Casamento de Aparências, Amor Real?
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Capítulo 1

A notícia da batida de carro de Pedro explodiu como uma bomba no meio da tarde, bem no auge dos preparativos para a semana de moda. O ateliê, normalmente um santuário de criatividade e calma, mergulhou no caos. Telefones não paravam de tocar, jornalistas se acotovelavam na porta, e a equipe andava de um lado para o outro, com os olhos cheios de pânico e incerteza. O ar ficou pesado, e a pressão era quase palpável, como se o império que eu construí pudesse desmoronar a qualquer momento.

Eles olhavam para mim, esperando uma reação, uma ordem, qualquer sinal de que a rainha ainda estava no trono.

Eu estava no meio de uma prova de vestido com uma cliente importante. Respirei fundo, ignorei o zumbido crescente de ansiedade ao meu redor e me concentrei no tecido em minhas mãos.

"Ana" , chamei minha assistente, minha voz saindo firme, sem um pingo de hesitação.

"Maria Clara, a imprensa está louca! O que a gente faz? O Pedro... ele..." Ana estava pálida, com o celular tremendo na mão.

Eu a encarei, um olhar que ela conhecia bem, o mesmo que usava para acalmar investidores nervosos ou demitir um funcionário incompetente. Coloquei a mão em seu ombro.

"Cancele minhas próximas duas horas. Divulgue uma nota oficial: 'Pedro está estável e recebendo os melhores cuidados. Agradecemos a preocupação e pedimos privacidade' . Apenas isso. Nenhuma entrevista, nenhuma especulação. Controle a narrativa, Ana. É isso que fazemos."

Minha calma pareceu se espalhar pela sala. Os murmúrios diminuíram. Os ombros tensos relaxaram um pouco. Eles se lembraram de quem estava no comando. Eu não era apenas a esposa de um jogador de futebol famoso, eu era Maria Clara, a fundadora de uma marca que valia milhões, a mulher que ditava tendências e movia o mercado de luxo no Brasil.

Sozinha no meu escritório, finalmente permiti que a máscara caísse. Sentei-me na minha cadeira de couro italiano e olhei para o horizonte de São Paulo pela janela panorâmica. Casamento. Amor. Para o público, Pedro e eu éramos o casal perfeito, a união de poder, beleza e sucesso. Mas a realidade era um contrato, uma aliança estratégica. Eu oferecia a ele a sofisticação e a imagem de estabilidade que sua carreira precisava, e ele me dava acesso a um mundo de publicidade e glamour que impulsionava minha marca. Amor romântico nunca fez parte do acordo.

Essa era a lição mais importante que aprendi, não nos livros de negócios, mas no colo da minha mãe. Ela, uma galerista de arte influente, casada com meu pai, um político poderoso, sempre me ensinou que o poder e a independência eram os únicos ativos que uma mulher realmente possuía. Emoções eram fraquezas, distrações perigosas no caminho para o topo.

Lembro-me de ter doze anos, chorando por causa de algum garoto da escola que não me deu atenção. Minha mãe me encontrou no meu quarto, secou minhas lágrimas e me levou para sua galeria. Ela apontou para um quadro imponente, uma pintura abstrata cheia de força e cores ousadas.

"Querida" , ela disse, sua voz suave, mas firme. "Homens vêm e vão. Paixões desaparecem como a chuva de verão. Mas isso" , ela gesticulou para a galeria inteira, "seu talento, sua inteligência, seu nome... isso é para sempre. Construa seu próprio castelo, Maria Clara, para que você nunca precise ser a princesa desamparada de ninguém."

Eu nunca mais chorei por um homem. Eu construí meu castelo, tijolo por tijolo, com ambição e estratégia. Meu casamento com Pedro era apenas mais uma torre de defesa, uma fachada bem construída para proteger o que realmente importava: meu império.

Horas depois, Pedro chegou em casa. Não veio de ambulância, mas num carro de luxo discreto, com um batalhão de seguranças abrindo caminho. Ele mancava um pouco, o braço numa tipóia, mas o sorriso charmoso ainda estava lá. E ao lado dele, ajudando-o a andar, estava uma garota. Jovem, bonita de um jeito comum, vestindo um uniforme de fisioterapeuta que parecia barato e deslocado na entrada suntuosa da nossa mansão.

Ela olhou para mim, que esperava na porta com uma expressão neutra, e seu olhar não era de uma funcionária, mas de alguém que se sentia em casa. Pior, ela olhou para mim com um misto de pena e desafio, como se eu fosse um obstáculo a ser removido.

Pedro sorriu, um pouco sem graça. "Clara, esta é a Sofia. Ela me salvou. Estava lá na hora do acidente, me tirou do carro..."

Sofia interrompeu, sua voz doce, mas com uma audácia impressionante. "Foi o destino, não foi, Pedro? Eu senti que precisava estar lá."

Ela ignorou completamente minha presença, o olhar fixo no meu marido, a mão ainda em seu braço, um toque possessivo e familiar. Naquele momento, eu soube. Isso não era um simples resgate. Era o começo de uma guerra. E era uma guerra que aquela garotinha ingênua não tinha a menor chance de vencer.

            
            

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