"Pronto, meu amor. Agora você está confortável," ela disse, com um sorriso doce. "Vou buscar um copo d'água para você. Você deve estar com sede."
Ela se inclinou para me beijar. Instintivamente, virei o rosto. O beijo dela acertou minha bochecha. Senti sua pele contra a minha e foi como tocar em algo sujo. Meu corpo inteiro se enrijeceu.
Ela se afastou, uma sombra de irritação passando por seus olhos antes de ser substituída por uma preocupação calculada.
"O que foi, querido? Sua perna está doendo muito?"
[Alvo demonstra resistência ao contato físico. Estratégia de sedução em risco. Nível de afeto simulado deve ser aumentado.]
A náusea subiu pela minha garganta. Ela não estava preocupada com a minha dor. Estava preocupada com a estratégia dela.
"Só estou cansado," menti, a voz rouca.
Ela me observou por um momento, depois forçou outro sorriso. "Claro, claro. Descanse. Eu já volto."
Assim que ela saiu do quarto, as legendas voltaram, mais detalhadas e cruéis do que nunca.
[Cada demonstração de afeto de Isabela, quando aceita por Ricardo, gera +1 ponto de "Charme" para ela e +$10.000 em "Fortuna" para Marcos.]
[A recusa de Ricardo ao beijo resultou em: Charme de Isabela -0.5. Fortuna de Marcos - $5.000.]
Então era isso. Um sistema. Um jogo doentio onde meu amor, minha confiança e até meu sofrimento eram moedas de troca. Minha ruína era literalmente a fortuna deles. A dor na minha perna pareceu intensificar-se, mas era uma dor diferente, vinda de dentro. A humilhação de ser usado como um recurso, um objeto.
[Análise da estratégia de Isabela: Para acelerar a aquisição de bens de Ricardo, ela considerou alegar gravidez e subsequente "aborto espontâneo por estresse" para gerar culpa e facilitar a transferência de propriedades.]
Li a legenda e meu estômago se revirou. Senti um frio que não vinha do ar-condicionado. A mulher com quem eu dormia, com quem eu planejava ter filhos, era capaz de inventar uma vida e uma morte apenas para me manipular. Ela não era humana. Nenhuma delas era.
Isabela voltou com o copo d'água. Seu sorriso era perfeito, seu cuidado era impecável.
"Aqui está, meu amor."
Ela se sentou na beira da cama, perto demais. O cheiro do perfume dela, que eu antes amava, agora me sufocava.
Eu não conseguia mais ficar ali.
Com um gemido de dor que não foi fingido, eu me levantei, usando as muletas que o hospital me deu.
"Onde você vai?" ela perguntou, surpresa.
"Preciso... ir ao banheiro," falei, sem olhar para ela.
Mancando, passei por ela e entrei no banheiro, trancando a porta atrás de mim. O som do clique da fechadura foi o som mais satisfatório que ouvi em dias. Apoiei-me na pia, olhando meu reflexo no espelho. Meu rosto estava pálido, com olheiras profundas. Havia um corte na minha testa, costurado. Eu parecia um estranho.
O homem no espelho era um idiota. Um tolo ingênuo que entregou seu coração e sua vida a monstros.
A raiva começou a borbulhar dentro de mim, quente e violenta. Uma raiva pura contra eles, mas também contra mim mesmo, por ter sido tão cego. Bati o punho na pia de mármore, e uma dor aguda subiu pelo meu braço, mas era bem-vinda. Era real. Era minha.
Diferente do "amor" falso que me cercava.