Na foto, Pedro abraçava outra mulher. Não era um abraço de amigos. A mão dele estava na cintura dela, os corpos colados, os sorrisos largos e cúmplices. A mulher, uma loira de aparência sofisticada, olhava para ele com uma adoração que Maria conhecia bem, pois era o mesmo olhar que ela mesma lhe dava. A legenda dizia: "Com meu amor, celebrando o futuro. #poder #sucesso".
O ar sumiu de seus pulmões. O teste de gravidez em sua mão de repente pareceu pesado, frio. Não podia ser verdade. Devia ser um mal-entendido, uma brincadeira de mau gosto.
Horas mais tarde, quando Pedro chegou em casa, Maria estava sentada no sofá, em silêncio, a foto ainda aberta na tela do celular.
Ele entrou, cantarolando, e parou ao vê-la.
"O que foi, meu bem? Que cara é essa?"
Ela não respondeu. Apenas virou a tela do celular para ele.
Pedro olhou a foto e seu sorriso desapareceu, mas não havia pânico em seus olhos. Havia apenas um cansaço, uma frieza que a assustou.
"Ah. Você viu."
Foi tudo o que ele disse.
"Quem é ela, Pedro?" a voz de Maria era um sussurro trêmulo.
Ele suspirou, sentando-se na poltrona em frente a ela, como se estivessem em uma reunião de negócios.
"O nome dela é Sofia Costa."
Ele fez uma pausa, como se escolhesse as palavras com cuidado.
"Ela é a filha de um dos maiores fazendeiros de café do país. Ela vai me ajudar. A empresa está quase falida, Maria. A Sofia é a minha salvação."
Cada palavra era um golpe. Ele não estava negando. Ele estava justificando.
"Então é isso? Você está me trocando por dinheiro?"
"Não seja tão simplista," ele disse, impaciente. "Isso é sobre futuro, sobre status. É algo que você não pode me dar. Eu quero o divórcio."
Divórcio. A palavra ecoou na sala silenciosa. Maria sentiu o chão desaparecer sob seus pés. Ela olhou para o homem com quem era casada há três anos, o homem para quem ela havia dedicado sua vida, e não o reconheceu.
Sua mente girava. Filha de um fazendeiro de café? A história parecia estranhamente específica, quase ensaiada. Por que ele estava dizendo isso a ela? Por que tantos detalhes? Uma sensação de irrealidade a dominou.
"Você... você está falando sério?" ela gaguejou, a confusão misturada à dor.
Pedro, percebendo sua hesitação e talvez lembrando-se da dependência dela, mudou de tática. Ele se inclinou para frente, com um tom que pretendia ser razoável.
"Olha, não precisa ser assim. Eu sei que você está grávida."
Maria congelou. Como ele sabia?
"Eu vi o teste no lixo do banheiro," ele disse, sem rodeios. "Podemos fazer um acordo. Você fica aqui, tem o nosso filho. Ninguém precisa saber de nada. Eu continuo com a Sofia, ela financia meus projetos, e eu sustento vocês dois. Podemos coexistir. É a melhor solução para todos."
A proposta era tão absurda, tão humilhante, que algo dentro de Maria se partiu. A tristeza deu lugar a uma fúria cega.
Ela se levantou de um salto.
O som do tapa estalou no silêncio da sala.
A marca vermelha dos dedos dela apareceu instantaneamente no rosto dele.
"Seu monstro!" ela gritou, a voz rouca de dor e raiva.
Ela pegou o pequeno teste de plástico do bolso e o atirou contra o peito dele.
"Aqui está a sua 'melhor solução'!"