Sofia o ignorou por um momento, seus olhos fixos em Mariana, a assistente que ela mesma havia ajudado a contratar, a quem ela havia oferecido conselhos e apoio.
Então, ela se virou para Pedro, sua voz era perigosamente calma.
"O que eu acabei de ver, Pedro?"
Ele riu, um som áspero e desagradável.
"Ver o quê? Você está me espionando agora? Que tipo de ciúme doentio é esse? Eu não posso nem conversar com minha própria assistente?"
A acusação a atingiu, a audácia dele em virar a situação contra ela, em tentar fazê-la parecer a louca.
"Ciúme?" , ela repetiu, a palavra soando absurda em seus lábios, "Isto é a minha galeria, Pedro, eu estou trabalhando, você que me interrompeu e veio para este canto com ela."
A lógica fria em sua voz pareceu desarmá-lo por um segundo, ele gaguejou, procurando uma resposta.
"Eu... eu só estava mostrando a ela minha escultura."
Nesse momento, o Senhor Almeida, sentindo a tensão insuportável, aproximou-se cautelosamente.
"Senhorita Sofia, talvez seja melhor resolvermos isso em particular" , ele sugeriu, com um tom apaziguador.
Foi o gatilho que Mariana precisava, sentindo-se encurralada, ela atacou o alvo mais fácil.
"E quem é você para se meter nos nossos assuntos?" , ela cuspiu para o Senhor Almeida, sua voz cheia de veneno.
O choque no rosto do colecionador foi evidente, ele, um dos homens mais influentes da cidade, sendo tratado com tanto desrespeito por uma assistente novata.
O rosto de Sofia ficou pálido de fúria, isso ia além da traição pessoal, era um ataque direto ao seu negócio, à sua reputação.
Mariana, percebendo o erro que cometeu ou talvez não se importando, agarrou o braço de Pedro, adotando o papel de protetora.
"Não ligue para eles, Pedro" , ela sussurrou, alto o suficiente para que Sofia ouvisse, "Ela está com inveja do seu talento, sempre esteve, ela quer te controlar, te humilhar na frente de todos."
As palavras eram venenosas, calculadas para explorar as inseguranças de Pedro e pintá-la como a vilã.
Pedro, com a mente turva pelo álcool e pelo ego ferido, mordeu a isca.
Ele se virou para Sofia, seus olhos cheios de uma raiva justa e equivocada.
"É isso, não é? Você não suporta que eu possa ter sucesso por conta própria! Você sempre tem que ser o centro das atenções, a grande Sofia, herdeira de tudo!"
O barulho ao redor deles diminuiu, as pessoas começaram a notar a cena, os sussurros começaram a se espalhar pela galeria.
A humilhação era pública agora.
Mas algo dentro de Sofia mudou, a dor inicial da traição estava sendo substituída por uma fúria fria e clara, ela não era uma vítima, ela era a dona daquele lugar, a força motriz por trás de tudo.
Ela olhou para Pedro, o homem que ela amava, ou pensava que amava, e viu apenas um garoto mimado e fraco, se escondendo atrás de acusações e da saia de sua assistente.
Ela olhou para Mariana, a jovem que ela tentou ajudar, e viu apenas uma víbora ambiciosa, disposta a destruir qualquer coisa para subir.
E ela olhou para o Senhor Almeida, seu potencial parceiro, seu convidado de honra, que estava sendo insultado em sua própria casa.
A decisão se formou em sua mente, não haveria mais discussões, não haveria mais tentativas de entender.
Haveria apenas consequências.
Seu corpo ficou rígido, sua postura mudou de defensiva para ofensiva, ela ergueu o queixo, seus olhos escuros faiscando com uma determinação de aço.
Ela ia acabar com aquilo, ali e agora.