Casamento de Aparências, Amor Real?
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Capítulo 2

Sofia agia como se a casa fosse dela. No primeiro dia, ela dispensou a governanta, dizendo com a maior naturalidade que ela mesma prepararia um "chá especial" para Pedro. A governanta, que trabalha para minha família há vinte anos e me viu crescer, me olhou chocada, esperando uma ordem. Eu apenas sorri.

"Deixe-a, Lúcia. Nossa convidada está cheia de boas intenções."

Enquanto Sofia se atrapalhava na cozinha, claramente sem saber onde ficava o açúcar, eu senti uma dor de cabeça começar. Era a audácia dela, a completa falta de noção. Ela não via as paredes invisíveis de poder e hierarquia que governavam aquele lugar. Para ela, tudo se resumia a sentimentos, a um suposto "amor verdadeiro" que lhe dava o direito de invadir meu espaço.

Eu a observei por um momento da porta da cozinha. Ela usava uma das camisetas de Pedro, que ficava como um vestido nela, e cantarolava uma música pop irritante. Ela não era uma ameaça, era uma piada. Mas uma piada que poderia se tornar um problema público se não fosse contida.

Decidi que a melhor estratégia, por enquanto, era dar-lhe corda para se enforcar. Deixei que ela cuidasse de Pedro, que trocasse suas bandagens, que lesse para ele. Pedro, entediado e adorando a atenção, aceitava tudo com um sorriso. Ele era como uma criança grande, facilmente seduzido por qualquer demonstração de afeto que não exigisse nada em troca. Eu sabia que a novidade passaria, mas precisava acelerar o processo. Respirei fundo. Eu tinha um império para gerir, e essa distração não era bem-vinda.

O ponto de virada aconteceu três dias depois. Eu estava no escritório de casa, numa videoconferência com investidores de Tóquio, finalizando um acordo milionário. A porta se abriu de supetão, sem bater. Sofia entrou, com o rosto vermelho de raiva.

"Maria Clara, precisamos conversar!"

Meus sócios japoneses na tela do computador me olharam, surpresos. Ana, que estava ao meu lado, levantou-se para interceptá-la.

"Sofia, a Maria Clara está numa reunião importante."

"Isso é mais importante!" , ela insistiu, ignorando Ana e marchando até minha mesa. "O Ricardo ligou para o Pedro. Aquele rival dele. Ele está espalhando para todo mundo que o Pedro está acabado, que o acidente foi o fim da carreira dele. Você precisa fazer alguma coisa!"

Eu olhei para ela, depois para a tela. Fiz um gesto de desculpas para os investidores e desliguei a chamada. O silêncio no escritório era pesado.

"Sofia" , comecei, a voz baixa e perigosamente calma. "Primeiro: você nunca mais entra no meu escritório sem ser anunciada. Segundo: os negócios do meu marido são da minha conta, não da sua. E terceiro: você acha que eu já não sabia sobre o Ricardo?"

Ela me olhou, confusa. "Então por que não fez nada?"

"Porque eu não reajo, eu planejo. E meus planos não incluem uma fisioterapeuta impulsiva me dizendo o que fazer."

Deixei-a parada ali, processando o insulto. Eu não me importava. Ela precisava entender os limites. Ignorei-a completamente, como se ela fosse um móvel barulhento, e voltei minha atenção para Ana.

"Ana, ligue para a editora da 'Fama & Fortuna' . Diga que tenho uma exclusiva para ela. Uma sessão de fotos aqui em casa. Pedro, em recuperação, forte e otimista. E eu, a esposa dedicada, ao seu lado. Vamos transformar essa crise em marketing."

Sofia assistia a tudo, boquiaberta. A cabeça dela, que só pensava em amor e ciúmes, não conseguia processar a frieza da minha estratégia. Ela achava que estava numa novela romântica, mas tinha entrado por engano numa sala de reuniões de uma grande corporação.

Naquela noite, enquanto instruía Ana sobre os mínimos detalhes da sessão de fotos – a roupa que Pedro usaria para esconder a tipóia, a iluminação que me favoreceria, as perguntas que a jornalista poderia ou não fazer –, vi Sofia no jardim, falando ao celular. Ela parecia agitada. Minha intuição me disse que ela estava conversando com um jornalista. Provavelmente algum paparazzi de quinta categoria, prometendo a ela uma "reportagem exclusiva sobre o verdadeiro amor de Pedro" .

Eu sorri comigo mesma. Ela estava fazendo exatamente o que eu esperava. Estava se expondo, mostrando sua ingenuidade e sua ambição barata para o mundo. Contratei um detetive particular no dia seguinte. Pedi a ele que descobrisse tudo sobre Sofia: seu passado, suas dívidas, suas ambições. E, o mais importante, que a seguisse. Cada passo, cada ligação. Eu precisava de munição.

A gota d' água foi quando ela tentou se meter nos meus negócios. Ela apareceu no meu ateliê, usando um dos meus vestidos de amostra, sem permissão. Tentou dar "sugestões" para a minha equipe de design sobre a nova coleção. A paciência da minha equipe, já no limite, acabou. Ana a expulsou educadamente, mas com firmeza.

Quando Ana me contou, eu soube que o tempo de observar tinha acabado. Sofia não era apenas ingênua, era perigosamente burra. Ela estava manchando não só a imagem de Pedro, mas a minha. E isso eu não podia permitir. Ela havia tocado naquilo que era mais sagrado para mim: a minha marca. A guerra havia sido declarada oficialmente.

            
            

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