E ela acreditou. Desistiu do emprego, usou suas economias para investir no sonho dele, aprendeu sobre finanças, trabalhou como sua assistente não remunerada, organizando planilhas até tarde da noite, movida a café e pela promessa de um futuro que construiriam juntos. Cada sacrifício parecia um investimento no amor deles.
Agora, sentada na escuridão do quarto, a realidade da traição a esmagava. Como ela pôde ser tão cega? Como pôde ter dado tudo de si para um homem que a descartaria como um objeto quebrado? A noite lá fora era uma tempestade, e os trovões pareciam ecoar o caos em sua alma. Ela se sentia um lixo, uma idiota. A vergonha era quase tão dolorosa quanto a traição.
No dia seguinte, Pedro voltou. Ele agia como se a discussão horrível da noite anterior não tivesse acontecido. Trazia uma sacola de papel da padaria favorita dela.
"Eu trouxe pão de queijo quentinho," ele disse com um sorriso forçado, colocando a sacola na mesa da cozinha.
A visão daquele gesto, tão cotidiano e agora tão falso, revirou o estômago de Maria. Era um insulto à sua inteligência, à sua dor.
Ela o encarou, os olhos secos de tanto chorar.
"Você acha que um pão de queijo conserta isso?" sua voz era gelada, cortante.
O sorriso de Pedro vacilou e desapareceu. A paciência dele era curta. A máscara de bom moço caiu, revelando o homem calculista por baixo.
"Chega de drama, Maria," ele disse, o tom mudando de amigável para áspero. Ele tirou uma pasta de sua maleta e a jogou sobre a mesa. "Aqui estão os papéis do divórcio. Assine."
Ela abriu a pasta. Os termos eram brutais. Ela não receberia nada. Abriria mão de todos os direitos sobre os bens do casal, que, segundo o documento, eram basicamente dívidas da empresa.
"Você está louco," ela disse, incrédula. "Metade de tudo é meu por direito."
"Que metade?" ele riu, um som cruel. "A empresa está afundada em dívidas. Você não tem emprego, não tem dinheiro. E está grávida."
Ele se aproximou, sua presença física uma ameaça.
"Se você não assinar, eu vou garantir que você não receba um centavo. Vou lutar pela guarda do bebê e vou provar que você é uma mãe instável e incapaz. Você vai acabar na rua, sozinha e sem nada. É isso que você quer?"
Maria olhou para o rosto dele, para os olhos frios e a boca torcida em um sorriso de desprezo. Este não era o Pedro por quem ela se apaixonou. Este era um estranho, um predador que conhecia todas as suas fraquezas e não hesitaria em usá-las contra ela. A profundidade de sua crueldade era um abismo, e ela sentiu uma vertigem de puro desespero. Ele a havia encurralado completamente.