O Pesadelo do Casamento Morto
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Capítulo 3

Quinze anos. Nós estávamos juntos há quinze anos.

Eu o conheci na faculdade. Ele, um estudante de administração ambicioso e charmoso, eu, uma estudante de arquitetura cheia de sonhos. Nós nos apaixonamos, construímos uma vida juntos. Eu o apoiei quando ele decidiu abrir a própria empresa, trabalhando noites a fio ao seu lado, fazendo o design do primeiro escritório dele.

Quando me formei, eu era uma das melhores da minha turma. Recebi propostas de grandes escritórios, tinha um futuro brilhante pela frente. Mas então, a empresa de Pedro começou a decolar. Ele precisava viajar mais, se dedicar mais. E logo depois, Alice nasceu.

A decisão foi minha. Eu escolhi deixar minha carreira em segundo plano. Escolhi ser a base, o porto seguro para que ele pudesse voar. Eu cuidava da casa, da nossa filha, de tudo. Eu me tornei a esposa perfeita, a mãe perfeita. E eu acreditava que tínhamos a família perfeita.

Que piada.

Olhando para as mensagens no celular dele, vi a cronologia da traição. Começou sutilmente, meses atrás. Eram mensagens de trabalho que se tornavam pessoais. Elogios. Desabafos. A teia foi sendo tecida ao meu redor, e eu, cega de amor e confiança, não vi nada.

Lembrei-me de uma noite, há uns dois meses. Alice estava com febre alta, não parava de chorar. Liguei para Pedro, desesperada. Ele atendeu com a voz sonolenta, disse que estava em uma reunião tarde da noite, que não podia falar. Pediu para eu me acalmar, dar o remédio e que tudo ficaria bem.

Agora, no celular, eu via a verdade. Naquela mesma noite, ele trocava mensagens com Sofia.

"A patroa ligou de novo. Drama porque a pirralha está com febre."

A resposta dela: "Deixa elas pra lá, amor. Volta pra cá. Estou te esperando." E uma foto dela, na cama, vestindo uma lingerie que eu nunca tinha visto.

Meu estômago se revirou. Eu quase vomitei ali mesmo, no carpete do hotel. A dor era física. Era como se uma mão gigante estivesse apertando meu peito, me tirando o ar. Todo o meu corpo tremia.

Lembrei-me do nosso aniversário de casamento, poucas semanas antes. Ele me ligou por vídeo. Mostrou o quarto de hotel solitário, disse que estava trabalhando até tarde, que sentia muito por não estar comigo. Prometeu me compensar. Eu acreditei. Chorei de saudade depois que desligamos.

A verdade estava ali, na galeria de fotos do celular dele, escondida em uma pasta "trancada". Fotos dele e de Sofia. No mesmo quarto de hotel. Sorrindo. Abraçados. Uma taça de champanhe na mão dela. A data da foto era o dia do nosso aniversário.

Cada detalhe era uma nova camada de traição. Não era só sexo. Era intimidade. Era companheirismo. Era uma vida dupla, construída sobre as minhas costas, sobre a minha dedicação.

Pedro se aproximou de mim, cauteloso. "Júlia, por favor. Me perdoa. Foi uma fraqueza, eu... eu estava sozinho aqui, sob pressão."

"Me perdoa?", eu repeti, a voz rouca de incredulidade. "Você quer que eu te perdoe? Você mentiu pra mim! Você me humilhou! Você me fez de idiota!"

"Não fala assim", ele pediu, tentando tocar meu braço. Eu me afastei como se ele estivesse em chamas.

"Como você quer que eu fale, Pedro? Quer que eu agradeça por você ter sido 'discreto'? Quer que eu finja que não vi nada? Você estava com ela no nosso aniversário! Enquanto eu chorava de saudades, você estava comemorando com a sua amante!"

As palavras saíam da minha boca, mas pareciam pertencer a outra pessoa. A Júlia que existia até uma hora atrás jamais gritaria assim. A Júlia de antes acreditava em diálogo, em compreensão. Mas aquela Júlia morreu no momento em que eu vi o pânico nos olhos dele.

"O que você quer que eu diga, Júlia? Que eu errei? Eu errei! Eu sou um lixo, um canalha! Você quer que eu me ajoelhe? Eu me ajoelho!", ele disse, a voz se alterando, misturando desespero com irritação.

"Eu não quero nada de você", eu sussurrei, sentindo um vazio gelado tomar conta de mim. "Eu só quero entender... por quê?"

Ele não respondeu. Apenas ficou ali, me olhando, o grande empresário de sucesso reduzido a um menino pego fazendo algo errado. Mas a mentira ainda estava em seus olhos. Eu via. Ele não estava arrependido por ter me traído. Ele estava arrependido por ter sido pego.

A imagem de Sofia sorrindo para mim no escritório voltou à minha mente. Aquele sorriso presunçoso, desafiador. Ela sabia. Ela sabia de tudo. E ela se deliciava com isso.

Meu casamento não estava em crise. Meu casamento estava morto. E eu tinha acabado de chegar ao funeral.

            
            

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