Dayna ficou imóvel por um momento, sua mão segurando o corrimão da escada para se manter firme. Seu corpo tremia, frágil e exausto, mas sua mente estava mais lúcida do que nunca.
O título de esposa de Declan já não significava mais nada para ela. Qualquer mulher poderia reivindicá-lo à vontade!
O que ela queria não era reconciliação ou redenção, mas ruptura total, um fim nesse relacionamento tóxico.
Seus olhos percorreram a sala de estar lentamente, o espaço familiar impregnado de três anos de memórias - algumas doces, mas a maioria amarga.
Todos os cantos desta casa já haviam presenciado seu silêncio e sacrifícios, além da sua lenta destruição.
Agora era hora de deixar tudo isso para trás. Afinal, apenas museus viviam de passado.
Com uma determinação inabalável, Dayna arrumou sua bolsa, levando apenas documentos essenciais e deixando todo resto para trás sem pensar duas vezes. Então, seguiu para sua mansão privada.
A ironia dessa situação a fez rir, embora não houvesse nenhuma graça.
Declan sempre achava que a persistência dela em continuar nesse relacionamento provinha do Grupo Murray, um império que ele arrancara dela com altivez. Ele estava completamente convicto de que ela não era nada sem ele, que ela estava se prendendo ao seu nome como uma tábua de salvação.
Mas a verdade era que ele não sabia de nada.
Durante todos esses anos, Dayna tinha aberto mão de tudo e feito o papel de esposa dedicada ao lado de um homem que nunca a valorizava, não porque era fraca, mas porque o amava.
Mas, de agora em diante, ela não queria mais saber de amor. Não havia mais espaço para isso em sua vida.
Nas semanas seguintes, o divórcio foi finalizado e, mesmo assim, Declan não levou a sério.
Pensando que isso era só mais uma das artimanhas de Dayna, ele nem sequer olhou para ela no cartório.
Agora, seus dias se resumiam a longas caminhadas matinais e conversas noturnas com sua amada Madison.
Se fosse antes, Dayna teria surtado, implorando e fazendo qualquer coisa para que ele ficasse. Mas agora ela estava do lado de fora do cartório, emanando uma tranquilidade que nem ela esperava.
Sentado na frente dela, estava um homem de camisa branca, relaxado em sua cadeira de rodas. A luz do sol atravessava as árvores e iluminava seu rosto suavemente, fazendo-o parecer menos frio do que o normal.
Dayna arqueou uma sobrancelha em surpresa, sem esperar que Kristopher apareceria, sobretudo antes dela.
Algumas jovens por perto lançavam alguns olhares furtivos para ele, cochichando entre si.
Com os documentos na mão, Dayna respirou fundo e se aproximou, dando um aceno educado. "Bom dia, senhor Hudson."
Os olhos de Kristopher se ergueram e, assim que viu Dayna, seus dedos se apertaram no braço da cadeira ligeiramente.
A expressão dele não revelava nada, mas havia uma ligeira alteração que ela não conseguia interpretar.
Intrigada com a maneira como ele a encarava, ela sentiu um traço de insegurança.
Instintivamente, ela olhou para a própria camisa, se perguntando se havia algo errado. "O quê? Tem algo no meu rosto? Ou nas minhas roupas?"
"Vamos", respondeu Kristopher, desviando o olhar rapidamente.
Enquanto entrava no prédio, ele ainda estava incrédulo de que ela estivesse tão decidida - essa mulher realmente estava seguindo em frente.
Graças às conexões de Kristopher, todo o processo foi rápido, e logo os papéis foram assinados, validados e arquivados. Assim, ele e Dayna estavam legalmente casados.
Quando saíram do cartório, Dayna sentiu uma estranha mistura de alívio e entusiasmo borbulhando dentro de si.
"Senhor Hudson, vamos torcer para que esta parceria corra bem", disse ela, abrindo um sorriso gentil antes de estender a mão para Kristopher.
Porém, com uma expressão calma, ele ignorou o gesto dela e se recostou na cadeira. "Você vai se mudar para minha mansão no centro hoje. Sem atrasos ou enrolações."
Dayna piscou, totalmente confusa com a exigência do homem. Não deveria ser um casamento por conveniência? Então por que eles tinham que morar juntos?
A expressão do homem não se alterou ao continuar: "Não se esqueça do seu papel. Você é a senhora Hudson agora."
Diante dessas palavras, o coração da mulher foi à garganta - essa possessividade lembrava muito a forma como Declan falava.
Seu ex-marido sempre lhe dizia para "saber seu papel", ser uma esposa submissa e nunca exigir demais.
Talvez as famílias ricas fossem assim: frias, rígidas e impossíveis de burlar.
Nesse momento, a voz profunda de Kristopher interrompeu o pensamento dela. "Saiba que não haverá divórcio comigo. Só a morte nos separará. Você se casou comigo, então nem pense em ir embora. A partir de agora, vou te proteger e você não sofrerá mais."
Dayna encarou o homem diante de si, atordoada. Ela não acreditava no que acabara de ouvir.
Por um breve momento, ela sentiu um frio na barriga, involuntário e repentino.
Ciente de que não podia se deixar levar assim, ela logo afastou esse sentimento.
Provavelmente, o que ele disse não passava de palavras vazias e sem significado.
Antes que Dayna pudesse pensar mais nisso, um carro parou na frente deles.
"Entre", Kristopher disse num tom desprovido de qualquer calor, deixando claro que não era um pedido, mas uma ordem.
Insegura, Dayna parou por um momento, mas depois só pôde entrar no carro em silêncio. Não era hora de aborrecer seu novo parceiro de negócios.
Enquanto ela se mantinha focada na paisagem que passava pela janela, os olhos de Kristopher a fitavam. Então, ele tocou no anel que adornava seu dedo anelar, e de repente sua expressão se obscureceu.
Será que ela estava fingindo, ou realmente havia deixado tudo para trás?
Querendo se distrair um pouco, Dayna pegou seu celular, mas foi recebida por uma enxurrada de chamadas perdidas e mensagens furiosas - todas de Declan.
"Dayna, te disse para pedir desculpas à Maddie, e isso já faz quase um mês! Onde você está?!"
"Atenda às minhas ligações! Não me faça perder a cabeça!"
Os olhos de Dayna se iluminaram com sarcasmo enquanto ela bloqueava o número de Declan e apagava o registro de chamadas.
Sentado ao lado dela, Kristopher captou tudo com um único olhar. Seus olhos se estreitaram, e um sorriso sutil e consciente se esboçou no seu rosto.
Quando ele estava prestes a dizer algo, o celular dela se iluminou com outra chamada. Desta vez, não havia nome, apenas um número.
Mas no momento em que Kristopher o notou, ficou completamente congelado. Ele se lembrava muito bem desse número... Na verdade, ele tinha uma memória de gênio - bastava uma única olhada e ele nunca mais esquecia o conteúdo.
O número que ligava pertencia a Nell Mason, agente de Wraith.
E essa mulher sentada ao seu lado tinha um conhecimento que a maioria dos médicos qualificados invejaria - pois ela trouxe sensibilidade às suas pernas.
Será que era ela mesmo? Dayna poderia ser... Wraith?