A consequência mais imediata foi a perda do meu acesso aos laboratórios de design avançado da faculdade. Eram a minha principal ferramenta para o projeto da bolsa. Sem eles, eu estava praticamente de mãos atadas. Meu sonho, que antes parecia tão próximo, agora estava a quilômetros de distância.
O golpe seguinte foi financeiro. Eu tinha um emprego de meio período como assistente de design em um pequeno estúdio, uma posição que consegui por indicação do mesmo professor que agora me desprezava. Dois dias depois do incidente, meu chefe me chamou para sua sala.
"Laura, ouvi o que aconteceu na faculdade," ele disse, sem rodeios. "Não podemos ter esse tipo de reputação associada ao nosso estúdio. Sinto muito, mas terei que te dispensar."
E assim, em menos de uma semana, eu perdi minha reputação acadêmica, minhas ferramentas de trabalho e minha fonte de renda. O aluguel do meu pequeno apartamento estava para vencer, e eu não tinha como pagar. O desespero começou a se infiltrar, frio e pesado.
Foi nesse momento de vulnerabilidade que Lucas intensificou seu papel de salvador.
"Laurinha, não se preocupe com dinheiro," ele disse, me encontrando no campus. Ele parecia genuinamente preocupado, um ator digno de um Oscar. "Eu posso te ajudar. Deixe-me pagar seu aluguel este mês."
Ele me estendeu um envelope com dinheiro. O cheiro do papel me enjoava.
"Eu não posso aceitar, Lucas."
"Claro que pode. Somos amigos, não somos? Estou aqui para te apoiar. Você está passando por um momento difícil, é o mínimo que posso fazer."
Sua generosidade era uma corrente, projetada para me prender a ele. Sua preocupação era o veneno que ele queria que eu bebesse. Mas eu precisava que ele acreditasse que seu plano estava funcionando.
Com lágrimas falsas nos olhos, eu peguei o envelope.
"Obrigada, Lucas. Eu não sei o que faria sem você."
Ele sorriu, um brilho de posse em seus olhos. Ele pensou que eu estava caindo na armadilha dele, me tornando a garota quebrada e dependente que ele tanto desejava.
Enquanto eu fingia me afundar, comecei a notar pequenas coisas acontecendo com Sofia. Coisas que poderiam ser coincidências, mas que, para mim, eram sinais. Um dia, a vi derrubar um copo de café sobre seus esboços finais, arruinando horas de trabalho. Em outra ocasião, ouvi de um colega que o computador dela tinha travado e ela perdeu quase um dia de progresso no portfólio.
Eu a observei de longe. O pingente, que ela agora usava com mais frequência, parecia ter perdido um pouco do seu brilho. Estava mais opaco, quase sem vida.
A "ajuda" de Lucas durou pouco. Quando o próximo aluguel venceu, ele começou a se esquivar. Minhas ligações iam para a caixa postal. Suas mensagens se tornaram curtas e evasivas. "Estou ocupado", "Não posso falar agora". Ele estava me deixando na mão, exatamente como eu previ. Era parte do plano dele: me dar um gostinho de segurança e depois arrancá-la, para que eu voltasse rastejando e implorando.
Eu não implorei. Usei o pouco dinheiro que tinha para comida e continuei trabalhando no meu projeto em casa, com recursos limitados, redesenhando tudo à mão, fotografando com meu celular.
A situação com o aluguel chegou ao limite. O proprietário, um homem rude e impaciente, bateu na minha porta em uma noite de sexta-feira.
"O aluguel, garota! Já passou uma semana!" ele gritou, sua voz ecoando pelo corredor.
"Eu sinto muito, eu tive um imprevisto. Vou pagar na próxima semana, eu prometo," eu disse, a voz trêmula.
"Promessas não pagam minhas contas! Se você não tiver o dinheiro até amanhã, suas coisas estarão na rua!"
Em um último ato de desespero calculado, liguei para Lucas. Ele atendeu, sua voz irritada.
"Laura, eu estou no meio de algo importante com a Sofia. O que foi?"
"Lucas, é o proprietário. Ele está aqui, está me ameaçando. Eu preciso do dinheiro agora."
Houve uma pausa. Eu podia ouvi-lo suspirar, um som de puro aborrecimento.
"Olha, eu não posso sair agora. Dê um jeito. Peça a ele para esperar. Eu te vejo amanhã."
E ele desligou.
Naquele exato momento, o proprietário, que ouviu minha parte da conversa, perdeu a paciência.
"Já chega de desculpas!" ele rosnou, empurrando a porta para entrar.
Eu tentei impedi-lo, colocando meu corpo na frente. "O senhor não pode entrar!"
Ele me empurrou para o lado. Não foi com muita força, mas eu estava desequilibrada e cansada. Tropecei no meu próprio pé e caí, meu tornozelo virando de forma grotesca sob o meu peso. Uma dor aguda e lancinante subiu pela minha perna. Eu gritei, mais de choque do que de dor.
O homem parou, seus olhos se arregalaram por um segundo, e então ele recuou.
"Isso não é problema meu," ele resmungou, e foi embora, deixando a porta aberta.
Eu fiquei ali, caída no chão do meu apartamento, com o telefone mudo na mão e uma dor terrível no tornozelo. Sozinha. Humilhada. Ferida. Lucas me abandonou no momento em que eu mais "precisei" dele. O plano dele estava funcionando perfeitamente.
E o meu também. O sofrimento dele seria proporcional ao meu. E eu estava apenas começando a colecionar as minhas feridas.
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