O Pesadelo do Casamento Morto
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Capítulo 2

A volta para o hotel que Pedro reservou para nós foi silenciosa. Alice, exausta pela viagem e pela emoção, adormeceu no banco de trás assim que o carro começou a andar. Pedro dirigia, com as mãos apertando o volante. Ele tentava puxar conversa, falar sobre o trânsito, sobre o projeto, sobre qualquer coisa que não fosse o elefante branco que estava sentado entre nós. Eu não respondia.

Quando chegamos ao quarto do hotel e eu coloquei Alice na cama, finalmente me virei para ele. A raiva, fria e precisa, tinha substituído o choque.

"Pedro", eu disse, minha voz baixa e firme. "Me dá o seu celular."

Ele estava tirando o paletó e parou no meio do movimento. Ele se virou para mim, tentando um sorriso cansado. "Meu amor, pra quê? Vamos conversar. Você está chateada, eu entendo. A Sofia pode ser um pouco... expansiva."

"Eu não pedi uma explicação", eu disse, estendendo a mão. "Eu pedi o seu celular. Agora."

Ele hesitou, o sorriso falso desaparecendo de seu rosto. "Júlia, não vamos começar uma briga. Estamos cansados. Alice está aqui."

Eu dei um passo à frente, meu corpo tremendo com uma fúria contida. "Não use a nossa filha. Me dê a porcaria do celular, Pedro."

Ele me olhou, vendo a determinação nos meus olhos. Ele suspirou, derrotado, e tirou o celular do bolso, entregando-o para mim.

"Não tem nada aí, Júlia. Você está criando coisas na sua cabeça."

Minha mão tremeu um pouco quando peguei o aparelho. Eu sabia a senha dele. Era a data de aniversário de Alice. Tentei, e o celular desbloqueou. O fato de ele não ter mudado a senha me deu um nó na garganta. Era arrogância ou descuido?

Abri o aplicativo de mensagens. O nome dela estava lá, no topo da lista: "Sofia". O apelido ao lado do nome me fez sentir um enjoo físico: "Meu Anjo".

Abri a conversa.

As mensagens eram um soco no estômago. Fotos. Declarações. Planos.

"Estou com saudades, meu anjo. A cama fica vazia sem você."

"Mal posso esperar para o fim de semana. Aquele hotel que você falou parece perfeito."

Havia uma mensagem dela, enviada poucos minutos antes de eu chegar ao escritório: "Sua esposa ainda acha que você é o marido perfeito? Coitada."

A resposta de Pedro: "Deixa ela pra lá. O que importa somos nós."

Mas o pior ainda estava por vir. Rolei a tela para cima, passando por semanas, meses de conversas. E então eu vi.

"Tive que inventar uma viagem de trabalho para o feriado. A Júlia acreditou, como sempre."

"Minha garganta está doendo hoje, amor. Traz aquele remédio que você comprou pra mim?" E a resposta dela: "Claro, meu bem. E levo um caldo quente pra você melhorar logo."

Eu me lembrei daquele dia. Eu tinha ligado para ele, preocupada, e ele disse que a dor de garganta era leve, que não precisava de nada, que estava se cuidando.

Agora, no celular, eu via a verdade. Naquela mesma noite, ele trocava mensagens com Sofia.

"A patroa ligou de novo. Drama porque a pirralha está com febre."

A resposta dela: "Deixa elas pra lá, amor. Volta pra cá. Estou te esperando." E uma foto dela, na cama, vestindo uma lingerie que eu nunca tinha visto.

Meu estômago se revirou. Eu quase vomitei ali mesmo, no carpete do hotel. A dor era física. Era como se uma mão gigante estivesse apertando meu peito, me tirando o ar. Todo o meu corpo tremia.

Lembrei-me do nosso aniversário de casamento, poucas semanas antes. Ele me ligou por vídeo. Mostrou o quarto de hotel solitário, disse que estava trabalhando até tarde, que sentia muito por não estar comigo. Prometeu me compensar. Eu acreditei. Chorei de saudade depois que desligamos.

A verdade estava ali, na galeria de fotos do celular dele, escondida em uma pasta "trancada". Fotos dele e de Sofia. No mesmo quarto de hotel. Sorrindo. Abraçados. Uma taça de champanhe na mão dela. A data da foto era o dia do nosso aniversário.

Cada detalhe era uma nova camada de traição. Não era só sexo. Era intimidade. Era companheirismo. Era uma vida dupla, construída sobre as minhas costas, sobre a minha dedicação.

Pedro se aproximou de mim, cauteloso. "Júlia, por favor. Me perdoa. Foi uma fraqueza, eu... eu estava sozinho aqui, sob pressão."

"Me perdoa?", eu repeti, a voz rouca de incredulidade. "Você quer que eu te perdoe? Você mentiu pra mim! Você me humilhou! Você me fez de idiota!"

"Não fala assim", ele pediu, tentando tocar meu braço. Eu me afastei como se ele estivesse em chamas.

"Como você quer que eu fale, Pedro? Quer que eu agradeça por você ter sido 'discreto'? Quer que eu finja que não vi nada? Você estava com ela no nosso aniversário! Enquanto eu chorava de saudades, você estava comemorando com a sua amante!"

As palavras saíam da minha boca, mas pareciam pertencer a outra pessoa. A Júlia que existia até uma hora atrás jamais gritaria assim. A Júlia de antes acreditava em diálogo, em compreensão. Mas aquela Júlia morreu no momento em que eu vi o pânico nos olhos dele.

"O que você quer que eu diga, Júlia? Que eu errei? Eu errei! Eu sou um lixo, um canalha! Você quer que eu me ajoelhe? Eu me ajoelho!", ele disse, a voz se alterando, misturando desespero com irritação.

"Eu não quero nada de você", eu sussurrei, sentindo um vazio gelado tomar conta de mim. "Eu só quero entender... por quê?"

Ele não respondeu. Apenas ficou ali, me olhando, o grande empresário de sucesso reduzido a um menino pego fazendo algo errado. Mas a mentira ainda estava em seus olhos. Eu via. Ele não estava arrependido por ter me traído. Ele estava arrependido por ter sido pego.

A imagem de Sofia sorrindo para mim no escritório voltou à minha mente. Aquele sorriso presunçoso, desafiador. Ela sabia. Ela sabia de tudo. E ela se deliciava com isso.

Meu casamento não estava em crise. Meu casamento estava morto. E eu tinha acabado de chegar ao funeral.

            
            

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