Liberdade e Um Beijo Inesperado
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Capítulo 3

A tela do meu celular se iluminou com uma notificação. Era uma mensagem de um número desconhecido, mas eu sabia exatamente quem era. Bruno. Abri a mensagem e meu estômago se revirou. Era uma foto. Sofia, deitada em nossa cama, sorrindo para a câmera, vestindo uma das minhas camisas. Ao lado da foto, uma legenda curta e venenosa.

"Ela disse que você não se importaria. Está ocupado demais tentando ser um arquiteto de novo, não é?"

A provocação era barata, infantil, mas eficaz. Ele não estava apenas se exibindo, estava esfregando na minha cara que ele havia tomado o meu lugar, na minha casa, na minha cama, com a minha esposa. Era um ato de puro sadismo, uma tentativa de me quebrar um pouco mais.

Minha primeira reação foi um impulso de raiva cega. Eu queria responder, xingá-lo, ameaçá-lo. Mas então, a nova versão de mim, forjada na humilhação e na dor, assumiu o controle. Com os dedos firmes, fiz uma captura de tela da mensagem e da foto, enviei para o e-mail seguro que Patrícia havia criado para mim e, em seguida, bloqueei o número de Bruno. Nenhuma resposta. Nenhum confronto. Apenas o silêncio gelado da minha indiferença. A raiva dele se alimentava da minha reação, e eu não lhe daria essa satisfação.

Não demorou muito para o próximo ataque. Menos de uma hora depois, meu celular tocou. Era Sofia. Atendi e fui recebido por uma torrente de fúria.

"Ricardo, que diabos você pensa que está fazendo? Por que você bloqueou o Bruno?"

Sua voz era estridente, cheia de uma indignação que me enojou.

"Eu não quero falar com ele, Sofia. É simples assim."

"Simples assim? Ele está chateado! Ele só estava tentando ser amigável, e você o trata como lixo! Eu não acredito na sua infantilidade. Quero que você o desbloqueie e peça desculpas a ele agora mesmo!"

A audácia dela era de tirar o fôlego. Ela queria que eu pedisse desculpas ao homem que dormia com ela, ao homem que ajudou a me mandar para a cadeia.

"Não", eu disse, a voz calma e firme. "Isso não vai acontecer."

Houve um silêncio chocado do outro lado da linha, seguido por um som abafado. Então, a voz de Bruno, chorosa e manipuladora, soou ao fundo, perto do telefone de Sofia.

"Deixa pra lá, Sofi. Não se estresse por minha causa. Eu já entendi que ele me odeia. Eu só queria que fôssemos uma família..."

Era uma performance patética. Sofia imediatamente começou a consolá-lo.

"Não, meu bem, não fale assim. A culpa não é sua. É o Ricardo que está sendo cruel e insensível. Ele não vê o quanto você sofreu também."

Ela voltou a falar diretamente comigo, a voz agora gotejando veneno.

"Você ouviu isso, Ricardo? Você o magoou. Você é inacreditável. Depois de tudo que ele passou por sua causa, você ainda o trata assim."

"Por minha causa?", repeti, sentindo a bile subir.

"Sim! Ele se sente culpado pelo que aconteceu com você, mesmo a culpa não sendo dele! Ele carrega esse fardo, e você só piora as coisas! Você é um egoísta!"

Desliguei o telefone. Eu não conseguia mais ouvir. A distorção da realidade deles era uma loucura. Eles haviam construído uma narrativa em que eram as vítimas, e eu, o vilão. Era doentio.

Mais tarde, naquela noite, quando cheguei em casa, o clima estava pesado. Sofia mal olhou para mim. Eu ignorei a presença dela e fui direto para o meu computador para verificar meu extrato bancário, uma nova rotina que adotei por pura desconfiança. Meu coração afundou.

Uma transferência de cinquenta mil reais havia sido feita da nossa conta conjunta. O destinatário: Bruno Moraes.

Eu congelei, olhando para os números na tela. Cinquenta mil. Era uma quantia enorme, quase tudo o que tínhamos de economias líquidas. Ela não havia me consultado, não havia me pedido. Ela simplesmente pegou.

Caminhei até a sala de estar, onde ela assistia televisão, fingindo que eu não existia.

"Sofia", eu disse, tentando manter a voz estável. "Cinquenta mil reais foram transferidos da nossa conta para o Bruno. Você pode me explicar o que é isso?"

Ela se virou para mim, o rosto uma máscara de desafio.

"Ah, isso", disse ela, com um descaso calculado. "O Bruno quer dar entrada em um apartamento. Eu o ajudei. Ele merece um lugar para recomeçar."

"Você o ajudou? Com o nosso dinheiro? Com o meu dinheiro?"

"É nosso dinheiro, Ricardo. E eu decidi que ele precisava mais do que nós. Qual é o problema? Você sempre foi tão mesquinho. É só dinheiro."

"Só dinheiro?", a raiva finalmente quebrou minha compostura. "Eu trabalhei duro por cada centavo daquele dinheiro, Sofia! Enquanto eu estava preso, você estava gastando nossas economias com o seu amante?"

Ela se levantou, o rosto contorcido de raiva.

"Não se atreva a chamá-lo assim! Ele é meu amigo, meu apoio! Alguém que esteve ao meu lado enquanto você estava... fora! Ele merece essa ajuda. E se você fosse um homem de verdade, entenderia e apoiaria minha decisão!"

A discussão não levaria a lugar nenhum. Eu sabia disso. Ela viveria em seu mundo de mentiras para sempre. Eu me virei e voltei para o escritório, fechando a porta atrás de mim. Sentei-me na cadeira, a cabeça entre as mãos. A humilhação, a traição financeira, a ousadia deles... era esmagador. Mas em meio à raiva, uma clareza fria se instalou.

Isso não era apenas sobre divórcio e um processo criminal. Era sobre recuperação. Eu precisava recuperar cada centavo que ela me tirou, cada pedaço da minha dignidade. O plano na minha cabeça começou a tomar uma forma mais nítida e mais implacável. Eles achavam que já tinham vencido. Mal sabiam eles que a guerra estava apenas começando.

            
            

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