Imagens de seu relacionamento com Pedro passaram por sua mente, não os momentos ruins, mas os bons, o início, quando ele era um artista esforçado cheio de sonhos, e ela, recém-saída da dor de perder o pai, viu nele uma paixão pela arte que espelhava a sua.
Ela o apoiou incondicionalmente, usou suas economias e parte da herança para alugar um estúdio para ele, comprou seus materiais, usou seus contatos para apresentá-lo a pessoas influentes.
Ela acreditava nele, ela o amava.
E ele a recompensou com isso, uma traição barata e humilhante com uma assistente ambiciosa em sua própria galeria.
A porta do escritório se abriu de repente, e Pedro entrou, seu rosto estava vermelho, uma mistura de raiva e confusão.
"Nós precisamos conversar" , ele disse, fechando a porta atrás de si.
"Não, não precisamos" , respondeu Sofia, sua voz sem emoção, "Acho que tudo já foi dito."
"Sofia, por favor, eu estava bêbado, eu não sei o que aconteceu lá fora..."
"Você sabe exatamente o que aconteceu, Pedro, eu vi você, eu vi vocês dois."
Ele passou as mãos pelo cabelo em um gesto de frustração.
"Não foi nada! Foi só... uma bobagem, Mariana é só... ela é grudenta, você sabe como ela é."
A tentativa patética de culpar Mariana a enojou.
"Pedro, pare."
"Não! Eu não vou parar! Você está exagerando! Você sempre faz isso, transforma tudo em um drama!" , ele gritou, sua voz ecoando na pequena sala.
Sofia o encarou, uma calma mortal se instalando sobre ela.
"Você quer saber o que eu penso sobre isso, Pedro?" , ela perguntou, sua voz baixa e controlada, "Eu penso que é como encontrar um rato na sua cozinha, você não tenta conversar com o rato, você não tenta entender por que ele está lá, você não discute com a barata que ele trouxe com ele."
O rosto de Pedro se contorceu em confusão e nojo.
"O quê? Do que você está falando?"
"Você simplesmente se livra deles" , continuou Sofia, seus olhos nunca deixando os dele, "Você chama o exterminador, você limpa a casa, você joga fora qualquer comida que eles possam ter tocado, porque a casa está contaminada, e você não pode viver em um lugar sujo."
O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado com o peso da metáfora brutal dela, Pedro finalmente entendeu.
Ele era o rato, Mariana era a barata.
A percepção o atingiu como um soco, a raiva em seu rosto deu lugar a um pânico crescente.
"Sofia... não... não diga isso" , ele sussurrou, dando um passo em sua direção.
Ele estendeu a mão para tocar seu braço, um gesto que já a havia confortado inúmeras vezes antes.
Mas desta vez, Sofia recuou como se ele estivesse em chamas, o toque dele era repulsivo.
"Não me toque" , ela disse, sua voz afiada como vidro quebrado.
Ver a repulsa genuína em seus olhos o quebrou, ele parecia um menino perdido.
"Sofia, eu te amo" , ele disse, as palavras soando desesperadas e vazias.
Sofia olhou para ele, o homem que ela pensava conhecer, e não sentiu nada além de um vazio gelado.
"Não, você não ama" , ela respondeu com uma certeza absoluta, "Você ama o que eu te proporciono, a galeria, o estúdio, o dinheiro, o acesso, você se ama, Pedro, e só."
Ela caminhou até sua mesa, pegou uma caneta e um pedaço de papel.
"Eu quero o divórcio."
A palavra pairou no ar entre eles, final e irrevogável, embora não fossem casados, a palavra "divórcio" carregava o peso da separação total que ela queria.
"Acabou, Pedro" , ela disse, sua voz firme, sem um pingo de hesitação, "Pegue suas coisas e saia da minha galeria, e saia da minha casa."
Ela se virou, dispensando-o, e pegou o telefone para ligar para seu advogado.
A conversa, para ela, estava encerrada.