"A família Bernardes é tradicional, e eu respeito isso", ele disse, com falsa diplomacia. "Mas eu busco inovação, alma, algo que o dinheiro não pode comprar. Isabela tem um dom, uma sorte, uma energia que se alinha com a minha. Nossos mapas astrais são perfeitamente compatíveis, um consultor me garantiu que nossa união traria uma prosperidade sem precedentes."
Mapas astrais, ele estava justificando a destruição do nosso noivado e de uma aliança de negócios multibilionária com mapas astrais.
A desculpa era tão ridícula que por um momento o choque deu lugar a um desprezo profundo.
Ele se inclinou e deu um beijo suave na testa de Isabela, um gesto calculado para as câmeras que piscavam sem parar.
"Ela é minha musa, minha sorte", ele sussurrou no microfone, e a multidão suspirou, alguns comovidos, outros cínicos.
Eu sentia o olhar dele finalmente em mim, esperando uma reação, uma explosão, lágrimas.
Eu apenas o encarei de volta, com uma calma que parecia assustá-lo mais do que qualquer grito.
Meu pai se moveu para ficar ao meu lado, sua presença era uma muralha silenciosa.
"Ana Clara", a voz de Pedro soou novamente, agora com um tom de falsa generosidade. "Sei que isso é inesperado, mas não quero que pense que não há lugar para você. Ofereço a você a posição de gerente de operações, para supervisionar a produção. Tenho certeza que suas habilidades administrativas serão muito úteis."
Ele estava me oferecendo um cargo de funcionária na empresa que eu deveria liderar, para trabalhar sob o comando da filha da governanta.
A humilhação foi tão calculada, tão precisa, que senti o ar faltar.
Isabela, percebendo a tensão, agarrou o braço de Pedro.
"Oh, não, Pedro, eu não posso aceitar", ela disse, com a voz trêmula. "A senhorita Ana Clara é... ela é a herdeira Bernardes, eu não sou ninguém, não posso tomar o lugar dela."
Falsa modéstia, a arma mais antiga e eficaz dos manipuladores.
"Você não está tomando nada, meu amor", Pedro a consolou, alto o suficiente para todos ouvirem. "Isso é o destino, você merece."
Ele então se virou para a multidão novamente para explicar a história deles.
"Muitos de vocês não sabem, mas a mãe de Isabela trabalha para minha família há mais de vinte anos, ela cuidou de mim quando eu era criança, Isabela cresceu na minha casa, ela é como família, e a lealdade da família dela merece ser recompensada."
A história era perfeita, a pobre e leal criada que conquista o coração do príncipe.
Ele estava transformando nossa história de negócios em um conto de fadas barato, e eu era a vilã rica e sem coração.
Eu dei um passo à frente, e o silêncio caiu novamente, todos esperavam minha resposta.
"Pedro", eu disse, minha voz clara e firme, sem nenhum tremor. "Desejo a você e a Isabela toda a sorte do mundo com seus mapas astrais."
Me virei para meu pai e minha mãe.
"Vamos para casa."
Não dei a ele o prazer de uma cena, não dei a eles a satisfação de me ver quebrar.
Enquanto caminhava para a saída, de cabeça erguida, passando pelas mesas dos designers e empresários que antes me reverenciavam, eu podia ouvir os sussurros.
Eles não estavam apenas fofocando, estavam testemunhando o início de uma guerra.
E Pedro, cego por sua suposta "sorte", acabara de armar seu inimigo mais perigoso.