Liberdade e Um Beijo Inesperado
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Capítulo 2

Voltar ao escritório de arquitetura no dia seguinte foi como entrar em uma arena. O ar estava carregado de sussurros e olhares de soslaio. Alguns colegas me ofereciam uma compaixão superficial que soava mais como pena, enquanto outros mal conseguiam esconder o desprezo em seus rostos. Eu era o arquiteto promissor que caiu em desgraça, o homem que foi preso por fraude. A história do meu casamento abandonado já havia se espalhado como fogo em palha seca, adicionando uma camada de humilhação pessoal ao meu desastre profissional.

"Ricardo, que bom te ver de volta", disse um dos sócios, com um sorriso que não chegava aos olhos. "Espero que você consiga colocar sua vida nos eixos."

A frase pairou no ar, uma mistura de piedade e advertência. Eu apenas assenti, caminhando até minha antiga mesa, que agora parecia um monumento ao meu fracasso.

Enquanto eu fingia organizar alguns papéis, minha mente vagava para o passado, para o início de tudo. Conheci Sofia na faculdade. Eu era o estudante talentoso, apaixonado por design e estruturas, e ela era a estudante de administração ambiciosa, com um charme que desarmava qualquer um. Eu me apaixonei perdidamente. Para mim, ela era tudo.

Depois de formados, abri meu próprio pequeno escritório. Sofia se juntou a mim como gerente de projetos. Eu era o cérebro criativo, ela era a força motriz dos negócios. Ou pelo menos era isso que eu pensava. Eu trabalava noites adentro nos projetos, enquanto ela cuidava dos clientes e das finanças. Eu confiava nela cegamente, entregando-lhe o controle total da parte administrativa. Eu a amava, e meu amor me cegou para a teia que ela estava tecendo ao meu redor.

Foi ela quem insistiu em contratar Bruno. "Ele é jovem, cheio de energia, vai nos ajudar a crescer", ela disse na época. Ele era inexperiente, mas ansioso para agradar, especialmente a ela. Eu não percebi a dinâmica que se formava bem debaixo do meu nariz, a admiração dele se transformando em adoração, e a ambição dela encontrando um peão leal.

O ponto de virada veio com o projeto do Edifício Vértice, nosso maior contrato até então. Era a minha chance de me firmar como um grande arquiteto. Eu me dediquei de corpo e alma àquele projeto. Mas Bruno, sob a supervisão de Sofia, cometeu um erro grave nos relatórios fiscais, um desvio de fundos para cobrir outros buracos que eles haviam criado em projetos menores. Quando a auditoria começou, o pânico se instalou.

Eu me lembro da noite em que Sofia veio até mim, os olhos cheios de lágrimas falsas.

"Ricardo, estamos com um problema enorme", ela disse, a voz trêmula. "Houve um erro nos impostos do Vértice. Um erro grave."

"Como assim, um erro? Você não revisou tudo com o Bruno?", perguntei, a preocupação tomando conta de mim.

"Foi o Bruno", ela confessou, soluçando. "Ele se confundiu, é inexperiente, ele está apavorado. Se descobrirem, a carreira dele acaba antes de começar. Ele é tão jovem, Ricardo. Isso vai destruí-lo."

Ela jogou todo o seu charme manipulador sobre mim, apelando para o meu senso de proteção, para o meu caráter.

"Mas o que podemos fazer?", perguntei, ainda sem entender a profundidade de sua traição.

Foi então que ela proferiu a sentença.

"Você é o dono do escritório, Ricardo. A responsabilidade final é sua. Se você assumir... será um problema, mas você é estabelecido, tem um nome. Você consegue se recuperar. O Bruno, não. Por favor, meu amor. Faça isso por ele. Faça isso por nós."

"Por nós?", repeti, incrédulo.

Ela me abraçou, o corpo tremendo contra o meu. "Sim, por nós. Depois que a poeira baixar, podemos recomeçar, mais fortes. Eu prometo."

Como um tolo, eu acreditei. Acreditei que estava protegendo nossa empresa, nosso futuro, e um jovem assustado. Mal sabia eu que estava protegendo o amante da minha esposa e caindo em uma armadilha armada por ela. A investigação foi rápida. Com Sofia e Bruno apresentando documentos que me incriminavam e com a minha confissão coagida, fui condenado. Dois meses na prisão. Dois meses de inferno que me deram tempo de sobra para pensar, para conectar os pontos, para finalmente enxergar a verdade.

O som do meu celular vibrando me trouxe de volta ao presente. Era uma mensagem de Patrícia.

"Consegui acesso aos arquivos digitais do seu antigo servidor. Encontrei os e-mails trocados entre Sofia e Bruno. Temos tudo. As ordens dela, o pânico dele, a decisão de te incriminar. Está tudo documentado."

Uma onda de alívio e fúria percorreu meu corpo. Alívio por ter a prova de que eu precisava. Fúria por ver a traição deles ali, em preto e branco.

Respondi imediatamente. "Ótimo. Vamos em frente com tudo. Divórcio e processo criminal. Sem piedade."

Minha determinação era de aço. Eles destruíram minha vida, meu nome, minha confiança. Agora, eu iria tomar tudo de volta, pedaço por pedaço. Aquele escritório, aqueles colegas, aquela vida de humilhação... tudo seria deixado para trás. A jornada para reconstruir Ricardo, o arquiteto, o homem, tinha acabado de começar. E desta vez, eu não estava mais cego. Estava com os olhos bem abertos.

            
            

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