Fuga do Passado Amargo
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Capítulo 2

Mal saí do restaurante e senti uma mão agarrar meu braço com força, me puxando para um canto escuro do estacionamento.

Era Lucas. Seus olhos queimavam de raiva.

"Que porra foi aquela lá dentro?", ele rosnou, o rosto a centímetros do meu. "Que história é essa de namorado?"

Eu tentei puxar meu braço, mas seu aperto era de ferro.

"Me solta, Lucas. Não te devo satisfação."

"Você me deve, sim!", ele apertou mais forte. "Você me humilhou na frente dos meus pais. Quem você pensa que é?"

A dor no meu braço misturou-se com o pânico. Sua agressividade era assustadora.

"Eu não sou nada sua! Nunca fui!", gritei, a voz trêmula.

Uma voz arrastada soou atrás de nós.

"Ora, ora. O que temos aqui? A princesinha mostrando as garras?"

Bruno, o segundo do trio, se aproximou com um sorriso debochado. Ele encostou-se em um carro de luxo, cruzando os braços.

"Deixa ela, Lucas. Ela só está fazendo um teatrinho. Precisa manter as aparências agora que não tem mais nada. Deve estar desesperada para arrumar alguém que pague as contas dela."

Cada palavra era um golpe. Eles falavam de mim como se eu não estivesse ali, como se eu fosse um objeto sem valor que eles podiam chutar e descartar. A lembrança de anos de risadas, de segredos compartilhados, de festas e viagens, tudo parecia uma farsa agora.

Eu sempre soube que não pertencia totalmente ao mundo deles, que o dinheiro da minha família era novo demais, nosso status, frágil demais. Mas eu me esforcei. Eu aprendi a rir das piadas certas, a usar as roupas certas, a frequentar os lugares certos. Tudo para ser aceita. E para quê? Para isso. Para ser tratada como lixo no momento em que a fachada de riqueza desmoronou.

Eu era um acessório. Um acessório que eles gostavam de exibir, mas que nunca consideraram de verdade um deles.

"Qual é o nome dele?", Lucas insistiu, me sacudindo levemente. "Me diz o nome do seu namoradinho de mentira."

Eu cerrei os dentes, recusando-me a responder.

De repente, outra voz, mais calma, se fez ouvir.

"Vocês dois, já chega."

Pedro. O terceiro do grupo. Ele se aproximou, o olhar preocupado. Ele era sempre o mais quieto, o mais observador.

"Deixem ela em paz."

Bruno riu. "Olha só, o cavalheiro chegou. Sempre defendendo a Sofia. Qual é o seu problema, Pedro? Ainda está apaixonado por ela?"

Pedro ignorou o comentário de Bruno e olhou para mim.

"Sofia, você está bem?"

Sua pergunta, aparentemente normal, pareceu um fósforo jogado na gasolina.

Lucas me soltou abruptamente e se virou para Pedro, empurrando-o.

"Apaixonado? Você é um idiota, Pedro. Você esqueceu quem ela é? Ou preciso te lembrar o que aconteceu naquela festa na casa de praia?"

Meu sangue gelou. A casa de praia. Há dois anos. Uma noite de verão, muita bebida e uma decisão estúpida.

Pedro ficou tenso, o rosto fechado. "Isso não tem nada a ver com a situação, Lucas."

"Não tem nada a ver?", Lucas riu, um som feio e cruel. "Claro que tem. Você foi o primeiro de nós a 'ter' a preciosa Sofia. Ou você achou que a gente não sabia que vocês dois passaram a noite juntos?"

O ar saiu dos meus pulmões. O segredo que eu e Pedro guardamos por dois anos, exposto ali, no estacionamento escuro, como uma arma para me ferir ainda mais.

Eu olhei para Pedro, esperando que ele negasse, que ele me defendesse. Mas ele apenas desviou o olhar, o rosto contraído em uma expressão de culpa e vergonha.

Naquele momento, eu entendi tudo. Não era só Lucas e Bruno. Era ele também. Eles eram um grupo, uma unidade. E eu sempre estive do lado de fora.

A humilhação de alguns minutos atrás no restaurante não era nada comparada a isso. Aquilo era uma rejeição social. Isto era uma traição pessoal, profunda e devastadora.

            
            

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