Liberdade e Um Beijo Inesperado
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Capítulo 1

A umidade fria da cela ainda parecia impregnada nos meus ossos, mesmo depois de semanas em liberdade, um lembrete constante dos dois meses que passei preso por um crime que não cometi, a fraude fiscal que arruinou meu nome e minha carreira como arquiteto. O verdadeiro culpado era Bruno, o assistente bajulador da minha esposa, Sofia, mas foi o meu nome que ela entregou para salvá-lo, para salvar seu amante.

Eu descobri tudo assim que saí, as peças do quebra-cabeça se encaixando com uma clareza brutal, cada olhar cúmplice entre os dois, cada ausência inexplicada dela, tudo fazia um sentido horrível agora.

E mesmo assim, lá estava eu, no dia do nosso casamento, um evento que ela insistiu em manter, uma farsa espetacular para as aparências, uma celebração de um amor que ela mesma tinha matado.

O salão de festas era luxuoso, decorado com flores brancas e luzes quentes que não conseguiam aquecer o gelo no meu peito. Os convidados sorriam, brindavam, alheios à tragédia que se desenrolava sob a superfície polida. Sofia estava deslumbrante em seu vestido de noiva, um anjo de seda e renda, e seu sorriso era a obra-prima de sua hipocrisia. Ela segurava minha mão, mas seu toque era vazio, uma formalidade para a plateia.

"Você não parece feliz, meu amor", ela sussurrou, o tom falsamente preocupado.

"Estou apenas cansado", menti, forçando um sorriso que não alcançava meus olhos.

Estávamos prestes a cortar o bolo, um monstro de cinco andares que simbolizava a grandiosidade da nossa mentira, quando o celular de Sofia tocou. Ela olhou para a tela e seu rosto se transformou, a máscara de noiva feliz rachando para revelar uma preocupação genuína, uma preocupação que ela nunca demonstrou por mim.

"É o Bruno", ela disse, a voz tensa. "Preciso atender."

Ela se afastou, falando em sussurros urgentes. Observei-a à distância, o corpo rígido, a mão gesticulando. A conversa não durou muito. Quando ela voltou, seu rosto estava pálido.

"Ricardo, eu preciso ir."

"Ir? Ir para onde, Sofia? Estamos no meio da nossa festa de casamento."

"O Bruno... ele não está bem. Ele está ameaçando... fazer uma besteira. Ele precisa de mim."

A desculpa era tão absurda, tão desrespeitosa, que por um momento fiquei sem ar. Ele precisava dela. E eu? Eu, o marido dela, o homem que ela mandou para a prisão, eu não precisava de nada? Fui deixado sozinho no altar da nossa vida, humilhado publicamente.

"Ele não pode esperar? É o nosso casamento."

"Você não entende!", ela sibilou, a irritação vazando por sua voz. "Isso é sério. Eu tenho que ir agora."

E com isso, ela se virou. Sem mais uma palavra, sem um olhar para trás, Sofia, minha noiva, minha esposa, abandonou a própria festa de casamento, deixando-me sozinho no centro do salão, com centenas de olhos curiosos fixos em mim. A humilhação queimava, quente e amarga. Ela correu para o lado de seu amante, deixando claro para mim e para o mundo quem era sua verdadeira prioridade.

Mais tarde naquela noite, ela voltou para o nosso apartamento. Eu estava sentado no escuro, o silêncio pesado como um sudário. Ela acendeu a luz, e a visão dela, ainda no vestido de noiva amassado, era grotesca.

"O Bruno está mais calmo agora", ela anunciou, como se isso explicasse tudo. "Ele fica muito sobrecarregado com o trabalho, a pressão... ele só precisava de alguém para conversar."

Era uma desculpa patética, um insulto à minha inteligência. Mas eu não discuti. Não gritei. A raiva dentro de mim tinha se solidificado em algo mais frio, mais duro. Eu apenas assenti, o rosto impassível.

"Tudo bem, Sofia. Eu entendo."

Ela pareceu aliviada com a minha aparente passividade, talvez acreditando que eu ainda era o mesmo homem ingênuo que ela podia manipular à vontade. Ela não viu a decisão se formando nos meus olhos, a promessa silenciosa de que aquilo não ficaria assim. Enquanto ela se movia pelo apartamento, falando sobre como poderíamos remarcar a lua de mel, eu peguei meu celular discretamente.

Na penumbra da sala, enviei uma única mensagem de texto, um pedido de ajuda para a única pessoa em quem eu sentia que podia confiar.

"Patrícia, sou eu, Ricardo. Preciso de uma advogada. Podemos conversar amanhã?"

A resposta veio quase imediatamente.

"Claro, Ricardo. Meu escritório, às nove. Estou aqui para o que precisar."

Naquele momento, enquanto Sofia falava de um futuro que não existia mais, eu dei o primeiro passo para a minha libertação. A vingança seria um prato servido frio, e eu estava disposto a prepará-lo com a paciência de um homem que já tinha perdido tudo. O casamento era uma farsa, mas o divórcio seria muito, muito real.

            
            

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