O link abriu uma transmissão ao vivo do "Prêmio Revelação de Moda", o concurso mais prestigiado para novos talentos. No palco, uma jovem estagiária de sua empresa, Sofia, sorria para as câmeras. E no corpo da modelo que a acompanhava, estava a obra-prima de Laura. "O Coração da Meia-Noite". Um vestido que ela levou seis meses para criar, cada bordado feito à mão, uma peça que guardava como seu segredo mais precioso, a joia da sua próxima coleção.
O choque inicial congelou Laura. Era impossível. Aquele vestido estava trancado em seu cofre pessoal no ateliê. Como?
A câmera focou em Sofia, que pegou um microfone.
"A verdadeira moda exige coragem" , disse ela, com uma voz falsamente humilde. "Coragem para destruir o velho e criar o novo" .
Então, o horror se materializou. Sofia pegou uma grande tesoura de alfaiate. Diante de centenas de espectadores e das câmeras, ela começou a cortar "O Coração da Meia-Noite". O som do tecido de seda pura sendo rasgado ecoou pelo celular de Laura. Lantejoulas e cristais caíam no chão como lágrimas.
Laura sentiu o ar faltar em seus pulmões. Sua criação, sua alma, estava sendo profanada.
Mas o pior ainda estava por vir. A câmera da transmissão mudou o ângulo, mostrando a primeira fila da plateia. Lá estava João, seu marido, seu parceiro de vida e de negócios. Ele não parecia chocado ou horrorizado. Ele estava sorrindo. Ele ergueu uma taça de champanhe, brindando com um investidor ao seu lado, enquanto assistia à destruição da peça mais valiosa de sua esposa. A traição era tão explícita, tão descarada, que queimou mais fundo do que qualquer corte de tesoura.
Uma fúria gelada substituiu o choque. As mãos de Laura pararam de tremer. Com uma precisão mortal, ela discou o número de João. Demorou a atender. Quando o fez, sua voz estava cheia de uma irritação impaciente.
"Laura? Estou no meio do evento, não posso falar agora. O que foi?"
A voz de Laura era baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma calma assustadora.
"O vestido. O meu vestido" .
Houve uma pausa do outro lado da linha. Então, um suspiro de desdém.
"Ah, isso? Laura, por favor, não seja dramática. É só um vestido. Pense no marketing, na publicidade que isso vai gerar! Sofia está fazendo um nome para si mesma, e isso é bom para a empresa" .
"Você vendeu meu design" , ela afirmou, não perguntou.
A risada dele foi a resposta. Uma risada fria e calculista.
"Negócios são negócios, querida. Você é uma artista, não entende dessas coisas. Supera isso. Ganhamos muito dinheiro hoje" .
O som da chamada sendo encerrada por ele foi o estalo final. O amor, a parceria, os dez anos de casamento, tudo se desfez naquele instante. Restou apenas a vingança.
Laura se levantou. Seus olhos, antes cheios de paixão pela arte, agora brilhavam com uma determinação implacável. Ela caminhou até sua mesa e pegou o telefone novamente, mas desta vez, ligou para sua assistente pessoal.
"Clara, prepare o carro. Agora".
"Senhora Laura? Mas e a sua reunião das cinco horas?"
"Cancele", disse Laura, com a voz cortante. "Cancele tudo. Estou indo para o evento do Prêmio Revelação. E leve as chaves do depósito principal. Temos trabalho a fazer".