Fuga do Passado Amargo
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Capítulo 4

Os dias que se seguiram ao sequestro foram um borrão. Eu mal saía do meu quarto. O medo, a humilhação, o toque daquele homem... tudo voltava em flashes, me deixando sem ar. Eu não conseguia dormir, não conseguia comer. Eu estava quebrada.

Pedro não saiu do meu lado.

Ele trazia comida para mim, mesmo quando eu recusava. Ele se sentava em silêncio no meu quarto por horas, apenas para que eu não ficasse sozinha. Ele conversava com meus pais, tranquilizando-os, lidando com a polícia. Ele se tornou a minha âncora em um mar de caos.

Ele nunca mencionou Lucas ou Bruno. Nunca mencionou a noite da festa na casa de praia. Ele agia como se nada daquilo tivesse acontecido, como se sua única preocupação no mundo fosse o meu bem-estar.

E eu, na minha fragilidade, me agarrei a isso. Eu precisava acreditar que sua preocupação era genuína.

Uma tarde, ele estava sentado na poltrona do meu quarto enquanto eu olhava fixamente para a parede.

"Por que você está fazendo isso, Pedro?", perguntei, a voz fraca.

Ele me olhou, parecendo confuso. "Fazendo o quê?"

"Isso. Cuidando de mim. Depois de tudo... por quê?"

Ele se levantou e se ajoelhou ao lado da minha cama. Ele pegou minha mão, e seu toque era gentil.

"Porque eu me importo com você, Sofia. Eu sempre me importei."

Seus olhos eram sinceros. Ou pareciam sinceros. Eu queria tanto acreditar nele.

"Eu fui um covarde no estacionamento", ele continuou, a voz baixa. "Eu deveria ter te defendido. Eu sinto muito. Eu nunca vou me perdoar por ter ficado quieto enquanto eles te machucavam."

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Ele a enxugou com o polegar.

"Deixe-me consertar as coisas, Sofia. Deixe-me cuidar de você."

Naquele momento, vulnerável e desesperada por qualquer tipo de afeto, eu cedi. Eu assenti, e um pequeno sorriso apareceu no rosto dele.

Nas semanas seguintes, ele me tirou da escuridão. Ele me convenceu a sair de casa, a dar uma caminhada no parque. Ele me levou para tomar um sorvete. Pequenas coisas normais que pareciam impossíveis antes.

Ele me fazia rir. Ele me lembrava de quem eu era antes de tudo desmoronar.

E então, em uma noite estrelada, sentados em um banco de praça, ele se virou para mim.

"Sofia", ele começou, a voz um pouco nervosa. "Eu sei que o momento é complicado, e você passou por muita coisa. Mas eu não consigo mais esconder o que eu sinto."

Meu coração acelerou.

"Eu estou apaixonado por você. Acho que sempre estive, desde aquela noite na casa de praia. E eu quero tentar. De verdade. Você... você quer ser minha namorada?"

Era tudo o que eu queria ouvir. Era a validação que eu precisava. Era a prova de que alguém me via, me queria, não pelo meu dinheiro ou status, mas por quem eu era.

Eu sorri, um sorriso genuíno pela primeira vez em muito tempo.

"Sim, Pedro. Eu quero."

O beijo que se seguiu foi doce e cheio de promessas. Eu me senti segura, amada. Eu senti que, finalmente, as coisas iriam melhorar. Eu tinha Pedro. Nós tínhamos um ao outro.

Os meses seguintes foram os mais felizes da minha vida. Pedro era o namorado perfeito. Atencioso, carinhoso, protetor. Ele me ajudou a voltar para a faculdade, me incentivou nos estudos. Ele era meu porto seguro. Eu estava completamente apaixonada, cega pela falsa sensação de felicidade e segurança que ele me proporcionava. Eu comecei a sonhar com um futuro com ele, longe de todo o drama e da dor do passado.

A queda foi tão rápida quanto a ascensão.

Eu estava na biblioteca da faculdade, esperando por Pedro, quando ouvi as vozes deles vindo de um corredor próximo. Lucas e Bruno.

"Eu não acredito que ele conseguiu", dizia Bruno, rindo. "Ele realmente fez a Sofia se apaixonar por ele."

"O Pedro sempre foi bom nesse joguinho de bom moço", respondeu Lucas, com desdém. "Mas a aposta era clara. Três meses. Ele tinha três meses para fazer ela se tornar namorada dele e dizer que o amava. E o prazo acaba hoje."

Meu sangue congelou nas veias. Aposta?

"Ele vai mesmo terminar com ela hoje à noite?", perguntou Bruno. "Depois de todo esse teatro? É meio cruel, até para nós."

"Uma aposta é uma aposta", disse Lucas. "E eu quero meu carro novo. Ele conseguiu o que queria, provou seu ponto. Agora é hora de pagar e seguir em frente. Ela é só a Sofia, afinal. Supera."

Eu me encostei na estante, as pernas bambas, a cabeça girando.

Não. Não podia ser.

O resgate. O cuidado. As declarações. O namoro.

Tudo.

Uma aposta.

                         

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