A Vasectomia e a Traição
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Capítulo 4

A semana seguinte foi o aniversário de Clara. Ela sempre comemorou com uma grande festa de gala, um evento para a elite da cidade e para os negócios. Este ano, o tema era "Família". Que ironia.

Eu fui, claro. Eu era o marido troféu. Minha presença era obrigatória.

O salão de festas estava espetacular, mas eu me sentia como se estivesse em um funeral. Todos os olhares estavam em mim, sussurros me seguindo por onde eu passava.

No auge da noite, Clara subiu ao palco. As luzes se concentraram nela.

"Obrigada a todos por virem," ela começou, a voz ressoando pelo salão. "Este ano, eu tenho um anúncio muito especial a fazer. Como muitos de vocês sabem, recentemente me tornei mãe de dois meninos maravilhosos."

Um murmúrio percorreu a multidão. Ela fez uma pausa dramática.

"E eu quero agradecer publicamente ao homem que me deu o maior presente da minha vida. Léo, por favor, suba ao palco."

Léo subiu, o sorriso vitorioso estampado no rosto. Ele ficou ao lado dela, e ela pegou a mão dele.

"Como um pequeno sinal da minha gratidão," Clara continuou, "eu gostaria de presentear Léo com uma nova casa na praia, um carro esportivo e um cartão de crédito sem limites para que ele possa cuidar bem dos nossos filhos."

O salão explodiu em aplausos. Eu senti meu estômago revirar. Era um espetáculo. Uma humilhação pública. Ela estava esfregando a traição na minha cara na frente de centenas de pessoas.

Mas o pior ainda estava por vir.

"E para garantir o futuro dos meus herdeiros," ela disse, olhando diretamente para mim, do outro lado do salão, "eu anunciei hoje que estou transferindo 51% das ações da nossa empresa para um fundo em nome de Lucas e Luan."

O ar foi arrancado dos meus pulmões. Vinte anos do meu trabalho, da minha vida, entregues a um par de crianças de seis anos e ao amante dela.

As pessoas aplaudiam de pé. Eu estava congelado, um sorriso falso grudado no meu rosto. Eu era o tolo da festa.

Clara desceu do palco e veio em minha direção, Léo a reboque.

"Não fique com essa cara, André," ela sussurrou, a voz falsamente doce. "Ainda há muito para você. Você sempre será meu marido."

Léo passou o braço pelos ombros dela, me olhando com um desprezo mal disfarçado.

"É, cara," ele disse. "Relaxe. Você tem uma boa vida."

Eu me afastei deles e fui direto para o bar. Pedi uma dose de uísque. Depois outra. E outra.

As bordas do mundo começaram a ficar embaçadas. A dor no meu peito era uma brasa quente.

Horas depois, senti uma mão no meu ombro. Era Clara. Seu rosto, visto através do nevoeiro do álcool, parecia preocupado.

"André, você bebeu demais. Vamos para casa."

Ela me ajudou a levantar, sua mão surpreendentemente gentil. Por um momento, um raio de esperança estúpida me atravessou. Talvez, por baixo de tudo, ela ainda se importasse.

No carro, ela estava em silêncio. Em casa, ela me ajudou a ir para o quarto. Tirou meus sapatos, me deu um copo de água.

"Por que, Clara?" eu murmurei, minha voz arrastada. "Por que fazer isso comigo?"

"Shhh," ela disse, limpando uma lágrima que eu não sabia que tinha caído. "Descanse."

Eu segurei a mão dela.

"Nós podemos consertar isso?" eu pedi, a voz de um menino perdido. "Ainda podemos?"

O corpo dela enrijeceu. O calor que eu senti por um momento desapareceu.

Ela puxou a mão dela da minha.

"Não há nada para consertar, André. Esta é a nossa nova realidade. É melhor você se acostumar."

A frieza em sua voz cortou a névoa do álcool. A clareza me atingiu como um tapa.

A gentileza dela não era preocupação. Era controle. Ela estava apenas gerenciando um ativo problemático.

A raiva, pura e quente, explodiu dentro de mim.

Levantei-me da cama, cambaleando, e olhei ao redor do quarto. Nossas fotos, nossos vinte anos de memórias emolduradas nas paredes.

Com um grito de fúria, eu soquei a mesinha de centro de vidro.

Ela se estilhaçou, o som ecoando pelo silêncio da casa.

Clara recuou, os olhos arregalados de surpresa, talvez até de medo.

Pela primeira vez em muito tempo, eu não era o marido dócil e complacente.

Eu era um homem que não tinha mais nada a perder.

                         

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