Levei o Leo ao hospital de urgência. O médico disse que era uma infeção respiratória grave e que ele precisava de ficar internado para observação.
Enquanto o meu filho dormia, ligado a um soro intravenoso, sentei-me ao lado da sua cama, exausta.
O meu telemóvel vibrou. Era uma mensagem do Miguel.
"Como é que ele está? A Helena disse-me que o levaste ao hospital. Estás a exagerar, como sempre."
Não havia preocupação na sua mensagem, apenas acusação.
Respondi com uma fotografia do braço do Leo com o cateter do soro.
A sua resposta demorou, e quando chegou, foi curta.
"Eu vou aí amanhã de manhã. A Sofia está muito abalada com o Max, não a posso deixar sozinha esta noite."
Amanhã de manhã. O nosso filho estava num hospital, e ele só viria amanhã de manhã.
Senti uma calma estranha tomar conta de mim. A raiva e a dor tinham dado lugar a uma resolução fria.
Na manhã seguinte, o Miguel apareceu. Ele não veio sozinho. A Sofia estava com ele, com os olhos vermelhos e inchados.
"Viemos assim que pudemos," disse a Sofia, com a voz embargada. "O meu pobre Max... ele não sobreviveu à noite."
Ela começou a chorar, e o Miguel imediatamente a abraçou, confortando-a.
Ficaram ali, no meio do quarto de hospital do meu filho, a chorar a morte de um cão.
"Miguel," disse eu, a minha voz perigosamente calma. "Podes sair? Preciso de falar contigo a sós."
A Sofia olhou para mim, ofendida. "A Joana está a ser insensível, Miguel. Eu acabei de perder o meu melhor amigo."
"Ela está apenas stressada, Sofia. Espera lá fora um minuto," disse o Miguel, conduzindo-a gentilmente para o corredor.
Quando ele voltou, a sua cara estava fechada.
"Precisavas de ser tão rude com ela? A mulher está de luto."
"O nosso filho esteve doente a noite toda, e tu estavas a consolar outra mulher pela morte do cão dela," afirmei, sem emoção.
"Não fales assim! O Max era como um filho para ela!"
"O Leo é o teu filho, Miguel. O teu filho de verdade."
Ele passou a mão pelo cabelo, frustrado. "O que é que queres, Joana? Eu estou aqui agora, não estou?"
"Quero o divórcio."
As palavras saíram firmes e claras.
Ele olhou para mim, chocado. Depois, riu-se. Um riso incrédulo e desdenhoso.
"Divórcio? Estás a brincar? Por causa disto? Vais deitar fora cinco anos de casamento porque eu ajudei uma amiga?"
"Uma amiga? Miguel, não sou estúpida. Sei o que se passa entre vocês os dois."
A sua expressão mudou de desdém para raiva. "Não se passa nada! És paranóica! A Sofia é a minha colega e a minha amiga. Ela precisa de mim!"
"E eu? E o teu filho? Nós não precisamos de ti?"
"Tu és forte, Joana. Tu consegues lidar com as coisas. A Sofia é frágil."
A desculpa de sempre. A justificação para a sua negligência.
"Eu cansei-me de ser forte, Miguel. Cansei-me de ser a segunda opção. Cansei-me de ver o meu filho a ser menos importante que um cão."
"Estás a ser ridícula! Não te vou dar o divórcio. Pensa no Leo! Queres que ele cresça numa família desfeita?"
Ele usou o nosso filho como uma arma, como eu sabia que faria.
"Ele já está a crescer numa família desfeita," respondi. "Uma onde o pai nunca está presente. É melhor ele ter uma mãe feliz do que dois pais infelizes juntos."
A sua cara contorceu-se de fúria. "Tu vais arrepender-te disto, Joana."
Ele virou-se e saiu do quarto, batendo a porta atrás de si.
Ouvi-o a consolar a Sofia no corredor, as suas vozes a afastarem-se.
Olhei para o Leo, que ainda dormia pacificamente.
Não, eu não me ia arrepender. Pela primeira vez em muito tempo, senti que estava a fazer a coisa certa.