Traição e Vingança: O Retorno de Laura
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Capítulo 1

A voz da velha era baixa e rouca, quase um sussurro no meio do barulho da cafeteria quase vazia.

"Cuidado com aqueles que você chama de amigos, minha querida."

Eu levantei o olhar do meu caderno de desenhos, irritada pela interrupção. Uma senhora com o rosto cheio de rugas me encarava do outro lado da pequena mesa, seus olhos eram escuros e difíceis de ler. Eu só tinha sentado ali porque era a única mesa perto da tomada.

"Desculpe, a senhora está falando comigo?"

"A traição vem de onde menos se espera," ela continuou, ignorando minha pergunta. "Do amigo de infância que te oferece o mundo, da amiga íntima que sorri no seu rosto."

Um calafrio percorreu minha espinha, mas eu o ignorei. Eu era Laura, uma estudante de design, uma pessoa lógica. Não tinha tempo para profecias malucas de estranhos.

"Acho que a senhora me confundiu com outra pessoa," eu disse, forçando um sorriso educado e me virando de volta para o meu trabalho.

Eu estava finalizando os últimos detalhes do meu projeto para a bolsa de estudos de design mais prestigiada do país. Era a minha chance de ouro, e eu não ia deixar nada me distrair.

Mais tarde naquela noite, mostrei os rascunhos para Lucas, meu melhor amigo desde que éramos crianças. Nós crescemos juntos, nossas famílias eram vizinhas. Ele era a pessoa em quem eu mais confiava no mundo.

"Laura, isso está incrível!" ele disse, seus olhos brilhando de admiração enquanto folheava meu portfólio. "Você vai ganhar, não tenho a menor dúvida. Você é a pessoa mais talentosa que eu conheço."

Suas palavras eram um bálsamo. Ele sempre sabia o que dizer para me acalmar e me dar confiança. Eu sorri, agradecida.

"E a Sofia? O que você acha do projeto dela?" perguntei. Sofia era minha amiga mais próxima na faculdade, e nós três formávamos um trio inseparável.

"O da Sofia é bom," Lucas disse, com uma leve hesitação, "mas o seu tem alma. É diferente."

A conversa com a velha na cafeteria voltou à minha mente, mas eu a afastei. Era ridículo. Lucas e Sofia eram minha família.

No dia seguinte, a mesma senhora me encontrou na saída da universidade. Ela agarrou meu braço com uma força surpreendente.

"O pingente que você usa," ela sussurrou, seu olhar fixo no colar em meu pescoço. Era um presente de aniversário de Lucas, de anos atrás. "Ele carrega mais do que memórias. Não o dê a ninguém. Mas se a dor se tornar insuportável, saiba que o que é seu pode ser devolvido ao verdadeiro dono."

Ela me soltou e desapareceu na multidão antes que eu pudesse responder. Fiquei parada, o coração batendo rápido. Aquele aviso tinha sido específico demais. Perturbador demais.

Uma dúvida minúscula, como uma semente, foi plantada na minha mente. Lembrei-me de uma vez, no semestre passado, quando uma ideia de design que eu tinha confidenciado apenas a Sofia apareceu, com pequenas modificações, no projeto dela. Quando a confrontei, ela chorou e disse que foi uma coincidência infeliz. Lucas interveio, me acalmou e disse que eu estava sendo paranoica por causa da pressão. Eu acreditei nele. Eu sempre acreditava.

Naquela noite, eu precisava devolver um livro de referência raro que Lucas havia me emprestado. Mandei uma mensagem, mas ele não respondeu. Como eu tinha a chave do apartamento dele, decidi passar lá e apenas deixar o livro na entrada.

A porta rangeu um pouco quando a abri. A luz da sala estava acesa. E então, eu ouvi vozes. A voz de Lucas e a de Sofia.

"Ela não suspeita de nada," Lucas dizia, com um tom divertido que eu nunca tinha ouvido antes. "Ela realmente acredita que eu estou do lado dela. Mostrou-me todo o projeto final. Já passei todos os detalhes para você."

Meu sangue gelou. Fiquei paralisada atrás da porta, mal respirando.

"E se ela descobrir?" a voz de Sofia soava ansiosa. "Laura não é idiota."

"Não se preocupe," Lucas riu. "Eu conheço a Laura melhor do que ela mesma. Quando os resultados saírem e ela perder, ela vai ficar arrasada. E quem vai estar lá para consolá-la? Eu. Ela vai ficar tão quebrada, tão dependente de mim, que nunca mais vai pensar em ir para o exterior ou em ter uma carreira. Ela vai ser minha. Só minha."

O ar escapou dos meus pulmões. O som no meu peito não era de um coração batendo, mas de algo se quebrando em mil pedaços. A traição não era uma faca nas costas, era o chão desaparecendo sob meus pés. Meu melhor amigo, meu irmão de alma, e minha amiga mais querida, haviam conspirado para destruir meu sonho, para me quebrar.

"Você pegou os arquivos digitais dela?" Sofia perguntou.

"Sim. Ela confia em mim o suficiente para me dar a senha do computador dela. Já está tudo no seu pen drive. Apenas mude algumas cores, a disposição dos elementos... Ninguém vai notar. O conceito principal, que é a parte genial, será seu."

Eu me afastei da porta, cambaleando para trás, com a mão na boca para abafar um soluço. O livro caiu da minha mão, fazendo um barulho surdo no corredor. Eu não esperei para ver se eles ouviram. Eu corri.

Corri sem rumo pelas ruas escuras, as lágrimas cegando minha visão. A dor era física, uma pressão esmagadora no meu peito. As palavras da velha ecoavam na minha cabeça: "Cuidado com aqueles que você chama de amigos." "O que é seu pode ser devolvido ao verdadeiro dono."

Desespero e uma fúria gelada começaram a tomar conta de mim. Eles não iam vencer. Eles não iam me destruir.

Parei sob um poste de luz, ofegante. Minha mão foi instintivamente para o colar no meu pescoço. O pingente de Lucas. "Ele carrega mais do que memórias."

Uma ideia desesperada, nascida da dor e da raiva, tomou forma na minha mente. Um plano.

No dia seguinte, encontrei Sofia na biblioteca. Meus olhos estavam vermelhos e inchados, e eu forcei uma expressão de desamparo.

"Sofia, eu preciso de ajuda," murmurei, a voz trêmula. "Estou tão sobrecarregada, acho que não vou conseguir terminar o projeto a tempo."

Ela me ofereceu um abraço, um gesto que agora me causava repulsa. Enquanto ela me confortava com palavras vazias e promessas falsas, eu agi. Com um movimento rápido e discreto, desabotoei meu colar e o deixei escorregar para dentro do bolso aberto da bolsa dela.

O pingente estava com ela agora.

A cerimônia de transferência estava completa. Que o jogo comece.

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