Mas a vida de Clara com seu poeta não foi o conto de fadas que ela imaginava. A pobreza era dura, e o charme de Miguel não pagava as contas. Quando ela soube que eu estava grávida do herdeiro do príncipe, o arrependimento e a inveja a consumiram. Ela voltou, usando seu suposto conhecimento médico como desculpa para se aproximar, e o resto foi história.
Desta vez, eu não esperaria que o arrependimento a trouxesse de volta. Eu mesma pavimentaria o caminho para ela.
Lucas era um homem de apetites. Ele era ambicioso, mas também preguiçoso e facilmente distraído por prazeres. Com Lúcia agora em seu escritório, eu tinha uma fonte direta de informação. E as notícias não demoraram a chegar.
"O príncipe parece... inquieto, senhora," Lúcia me informou alguns dias depois, enquanto me servia o café da manhã. "Ele passa muito tempo olhando pela janela, suspirando."
Eu sabia o que aquilo significava. Ele estava entediado.
"Entendo," eu disse calmamente. "Talvez ele precise de mais companhia."
Naquela tarde, fiz algo que a antiga Sofia nunca teria ousado fazer. Pedi ao mordomo uma lista de todos os criados e artistas a serviço da mansão. Entre eles, selecionei dois nomes.
Ricardo, um jovem músico de alaúde, com um rosto bonito e olhos ambiciosos. E Vera, uma dançarina mais velha, conhecida por sua graça e por saber exatamente como agradar um homem.
Chamei os dois à minha presença.
"O príncipe tem trabalhado muito," eu disse a eles, minha voz suave e encorajadora. "Acho que ele se beneficiaria de alguma distração artística. Ricardo, sua música é excepcional. Vera, sua dança é divina. Gostaria que vocês se apresentassem para ele com mais frequência."
Eles trocaram um olhar, entendendo a oportunidade que lhes estava sendo oferecida. Não era apenas uma performance. Era um convite para o harém do príncipe.
"Será uma honra, senhora," disse Ricardo, com uma reverência profunda.
Vera sorriu, um sorriso conhecedor. "Faremos o nosso melhor para... aliviar o fardo de Sua Alteza."
Funcionou mais rápido do que eu esperava. Lucas, faminto por novidades e adulação, rapidamente se encantou com seus novos brinquedos. Lúcia me informava que Ricardo passava horas no escritório tocando seu alaúde, enquanto Vera dançava para o príncipe tarde da noite.
O escritório de Lucas, antes um lugar de tédio, tornou-se um ninho de intrigas e sedução.
Uma semana depois, Lúcia veio me servir o chá da tarde. Ela agora se vestia com sedas melhores e usava um grampo de cabelo de prata que eu sabia que não podia pagar com seu salário normal. Ela estava prosperando.
"Senhora," ela disse, com um novo nível de confiança. "O príncipe está muito satisfeito com os novos arranjos."
"Eu fico feliz em ouvir isso," eu respondi, tomando um gole do chá. "E você, Lúcia? Está se adaptando bem?"
"Sim, senhora. Muito bem."
"Bom," eu disse, colocando a xícara no pires. "Lembre-se, Lúcia, sua posição depende da felicidade do príncipe. E a felicidade dele, por sua vez, me mantém segura. E um príncipe feliz é um príncipe generoso."
Eu peguei uma pulseira de jade da minha caixa de joias e a coloquei em sua mão.
"Continue me mantendo informada."
Os olhos dela brilharam com ganância.
"Sempre, senhora. Sempre."
Com Lucas devidamente distraído por seu crescente harém, a mansão estava um caos de ciúmes e competição. Ricardo e Vera já estavam disputando a atenção do príncipe, tentando superar um ao outro com presentes e demonstrações de afeto.
E eu?
Eu me reclinei em minha cadeira, com a mão sobre a barriga, e observei a tempestade que eu mesma havia criado se formar. Eu estava em paz. Estava segura. Meu filho crescia dentro de mim, protegido pelo caos que eu orquestrava.
Agora, o palco estava montado. Era hora de trazer a atriz principal. Era hora de Clara voltar.