"Senhor Hudson... sua saúde", começou o médico idoso, fazendo uma pausa antes de assumir uma voz sombria. "Sua paralisia está avançando. Se não conseguirmos impedi-la, a imobilidade permanente será inevitável. A essa altura, sua última chance só pode ser... com a médica lendária, Wraith."
Esse homem era Kristopher Hudson, CEO do Grupo Hudson e líder da poderosa família Hudson.
A linhagem Hudson foi estabelecida há muito tempo e era profundamente influente, envolvida em prestígio e mistério.
Para a elite da cidade, Kristopher não era só um homem poderoso, mas inalcançável.
Com apenas seis anos, ele quebrou a barreira cibernética de uma organização criminosa global, recuperando bilhões em fundos roubados em menos de dez minutos e desmantelando todo o grupo.
Aos dez, já possuía várias patentes nacionais em tecnologia de energia inovadora, o que deu ao Grupo Hudson um controle dominante no setor.
Aos quinze, começou a trabalhar ao lado do pai para levar o império da família ao cenário global, revitalizando um legado em declínio e transformando-o em uma força que chamava a atenção de todo o mundo.
Mas agora, o homem que antes se mostrava imbatível estava confinado a uma cadeira de rodas, paralisado da cintura para baixo após um acidente devastador há três anos.
No entanto, a mobilidade não era mais a única preocupação.
Kristopher ergueu a cabeça, sua voz branda e os olhos frios como gelo ao perguntar: "No meu estado... ainda é possível ter um filho?"
Essa pergunta não foi motivada por soberba ou ego. Sua avó, frágil e à beira do fim, tinha apenas um desejo: ter um bisneto antes de deixar este mundo.
"O que disse?", perguntou o médico, completamente atônito.
...
Dayna não lembrava quanto tempo passara deitada naquela ponte, nem fazia ideia de quem a havia encontrado ou quando a ajuda chegara. Sua memória se resumia a um borrão de fragmentos dispersos, com imagens fugazes que desapareciam como uma névoa.
Contudo, uma lembrança se destacava: um par de olhos frios e indecifráveis - incomuns, mas estranhamente reconhecíveis.
De repente, esse par de olhos se transformou no rosto de Declan, incendiado de ódio, e ela o ouviu gritar.
"Por que você ainda não morreu, Dayna? Quando você estiver fora do caminho, Maddie e eu poderemos ser felizes. Você não vale nada! Morra!"
Não! Ela não podia morrer! Se desistisse agora, seria a vitória que eles tanto desejavam, e todo o empenho de sua mãe durante anos de sacrifício seria entregue a Declan de mãos beijadas.
Ela não permitiria isso. Não nesta vida!
Com uma inalação brusca, Dayna acordou sobressaltada, e a primeira coisa que viu foi um teto branco e estéril que conhecia muito bem.
O cheiro forte de antisséptico a atingiu como um soco. Seu estômago se revirou e ela se curvou, engasgando sem forças para lutar contra a ânsia.
Finalmente voltando a si, ela se sentiu grata por ainda respirar.
"Acordou?" Uma voz serena e profunda chegou aos seus ouvidos, a fazendo congelar instantaneamente, seu corpo todo rígido à medida que o suor molhava suas costas.
Os traços do dono da voz eram marcantes, tão definidos que beiravam a uma beleza atroz.
Porém, não era o rosto dele que a intrigava, e sim seus olhos - gélidos e estáticos, como a superfície de um lago profundo.
Não havia qualquer cordialidade neles, apenas uma ameaça tácita que a deixava cada vez mais apreensiva.
"Kristopher Hudson?", Dayna perguntou em choque.
O que ele estava fazendo aqui?
Ele havia... voltado?
O que estava acontecendo?
O olhar de Kristopher era intenso, a perfurando como uma lâmina.
"Está com medo?" A voz dele ecoou calma e ponderada. "Você não teve medo quando conspirou contra mim no Grupo Foster. É hilário como essa coragem parece ter desaparecido agora."
Com a atmosfera sufocante que emanava desse homem, Dayna sentiu como se tivesse mergulhado em um lago sob uma camada de gelo - sem saída, sem fôlego e com o frio a ponto de congelar seu sangue.
Três anos atrás, o Grupo Hudson e o Grupo Foster se enfrentaram numa batalha corporativa implacável. Naquela época, Dayna havia selado um acordo com Kristopher, prometendo-lhe um projeto de patente crucial.
O homem havia investido milhões, inúmeras horas e uma campanha de marketing antecipada, mas no último momento, ela entregou tudo a Declan. Isso porque ela deixou se levar pelo coração - Declan implorou, e ela não conseguiu dizer não.
Com um único movimento, tudo o que Kristopher investira foi por água abaixo.
Ela lhe pediu desculpas de todas as formas possíveis, já se preparando para as consequências inevitáveis, mas a retaliação nunca veio, e Kristopher simplesmente desapareceu.
Ela pensou que ele devia estar muito ocupado ou com outras prioridades, mas agora, três anos depois, o via bem diante dos seus olhos...
Era isso que ele queria o tempo todo? Vingança?
Não era possível... Se esse fosse o objetivo, ela não estaria viva para se questionar a respeito.
Soltando uma respiração vagarosa, Dayna se estabilizou antes de declarar: "Você foi quem me salvou, certo?"
Em resposta, Kristopher deu uma risada seca e um tapinha na testa. "Olhe só, você não é tão tola quanto parece. Se eu não tivesse passado por aquela ponte e agido, você já estaria morta."
Realmente, ela estava a um passo da morte...
Dayna mordeu o lábio, seus olhos faiscando de raiva. Naquela época, ela se convencera de que entregar o legado de sua mãe a Declan era um gesto de amor, uma prova de confiança que ninguém poderia contestar. Mas agora, essa confiança parecia um veneno corroendo cada parte do seu ser, e era nauseante pensar no quão tola foi ao entregar tudo.
Cansada de ser a estúpida dessa história, ela tomou uma decisão: se quisesse recuperar sua vida, teria que recuperar tudo o que lhe havia sido roubado também.
Uma tosse suave tirou a mulher dos seus pensamentos. Foi só então que ela se virou em direção ao som e se deu conta de que Kristopher ainda estava lá, não de pé e sim sentado em uma cadeira de rodas.
"Você..." Ela o olhava atentamente, chocada com a imagem inesperada.
E então, as peças começaram a se encaixar. "Foi por isso que você desapareceu... três anos atrás..."
"E aí? Vai rir de mim agora?", zombou o homem, seus olhos estreitos.
Ela balançou a cabeça avidamente. "Não, eu não faria isso..."
Sua voz se desvaneceu enquanto ela olhava o homem - ainda imponente, indecifrável e poderoso, mesmo sentado em uma cadeira de rodas.
Em toda a cidade de Arkmery, só havia um homem que poderia rivalizar com o Grupo Foster, e ele estava sentado bem ali.
A mente de Dayna estava a mil, analisando essa situação de todos os ângulos possíveis. Por fim, ela cerrou os punhos lentamente, ergueu o queixo e perguntou com uma voz calma: "Senhor Hudson, por que não fazemos um acordo?"