e Léo. Ele não era um "doador". Ele era um parceiro. O acordo estipulava que ele teria um papel ativo na vida das crianças e receberia uma generosa "mesada" pelo seu... serviço.
A náusea voltou com força total. Cada palavra que ela me disse era uma mentira.
Naquela noite, entrei na mansão dos pais dela sentindo como se estivesse caminhando para minha própria execução.
A sala estava cheia de parentes e amigos da família. Todos sorriam para mim, mas seus olhos estavam cheios de pena e curiosidade. A notícia, obviamente, já havia se espalhado.
A mãe de Clara me puxou para um canto.
"André, que bom que você veio. Seja razoável. Clara te ama, ela só cometeu um erro. Pense no seu futuro."
"Meu futuro?" eu murmurei.
Clara apareceu, deslumbrante em um vestido vermelho. Ao lado dela, de mãos dadas, estavam dois meninos idênticos, com os mesmos olhos azuis e cabelo loiro do homem nas fotos.
E atrás deles, o próprio homem. Léo.
Ele era alto, bronzeado e tinha um sorriso presunçoso no rosto.
Clara se aproximou, o sorriso dela não alcançando os olhos.
"André, quero que conheça Léo. E estes são Lucas e Luan."
Léo estendeu a mão para mim. Eu a ignorei.
"Então você é o famoso André," disse ele, o tom zombeteiro. "Clara falou muito de você."
Eu olhei para Clara, que desviou o olhar.
Durante o jantar, fui um fantasma na mesa. A família toda paparicava os meninos. Clara e Léo sentaram-se lado a lado, rindo e conversando como um casal de longa data. Eles alimentavam os meninos, limpavam seus rostos. Formavam uma família perfeita.
Eu era o intruso. O estranho.
A mãe de Clara, sentada ao meu lado, cutucou-me.
"Veja como Clara está feliz. Ela nasceu para ser mãe. E você, André, você nunca pôde dar isso a ela."
As palavras dela foram ditas em voz baixa, mas para mim, soaram como um grito.
A culpa estava sendo jogada em mim. Eu era o problema. O homem estéril que não podia satisfazer os desejos de sua esposa.
Mais tarde, eu estava no jardim, tentando respirar, quando um dos meninos, Lucas, se aproximou de mim.
Ele me olhou de cima a baixo, com uma expressão de desdém que era chocante em uma criança de seis anos.
"Você não é meu pai," ele disse, com a voz clara e firme. "Meu pai é o Léo. Mamãe disse que você é só o marido dela."
Fiquei paralisado, sem saber o que dizer.
"E ela disse para não chegarmos perto de você. Porque você não gosta de crianças."
Ele se virou e correu de volta para os braços de sua mãe, que o abraçou e olhou para mim por cima da cabeça dele, com um olhar de triunfo.
Naquele momento, eu entendi. Não era apenas sobre a traição. Era sobre a substituição.
Eu estava sendo apagado.